O Museu que não se vê
Por trás de toda grande história, existe um narrador apaixonado pelo que está contando. Talvez esta seja uma das maneiras de tentar descrever o projeto “O Museu que não se vê”. Desde 2002, uma vez ao mês, o Museu Imperial abre as portas de alguns espaços que não são acessíveis ao público durante as tradicionais visitas. Nesses espaços existem itens raros, pouco conhecidos, e que por causa do projeto ficam acessíveis ao público. Itens que ajudam a contar parte da história do período imperial. Quem narra essa história são os técnicos do museu, que em cada setor contam com riqueza de detalhes o valor e a história de cada peça.
O projeto acontece sempre na última quarta feira do mês e leva o visitante a um passeio guiado pelos vários setores técnicos do museu. Durante o passeio o visitante conhece partes importantes do acervo e um pouco dos bastidores. É possível acompanhar de perto o processamento técnico pelo qual as peças passam, além de curiosidades do arquivo que são reservadas exclusivamente para este tour.
Em uma viagem pelos vários setores do Museu, o visitante conhece de perto detalhes do acervo que não ficam disponíveis. Como na Biblioteca que guarda o livro da primeira comunhão da Princesa Isabel. O livro possui uma dedicatória especial para a Princesa e é todo escrito em português. Também tem o livro mais antigo da coleção que é datado de 1567, escrito em italiano e numerado por sílabas, comum na época.
A Biblioteca possui um acervo com aproximadamente 50 mil títulos e 8 mil obras raras. Todos os títulos são minuciosamente organizados em 6 coleções. Outro destaque, é a doação feita por Lourenço Luiz Lacombe que deixou sua biblioteca pessoal, com 4 mil obras, para o acervo. Lourenço foi ex diretor e um importante colaborador do museu.
No setor da educação é apresentado ao visitante alguns projetos que são realizados pela instituição. A Biblioteca Rocambole é destinada a crianças da educação infantil ao 2° ano do ensino fundamental. No local acontecem atividades que contam as crianças a história do império através de atividades infantis, como o Teatro “Dom Ratão”, que conta a visita de uma família de ratos ao palácio.
Uma viagem ao arquivo histórico do Museu
A partir daqui, o visitante é convidado a um mergulho fundo na história do império. No arquivo histórico estão conservados cerca de 250 mil itens entre documentos, gravuras, desenhos e mapas de acervos familiares e pessoais, que chegaram até o museu por meio de compras, transferências ou permutas. Uma importante doação que faz parte do arquivo é a Carta de abdicação de D. Pedro I à D. Pedro II. O documento foi doado pelo Senado Federal em 1974.
Outra raridade é o daguerreótipo mais antigo da família Imperial. Uma fotografia da Princesa Leopoldina, de 1853. A imagem é irreprodutível, e foi comprada pelo Museu. Umas peças curiosas são os programas de baile, que são pequenos cartões em que a dama anotava o nome do cavalheiro que gostaria de dançar durante os bailes.
Preservar todo este acervo não é tarefa fácil, para identificar e datar alguns documentos os pesquisadores do museu levam um tempão. “Hoje em dia eu chego a levar um dia inteiro para encontrar uma informação específica nos documentos da época. Mas antes era pior, antes do computador eu levava um mês para datar um documento sem data”, contou a pesquisadora do museu Fátima Argon.
O Museu cuida muito bem de suas obras
Grande parte do arquivo histórico já está todo digitalizado e disponível em cds e arquivos. Mas o trabalho realizado nos bastidores não para. E essa é uma das partes mais legais do passeio. O visitante vê de pertinho todo o processo de conservação dos vários setores. “O passeio muda a visão que o visitante tem do museu. Conhecendo de perto os setores técnicos do museu, a pessoa tem a oportunidade de entender a importância dos documentos, e a importância de preservá-los”, explicou a chefe do setor de promoção e fale conosco do museu, Isabela Verleun.
Toda parte de conservação e restauração dos itens são feitos nos Laboratórios de conservação e restauração, Museologia e reserva técnica. Nestes setores todo cuidado é pouco. Além das tradicionais luvas que acompanham todo o acervo, os funcionários guardam algumas peças que estão sendo restauradas em caixas. Em toda visita o interessado por acompanhar de perto as peças que estão sendo restauradas pelos profissionais que trabalham no museu. Um trabalho detalhista e que requer muito cuidado.
A importância dos bastidores do museu
O Museu que não se vê foi idealizado para que visitante entrasse nos bastidores do museu, e se identificasse com a importância que o acervo tem na nossa história. “Nós tentamos destacar não só a importância de guardar documentos históricos. Mas a importância de guardar qualquer documento, até os pessoais que todo mundo tem em casa”, explicou a pesquisadora Fátima.
O projeto é realizado todos os meses, e recebe grupos de até 60 pessoas. É indicado para estudantes, professores, pesquisadores, e todas as pessoas que desejam conhecer a história do museu, narrada por quem cuida dele todos os dias. O roteiro sempre muda, ele é escolhido pelos organizadores de acordo com o perfil e o interesse do grupo visitante. Todo o passeio dura em média 3h. Mas é necessário fazer um agendamento prévio.
Isabela Verleun que também é organizadora do projeto destaca que a atividade é um espaço educativo e principalmente cultural que o Museu oferece.“O projeto não é um produto comercial, nós já vimos agências de viagens vendendo dentro de pacotes. Mas o passeio é gratuito e tem a intenção de cooperar com o turismo local”, destacou.