• O débil e o “tintureiro”

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  • 05/02/2020 14:40

    Cândido partiu feliz, exultante, em direção a São Paulo atendendo a convite do compadre Tobias e senhora. E lá se foi aproveitando um fim de semana prolongado com objetivo de rever amigos, sobretudo os anfitriões. 

    De início decidira seguir viagem pela via rodoviária; cômodo para ele uma vez que a cidade de Petrópolis dispõe de ônibus – viagem noturna – que chega à capital paulista às seis da manhã seguinte. 

    Todavia, mudara de ideia e acabou por partir de nossa cidade em direção ao Aeroporto Santos Dumont, embarcando num vôo que para ele não demoraria mais do que sessenta minutos a fim de que pudesse desembarcar no destino.

    Ledo engano, uma tempestade impediu que a aeronave aterrissasse – não havia teto para tanto. Em consequência, preocupação e receio de “passar desta para outra”, relatou-me quando de seu retorno.

    Enfim, já em São Paulo, em terra firme, confortavelmente instalado no apartamento do casal amigo. No dia seguinte à sua chegada, logo pela manhã foi convidado a rever diversos pontos turísticos e à tarde, após agradável passeio pelas principais avenidas e ruas da cidade, sempre acompanhado do compadre Tobias, fez segui-lo para conhecer o Museu de Arte de Moderna, prédio histórico onde nunca estivera. 

    No segundo dia, embora já cansado – peso da idade – ainda visitou prédios históricos, igrejas, além de compras em lojas da cidade. À tarde, para surpresa de Cândido, acabou por acompanhar o compadre Tobias, jornalista e poeta, com objetivo de comparecerem numa importante livraria onde um também jornalista lançaria um livro recém-publicado. 

    E para lá seguiram percebendo, assim que chegaram, que a fila para autógrafos estava de certa forma longa. Mas assumiram suas posições no sentido de que Tobias pudesse abraçar o colega jornalista. O homenageado a acolher amigos e dedicatórias e mais dedicatórias sem falar dos abraços e das fotos que se sucediam.

    Em razão da extensa fila, conversas e conversas entre os presentes a predominar acerca de novas e antigas obras publicadas, sendo que ainda foram lembrados, Bernardo Guimarães e José de Alencar. Cândido, bastante observador, fixou os olhos numa “figura” que se exprimia de forma confusa e um tanto dispersiva. 

    Ao se aproximar o momento em que Tobias receberia o autógrafo e abraçaria o amigo e colega, o cidadão esquisito, de gestos estranhos e com aparência de haver ingerido bebida alcoólica, “atropelou” o pacífico e educado Tobias, juntamente com Cândido, aos gritos, apavorando os presentes e causando-lhes susto e surpresa, acabando todos por ouvir do cidadão, totalmente desconhecido daquele que autografava seus livros: “Já sei, o senhor é Olavo Bilac”! 

    O homenageado após ouvir o despropositado brado, quase caiu da cadeira, perplexo. Entretanto, a segurança da livraria logo fez conduzir o desequilibrado até a porta, que continuava a gritar Bilac-Bilac! O que aconteceu ao transtornado senhor não me foi relatado mas tenho a impressão de que certo estava o poeta quando vaticinou, em situação análoga, que a figura em causa haja seguido “…rapidamente num tintureiro que o conduziu a local adequado”.. 

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