• O insultuoso Gilmar Mendes

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  • 30/08/2016 09:00

    Gilmar Mendes tem a língua solta, diz o que lhe sai da cabeça. Cofiando uma barba imaginária, é sempre insultuoso. Neste ponto, aproxima-se dos lulopetistas e de suas práticas agressivas. Vira e mexe, entra em conflito com seus pares no Supremo Tribunal Federal, com expressões deselegantes e de uso impróprio no mais elevado tribunal do país.

    Volta-se agora contra a Lei da Ficha Limpa, dizendo-a “casuística, feita por bêbados”, em franco desrespeito às normas editadas por iniciativa popular. Não considera os objetivos da nova legislação moralizadora, fundada no combate à corrupção e em defesa pela ética na política. Logo recebeu resposta do ministro Barroso, para quem “a lei é boa, importante e sóbria”, além de expressar “valores como decência política e moralidade administrativa”. De igual modo, o presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, insurgiu-se contra as diatribes de Mendes, condenando a postura do magistrado, incompatível com suas funções.

    O ministro então recolheu-se ao silêncio, que seria quebrado com críticas à Lava Jato e a seus principais atores. Não se sabe com que interesses, passou a centrar fogo em cima do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Operação. Chamou de cretinos absolutos os defensores das dez medidas de combate à corrupção submetidas à apreciação do Congresso, com apoio do juiz de Curitiba, Ministério Público e amplo respaldo da população brasileira. Reclamou contra os investigadores do Petrolão, suspeitos pelo vazamento de informações sobre o envolvimento do ministro Dias Toffoli com a empreiteira OAS.

    Temerário, Mendes foi além. Observou que “é preciso colocar freios” na atuação dos procuradores da Lava Jato. É incrível, mas lá atrás, em conversa gravada de Lula com Dilma, Rui Falcão e Jaques Wagner, o ex-presidente disse a mesma coisa. Proclamou-se como a única pessoa capaz de “conter ou frear esses meninos do Ministério Público”, mostrando-se profundamente “assustado com a República de Curitiba, onde tudo pode acontecer”.

    Tocam-se assim os extremos. Mendes e Lula revelam-se preocupados com a Lava-Jato e questionam as instituições que investigam a corrupção no Brasil. Quando contrariados, fazem acusações levianas contra a mais elevada instância nacional do Ministério Público e contra a magistratura, representada no caso pelo juiz Sérgio Moro, obliquamente chamado de cretino por Mendes.

    Recebeu respostas duras e merecidas. O texto da Associação dos Magistrados é suficiente, ao dizer que “é lamentável que um ministro do STF, em período de grave crise no país, milite contra as investigações da Operação Lava Jato, com a intenção de decretar o seu fim”. E acrescenta: ainda mais “quando busca descredibilizar as propostas anticorrupção que tramitam no Congresso Nacional, ao invés de colaborar para o seu aprimoramento”. Ao encerrar, a nota sustenta que é a favor de “outro conceito de magistratura, que não antecipa julgamento de processo, não adota orientação partidária, não exerce atividades empresariais, que respeita as instituições e, perincipalmente, que recebe somente remuneração do Estado”. As referências são frontais, inclusive quando apontam para o instituto privado e educacional de Gilmar Mendes. Sem justificativas plausíveis, o ministro permaneceu calado.

    É lamentável que Rodrigo Janot, em decisão equivocada, tenha suspendido a delação de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, ligadíssimo a Lula, que tem muito a declarar sobre os porões e o mar de lama da corrupção lulopetista. No entanto, há ainda tempo de Janot rever sua posição. É o que se espera.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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