• O Som Por Trás da Neblina: documentário conta a história do rock petropolitano

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  • 24/07/2019 13:10

    Considerada um dos berços do Rock n’ Roll do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis é conhecida por possuir um âmbito cultural bastante influente – no que diz respeito à manifestações artísticas, exposições de arte, teatro, cinema e, claro, música. Espelhando-se nessa reputação, o jornalista e professor Roberto Oto está produzindo um filme documentário que buscará contar a história do gênero do rock na cidade. O longa-metragem, intitulado “O Som Por Trás da Neblina” começou a ser produzido em 2014, mas teve que ser paralisado em 2017 por falta de recursos. Agora retomado, a previsão é que a obra seja lançada até março de 2020.

    O filme abordará a maneira como se iniciaram as primeiras bandas de rock da cidade, no final dos anos 1960, e como tal influência ainda existe nos dias de hoje. Principalmente por meio de entrevistas, o documentário pretende mostrar o quanto a história do rock em Petrópolis é interessante mas, ao mesmo tempo, desconhecida. “Petrópolis é conhecida por ser a Cidade Imperial, pelo patrimônio histórico, pelo patrimônio natural, mas dificilmente se associa Petrópolis ao Rock n’ Roll. O título do filme foi inspirado justamente nessa condição de ser algo que existe – um fenômeno cultural, uma expressão artística – mas que, na verdade, está meio ‘escondido’ ao mesmo tempo, e que poucas pessoas sabem que existe, inclusive os próprios petropolitanos”, contou Oto.

    Integrantes das bandas Metamorfose e Big Explosion Company 1914. (Foto: Divulgação)

    Até o momento, mais de cinquenta entrevistas foram gravadas com dezenas de bandas locais e colaboradores culturais. Além disso, foi divulgado recentemente um teaser do filme no YouTube. “Estamos entrevistando não apenas músicos, mas também pessoas que foram ou ainda são importantes para essa história, como donos de lojas de discos, radialistas, donos de bares, organizadores de eventos e até entusiastas da música”, destacou o diretor. Além de Roberto Oto, o documentário possui direção de fotografia de Gregori Bastos e produção de Erika Vogel.

    O diretor acredita que esse tipo de história sobre a cidade deve ser contada para que chegue ao conhecimento do máximo de pessoas possível. “Esses personagens e esses registros valorizam a cidade no que tange o âmbito cultural e turístico. Ao disseminá-lo, neste caso em forma de filme, o público passa a conhecer características e aspectos da cidade que não são publicamente conhecidos. Entre músicos, organizadores, donos de lojas de disco e até radialistas da própria Rádio Tribuna na época, vamos tentando costurar essa história para contá-la da maneira mais clara e atraente possível”, relatou Oto.

    Ideia surgiu a partir de uma crítica

    No ano de 2004, quando Oto ainda era aluno do curso de Jornalismo da Universidade Estácio de Sá, um professor da época pediu para que todos os alunos produzissem uma reportagem com um tema livre, e o tema escolhido por ele, na ocasião, foi justamente o cenário do rock em Petrópolis.

    Integrantes da banda Bloodsucker. (Divulgação)

    “Eu entrevistei o músico Ronaldo Kronemberg, que é pai do meu professor de guitarra da época, o Gargamel – que é bastante renomado na cidade. Fiquei impressionado com as histórias que ele contou sobre bandas dos anos 1960: desde formações de bandas em garagens pequenas até shows antológicos no mecanizado do Quitandinha nos 1970. Enfim, eu percebi ali que havia realmente uma história muito rica e interessante que merecia ser explorada”, relatou. Ao apresentar a reportagem ao professor, Oto recebeu uma crítica do professor, que na época afirmou que o texto estava excelente, mas que o título ‘Petrópolis: Cidade do Rock’ era exagerado. Segundo ele, esta foi a centelha para a idealização da película. 

    Os valores da cena local

    A história do gênero em Petrópolis é bastante rica, não só pela quantidade de bandas que surgiram e que ainda surgem na cidade, mas também pela qualidade do som que elas apresentam. Entre os músicos locais, Petrópolis é conhecida como “Seattle Imperial”, em alusão à cidade norte-americana que, nos anos 90, foi o berço de dezenas de bandas que se lançaram ao mainstream e ficaram por anos no topo das paradas de sucesso nos EUA. Apenas para citar algumas como exemplo, bandas como Pearl Jam, Foo Fighters, Soundgarden e Alice in Chains estão entre elas. Apesar de possuir a reputação de “Cidade Imperial” e possuir uma influência de turismo clássico, é curioso como a cena do Rock na cidade é significativamente forte. “Acredito que, por conter certos ares conservadores, e por ser uma cidade com clima bem atípico e que, no geral, não oferece muito de entretenimento para os jovens, é este espírito ‘livre e rebelde’ do rock que acabava motivando a garotada a se juntar e fazer uma banda. Nos anos 60 e 70 a gente ia para a garagem, mas hoje uma banda pode surgir em qualquer quarto de uma casinha”, afirma um dos músicos entrevistados para o filme.

    Mesmo sem apoio da prefeitura, o Solstício do Som, que é um festival multicultural que busca ocupar os espaços públicos da cidade para promover apresentações gratuitas de músicos locais, ainda é considerado uma das principais vitrines para os artistas de Petrópolis. “O Solstício representa a esperança, tanto pro festival em si quanto pra cultura da cidade. O festival acontecia duas vezes por ano, mas nos últimos três anos tivemos extremas dificuldades em viabilizar sua realização. Nosso grande objetivo (e sonho) é voltar a ter essa regularidade, de forma que seja a mais acessível ao máximo de pessoas possível” declarou João Felipe Verleun, idealizador e um dos organizadores do evento.

    É possível contribuir com o documentário

    Quem quiser colaborar com a produção do filme “O Som Por Trás da Neblina” e possuir registros desta época, como fotos, vídeos e quaisquer outros registros de bandas, pode entrar em contato com o diretor Roberto Oto para que apareçam no filme. Os interessados podem tirar dúvidas através do e-mail roberto.oto.81@gmail.com.

    Leis incentivam artistas locais

    A Lei Prata da Casa (lei municipal nº 7.560 de outubro de 2017), de autoria do vereador Jamil Sabrá (PDT), obriga a prefeitura a contratar grupos, bandas, cantores ou instrumentistas locais para abertura de eventos financiados pelo poder público local. No mesmo ano, a Lei Municipal 7.807, do mesmo autor, complementa esta, definindo critérios para os artistas: os artistas devem ser residentes no município de Petrópolis, e no caso de pluralidade de componentes, poderá participar aquela coletividade que contemple a maioria de integrantes que no município tenha sua residência.

    A lei, que foi regulamentada por decreto, valoriza a produção cultural local e mapeia os artistas e instituições artísticas presentes no município. “A aprovação desta lei possibilita ao artista local o acesso aos organizadores de eventos em Petrópolis. O poder público deve ser fomentador, e o setor de cultura deve abrir espaços para novos talentos e novos artistas. É importante salientar que a população tenha conhecimento de todo desenvolvimento cultural que existe no município” disse o autor da lei, Jamil Sabrá.

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