• O romancista Cornélio Pena

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  • 07/02/2020 14:48

    Nascido em Petrópolis (26 /fevereiro /1896), Cornélio Pena passou a infância em Itabira, MG. Formou-se em Direito em São Paulo (1919) e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a vida de jornalista (1920) e fez exposições de suas pinturas, entrando para a Sociedade Brasileira de Belas-Artes (1929). Foi funcionário do Ministério da Justiça desde 1927 e, desde 1930, dedicou-se exclusivamente à literatura. 

    Publicou seu primeiro romance, Fronteira (1935), saudado como um trajeto novo na moderna ficção brasileira, um rumo introspectivo que se opunha ao regionalismo nordestino então em voga. Tal opinião foi reforçada nos romances seguintes: Dois romances de Nico Horta (1939), Repouso (1948) e A menina morta (1954). O escritor faleceu no Rio de Janeiro (1958). O que reforça o tom de originalidade de sua obra é a sugestão de fantasmagoria, de espaços habitados por sombras e objetos antigos, especialmente em Fronteira. 

    Tanto que Mário de Andrade chamou de “Romances de antiquário” (in: O empalhador de passarinho, 1955, p. 121-124), referindo-se também a Dois romances de Nico Horta. De fato, a atmosfera desses dois livros sugere uma vaguidão onde, embora tenda à análise de estados íntimos, o que predomina é mais uma falta de estruturação dos enredos. Já bem mais estruturados, conquanto permaneça a atmosfera vaga e sombria no entrecho, Repouso e, principalmente, A menina morta, são romances muito superiores. 

    Em Repouso, a introspecção, além de adensar-se, funde-se ao próprio retrato e às noções dos personagens (sobretudo em Dodôte, a protagonista), criando um clima obsessivo; em A menina morta, as digressões subjetivas se amiúdam e se condensam na mesma atmosfera de chumbo. A menina morta é a obra-prima do autor, por se tratar de um romance de atmosfera plenamente realizado que é, ao mesmo tempo, muito bem coeso e verossímil, adjetivos não existentes – ou mal existentes – nos livros anteriores. 

    De todo modo, o conjunto de seus romances apresenta uma homogeneidade bastante característica. A bibliografia de Cornélio Pena compreende, ainda, uma edição de seus Romances completos (Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, 1390p.). Afora os romances já editados, o volume traz fragmentos do romance Alma branca, que o autor deixou inacabado. Ademais, insere na “Introdução geral”, o ensaio ‘Os romances da humildade’, de Adonias Filho, o longo artigo ‘A vida misteriosa do romancista Cornélio Pena’, de Ledo Ivo, além do estudo de Mário de Andrade, acima referido, e notas de Sérgio Milliet, Augusto Frederico Schmidt e Murilo Araújo. Reproduz também pinturas e desenhos do escritor. Edição valiosa. 

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