• O Quinze

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  • 11/01/2016 09:00



    Umaemissora de televisão de grande audiência fez várias chamadas paraa série de reportagem que foi exibida no seu principal telejornal,tendo como base o livro “O Quinze”, de Rachel de Queiroz. Oassunto me interessou e programei-me para assistir a taisreportagens. Não resta dúvida que a iniciativa foi ótima,principalmente, porque fez uma comparação entre 1915 e 2015. Ficouevidente que, nesse período de cem anos, ocorreram poucas mudançasnessa região conhecida como “polígono da seca”. Refizeram acaminhada do personagem Chico Bento, ressaltando a migração quehouve no Ceará, diante da torturante seca que ficou conhecida como ade 15.  Inegavelmente esta seca foi trágica. Porém, pior do queessa foi a de 1877. Foram registradas mais de quinhentas mil mortes.Fato que comoveu o Imperador Dom Pedro II. Há relatos de que eletenha dito que venderia “até a última joia da coroa” paraamenizar o sofrimento do povo. Criou-se, na época, uma comissãoespecífica para estudar esse problema.

    Em1932, outra seca castigou o povo nordestino. Esta foi assim descritanos versos do poema “Campos de Concentração no Ceará” deHenrique César Pinheiro:

    NoEstado do Ceará/ A exemplo do alemão/ Houve por aqui também/ Campode concentração/ Lá era pra matar judeu/ Aqui o povo do sertão./Na seca de trinta e dois/ Criamos uns sete currais/ Para evitar quefamintos/ Criassem problemas sociais/ E pudessem invadir/ Na capitalseus mananciais./ Currais foram construídos/ Em Senador Pompeu,Ipu,/ Quixeramobim e Crato,/  Fortaleza e Cariús./ Fortaleza tevedois/ Otávio Bonfim, Pirambu./ Pessoas foram confinadas/  Como bandode animais./ Tinha a cabeça raspada/ Sacos de açúcar, jornais/ Erao que lhes serviam/  como vestes mais usuais/ Sem nome, ouidentidade,/ Chamados por numerais./ Desta maneira estavam/Registrados nos anais./ Só se comia farinha,/ Rapadura nos currais./Toda essa gente foi presa/ Sem ter crime praticado/ E para istobastava/ Somente estar esfomeado./ Pedir prato de comido/ Que serialogo enjaulado./ E controlados por senhas,/ Pelas forças policiais./Quem entrava não saía,/ Senão pros seus funerais./ Sessenta mil lámorreram./ Nos registros oficiais.”

    Éválido dizer que a questão da seca consiste em um problema crônicona região Nordeste. O Padre Fernão Cardim, no período entre 1583 a1585, fizera o seguinte relato: "…uma grande seca eesterilidade na província e que 5 mil índios foram obrigados afugir do sertão pela fome, socorrendo-se aos brancos". 

    Afalta de chuva é um fenômeno climático, que sempre marcou essaregião. Porém ainda não houve governante com competência políticacapaz de resolver tal problema. A expressão “indústria da seca”foi criada para designar o enriquecimento ilícito de pessoas quelucram com a miséria do povo nordestino.  Verbas destinadas aprojetos de frente de trabalho para conter as consequências da secaforam desviadas.  Países com volume de chuva menor que o nosso nãosofre com problema tão sério como esse. Veja o caso do Estado deSão Paulo: com volume de chuva tão grande, mesmo assim luta contraa escassez de água. Imagine a região nordestina, onde o volume dechuva é menor.

    Paramim, o mérito da reportagem está no fato de chamar a atenção daspessoas para uma situação que se repete a séculos e que jápoderia ter sido resolvida, caso houvesse um trabalho maiscomprometido com a criação de recursos para manter de forma digna onordestino em sua terra.  E assim seriam evitados outros problemasrelacionados ao êxodo rural.

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