• O desafio de produzir cada vez menos lixo

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 03/06/2019 11:29

    E se fosse descoberta uma forma de não produzirmos mais lixo? Vivendo em um país que só recicla aproximadamente 3% de todos os resíduos que são descartados, refletir sobre alternativas para reduzir a produção de lixo parece o caminho mais viável para investir de forma sustentável no nosso futuro. Para isso, no entanto, é preciso que cada um faça a sua parte. A petropolitana Lílian Ziehe Takitani por quase 15 anos achava que fazia sua parte, até descobrir que a maior parte dos resíduos que ela separava para a coleta seletiva não eram reaproveitados. 

    Após uma visita em uma associação de catadores, em Resende, ela descobriu que boa parte do material limpo e seco que ela separava ia para o lixo. Em alguns casos porque os materiais realmente não podem ser reaproveitados, e em outros porque no estado do Rio de Janeiro ainda não há empresa que faça o reaproveitamento de alguns materiais. “O volume era enorme, e isso me impactou. Eu ia passar uma semana na associação para aprender o trabalho, mas não aguentei quando vi aquilo. Acabei nem indo todos os dias”, contou. 

    Leia também: Artesãos transformam o lixo em peças de roupa, decoração e brinquedos 

    Passar por essa experiência fez com que Lílian refletisse e buscasse um outro caminho que não fosse unicamente a reciclagem.“Nunca tinha escutado o termo lixo zero. Quando comecei a pesquisar descobri alternativas para parar de gerar tantos resíduos e mudar a forma de consumo dos produtos”, contou. A mudança foi imediata. Lílian é bacharel em Direito e buscou especialização em Gestão de Resíduos. Fez cursos no Instituto Lixo Zero e começou em casa a mudança de hábitos de toda a família.

    Além do trabalho de compostagem com os resíduos orgânicos, que já fazia há mais de 10 anos, começou a adotar outras ações. E se propôs a gerir o próprio resíduo. “As pessoas não sabem o quanto produzem de lixo. Hoje consigo mensurar o quanto de lixo nós três produzimos – Lílian, o esposo e a filha de 4 anos. Há pelo menos um ano e meio produzimos por mês entre 1kg a 1,5kg. São coisas que não são reaproveitáveis mesmo, como papel sanitário, embalagem metalizada, embalagem de saquinho que não é possível reciclar”. 

    Como toda mudança, o início da adaptação pode parecer difícil, mas não é impossível. Os saquinhos plásticos foram quase 100% abolidos e substituídos por saquinhos de algodão. Em vez de redes de supermercados, Lílian passou a optar por pequenos mercados e mercearias. Os alimentos escolhidos a granel são pesados e levados para casa nos saquinhos que carrega dentro da bolsa. E ela sempre tem no fundo da bolsa sacolas maiores para carregar as compras.

    “Muda as relações de consumo. Começamos a valorizar o produtor local, a pensar no consumo ético de produtos, até das roupas. Há dois anos não consumo nada que não seja totalmente necessário”, disse. A esponja comum de cozinha, que não é reciclada, foi substituída pela esponja vegetal. A cartela de remédios vazia é devolvida nas próprias farmácias, seguindo a regra da logística reversa em que as empresas produtoras devem fazer a destinação adequada dos resíduos que produzem.

    Outra mudança significativa adotada pela família foi eliminar o hábito de comprar água na rua. “Todo estabelecimento que vende comida é obrigado a fornecer água potável. Não compro água há dois anos. Carrego sempre comigo uma garrafinha, e chegando em qualquer lugar peço a água da casa. Em alguns estabelecimentos os comerciantes acham estranho, mas nunca se recusaram. É lei! Imagina o volume de habitantes na terra, se todos os dias cada um que tomar água na rua comprar uma garrafa e descartá-la? São coisas que parecem pequenas, mas que fazem diferença”, disse.

    Hoje, consumindo menos produtos industrializados, a filha de 4 anos teve uma mudança visível na qualidade de vida. Boa parte do que a família consome é produzido na horta de casa, que é adubada com a compostagem feita por quatro mãos, de Lílian e da filha Mariana. 


    O movimento lixo zero tem a proposta de promover o máximo do aproveitamento e a destinação correta dos resíduos dos produtos que consumimos. Assumido como um conceito de vida, o indivíduo se torna mais consciente do caminho de produção desde o gerador até destino fim do que é consumido.

    No Brasil, a referência no assunto é o Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). Fundado em 2010, é uma organização da sociedade civil e representa, no país, a Zero Waste International Alliance (ZWIA), que é um movimento internacional de organizações que desenvolvem o conceito e os princípios do lixo zero no mundo. 

    Inspirada pelo movimento, Lílian não parou por ai: todo o caminho de transformação e mudança de hábitos, a gestora de resíduos conta no Blog Lixo Zero Sul Fluminense e na sua página no instagram @meulixo_minharesponsabilidade. Lílian mora com a família em Penedo, e ministra palestras sobre o assunto, em vários lugares, incentivando e apontando como é possível reduzir a produção e gerir os resíduos produzidos. 

    Últimas