• O outro em nossa sala de aula

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  • 05/09/2017 12:50

     A cada dia aprendo mais com professores e alunos, porém de modo geral constato que a maioria não se preocupa com fenômenos que surgem sob seus olhos em sua sala de aula. Muitos até mesmo afirmam que não compete a suas funções, isentando-se de maiores responsabilidades, porém enganam-se. Diferenças ocorrem entre um professor e um educador ou mesmo quando deixa de ser um para tornar-se o outro, fato verificado desde a formação onde teorias não observam o cotidiano de uma sala nas licenciaturas, benefícios que chegam com a experiência do exercício por anos e décadas.

    Há bem poucos meses a curiosidade com uma bela narrativa me estimulou a investigação, uma professora de escola de periferia, extremamente diferente dos demais por seu compromisso de sala de aula, onde a preocupação com o outro era o mote. Constato que havia um “outro” que se encontrava invisível em sua sala, mas transformado em vitima dos companheiros, sempre em silêncio. Não fosse por sua estatura, seria extremamente invisível ao cotidiano pedagógico. Acusava um quadro de leve deficiência para idade e estatura, sendo talvez o conjunto destes fatores que o levaram a ser vítima de bulling.

    A professora por sua descrição, aproveitou a oportunidade para passar um filme para seus alunos logo após comentarem. Na maioria das vezes filmes exibidos em escolas brasileiras são descompromissados com a necessidade extracurricular ou curricular, também não se preocupam em demonstrar essências de cidadania ou questões ético-morais, porém alguns professores providos de sensibilidade conseguem contornar estes obstáculos ou deficiências aproveitando a oportunidade para reeducar a sensibilidade de alunos que deveria acompanhar a criança desde o “berço”.

    O filme apresentado trazia oportunamente a questão da “solidão” das "pessoas diferentes" concentradas na imagem de um gigante. “O Bom Gigante Amigo”, dirigido por Steven Spielberg, fonte inesgotável de vários personagens de imensa significação. Neste longa o enredo com imagens fascinantes apresentava a amizade entre uma órfã e um gigante de bom coração, adaptação do best-seller ilustrado “O BGA”, do escritor galês Roald Dahl (1982). Falava de Sophie, menina esperta residente em orfanato, raptada por habitante da Terra dos Gigantes. Sophie descobre nele uma criatura sensível, hostilizada por seus semelhantes por se recusar a se alimentar de seres humanos. Encontram-se assim na rejeição de seus pares, um encontro de dois seres isolados em seus próprios ambientes.

    Spielberg desenvolveu todo um novo processo de captação digital de movimentos para fazer “O Bom Gigante Amigo”, segundo suas entrevistas, assim como a experiência da solidão que ocorreu diversas vezes em sua vida.

    As crianças reagem de forma diferente a exibições, principalmente quando estas apresentam um mundo de fantasia, mas para esta professora esta exibição foi a ferramenta necessária para que sua turma olha-se mais atentamente para “seu gigante cordial e desengonçado” que se encontrava próximo a eles, que era como eles, mas se sentia rejeitado.

    Ainda existem “ilhas” profissionais que se importam com “o outro”, levam a sério o trabalho que realizam, desconstruindo preconceitos, explorando simbolismos para resoluções dos problemas que se apresentam, aproveitando momentos para derrubar muros que não possuem garantia da educação informal domestica que por vezes constrói as distâncias sociais por sua ignorância.


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