• O desafio das mulheres

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  • 09/03/2018 08:31

    Quando no mundo inteiro comemora-se o “Dia Internacional da Mulher” ponho-me a pensar em algumas mulheres vencedoras com quem convivi. Falo da Mulher Urbana: a doméstica, a favelada, faxineira, operária, a matriarca, e a Mulher Rural. Conheci petropolitanas pobres e negras, com brilho próprio e muita garra cumprindo seu papel de mãe e as vezes mesmo o de pai na falta do companheiro. Sem uma estrutura familiar equilibrada, com suas necessidades básicas não atendidas, tendo de sair a trabalhar deixando as crianças ora entregues ao irmão mais velho ou a contar com a ajuda de vizinhos.

     No limite de sua resistencia não sem desespero e ansiedade, algumas aceitando até vender o corpo para sustentar os filhos. Eu percebia em muitas dessas mulheres o quanto elas se esforçavam para dar a sua prole e a si mesmas alguma dignidade, autoestima e esperança. Nos anos 80 apoiadas pelo Dr. Nelson Sabrá organizamos um evento no Cenip a promover o primeiro encontro das ‘Mulheres sem Voz’: O que reinvidicavam? – Precisamos creches para nossos filhos! Antes de 1989, não existia o Estatuto da Criança e do Adolescente. Com a força da lei os governos foram obrigados a construir mais creches. O que falta a essas mulheres? Políticas Públicas dignas e humanistas: moradia, trabalho e lazer. 

    Tendo sido conselheira tutelar por dois mandatos e bem conhecendo o ECA, relato aqui como logramos ajudar muitas mães que chegavam até nós despedaçadas, pois na maioria das vezes os direitos de seus filhos e delas mesmas eram desconsiderados. Dedico a elas hoje o meu artigo! Especialmente à Trabalhadora Rural. Antes da Constituição de 88 tanto as crianças como as mulheres grávidas não tinham os seus direitos respeitados. Em 85, na localidade de Coqueiros, divisa de Petrópolis com Paty de Alferes, uma vasta plantação de pimentão e tomate era constantemente pulverizada com grandes quantidades de agrotóxicos. Os resíduos eram lançados no riacho situado logo abaixo das plantações.

     Como diretora da Apande, fui convidada pela Terezinha Guarília da Cunha (presidente da Associação do Vale das Videiras) a participar de uma reunião sobre a morte recente de 9 crianças, sem diagnóstico preciso. Resolvemos ir lá no local e observar. O que vimos nos deixou perplexas. Aquelas trabalhadoras a amamentar seus filhos nos intervalos logo após a aplicação do veneno. Verificamos que as crianças estavam sendo envenenadas por resíduos tóxicos. Ao pulverizar os legumes a substância química ativa descia pelo riacho onde as crianças costumavam brincar. 

    Daí, deduzimos que a contaminação se dava pelos seus pezinhos e mãozinhas. Entendendo a Educação como caminho de conscientização, por sugestão da Therezinha fomos ao encontro da Carla Corrêa da Silva e seu sonho de ser professora. Ela prontamente aderiu ao projeto improvisando em sua cozinha uma sala de aula. Assim o nosso grupo nesta comunidade de mulheres, adultos e crianças criou a primeira escola informal dentro do meio rural. Dando sequência ao que aprendemos com a praxis de Paulo Freire, partimos para elaboração de uma cartilha e seguimos dialogando com o cenário local, a contextualizar conteúdos pertencentes ao muno mundo deles: pás, enxadas, carrinhos de mão, terra, água, horta, legumes, verduras, sol e chuva, assim nos direcionamos exclusiva e inclusivamente aos produtores e seus filhos. No mesmo mote Conscientização, Alfabetização e Instruções de Proteção contra contaminação.

     A Carla se engajou na transformação daquela realidade. Hoje a Educação Ambiental já é fato presente na maior parte das escolas e podemos ver as crianças e os jovens do local bem mais conscientes sobre as questões emergentes do Meio Ambiente. À Carla e à Therezinha eu presto minhas homenagens neste dia especial.

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