• O melhor tônico e o Jeca

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  • 13/02/2020 11:03

    A revista “Verão em Petrópolis”, criação do publicista e jornalista João Roberto d´Escragnolle, a partir da organização de sua “Empreza Alex”, no ano de 1908, foi um marco na imprensa petropolitana e nacional, por ser editada e circular em Petrópolis e no Rio de Janeiro nos meses de novembro a março de cada ano. Divulgava a movimentação dos veranistas, chegadas e partidas, tudo de acordo com a vilegiatura dos presidentes da república que fugiam da canícula carioca, trocando o calor pela chuva e ruço.

    D´Escragnolle de tudo sabia e tudo comentava e tinha a visão vigilante do destino reservado ao futuro de Petrópolis: o turismo, matéria de seu uso e predileção.

    Até arriscando afirmasse: um dos precursores da atividade no Brasil.

    Na edição nº 7, ano XII, 20 de novembro de 1924, sua revista “Verão em Petrópolis” publicou um artigo assinado por “Jeca” (seria d´Escragnolle?), comentando com propriedade “O turismo em Petrópolis”, já assustado com o que se fazia (- destruía -) com o patrimônio arquitetônica do Centro Histórico.

    Vejamos alguns trechos do profético artigo:

    […] Quando o estrangeiro depara com a majestosa natureza do Brasil e deixa escapar uma exclamação entusiástica nós os brasileiros, indiferentemente, olhamos abobalhados para o cidadão e sorrimos idiotamente […].

    […] Mas, que valor lhe damos nós? Nenhum. Assim é a nossa cidade. Enquanto o estrangeiro procura tudo o que é belo para se extasiar e exporta os panoramas que a fotografia reproduz, dorme o brasileiro que abandona tudo quanto é belo, porque o belo no Brasil está em qualquer lado para o qual volver-se o olhar. Petrópolis, por exemplo, a cidade rainha, o ponto obrigatório de qualquer visitante estrangeiro, tem sido fotografada por todos, mas, quanta beleza está desconhecida, quanto se ressente ela de uma propaganda eficaz […] Por que não tratarmos disso? […]

    […] O turismo deve olhar para estas coisas e a imprensa estará às ordens para prestar o seu concurso, porque é de todo o interesse chamar a atenção geral para as belezas e os pontos dignos de admiração, despertando a curiosidade. Devemos começar pelos lugares históricos, e este certamente é um dos que guarda mais viva recordação do passado […]

    Observe-se que o senhor “Jeca” vislumbrava naqueles tempos de guerra e muita destruição mundial, o fator patrimônio histórico urbano petropolitano como uma atividade a ser priorizada pelo Poder Público, o que, nas décadas de 50/80 grandes empresários e políticos desprezaram e quase substituíram todos os sobrados artísticos de nossa rua do Imperador, por edifícios sobre gigantescas “loggias”, prometendo aos pedestres defende-los das chuvas tão abundantes no dia-adia petropolitano. E muita gente acreditou.

    E d´Escragnolle, na divulgação de suas múltiplas atividades, não deixava de lado sua frase publicitária mais feliz, aproveitando qualquer espacinho para repeti-la:

    “Passar um dia em Petrópolis é o melhor tônico”

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