• O Congresso não saiu bem na foto

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  • 23/04/2016 11:52

    Os três dias de sessão permanente para a votação do impeachment de Dilma Rousseff, permitiram à população brasileira acompanhar mais de perto o dia a dia do Congresso. Não foi, certamente, uma experiência edificante. Começou pelas entrevistas nos corredores da Câmara e no Salão Verde onde houve momentos decepcionantes. O “bolão” comandado por Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, definitivamente não pegou bem para a imensa maioria dos telespectadores. A ausência de solidariedade à presidente não precisava chegar a tanto. A reação que pude constatar nas pessoas foi de que estavam brincando com coisa séria. Por momentos, o clima parecia de carnaval. E não vale argumentar com carnaval cívico. As entrevistas dos deputados petistas aos jornalistas estavam recheadas de mentiras repetidas à exaustão.  Não teria havido (óbvios) crimes de responsabilidade, muito menos pedaladas fiscais. Parodiando Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, eles se repetiam mil vezes a mesma mentira para, quem sabe?, enganarem a si mesmos, já que aos demais não conseguiam.

    No domingo, dia da votação da admissibilidade do processo de impedimento, os votos da cada deputado foram um espetáculo à parte. Por certo, houve aquele(a)s que deram o sim e o respaldaram de modo rápido,  apropriado e convincente. No geral, este não foi o comportamento que deveria ter sido a regra. Com frequência, aproveitavam o tempo exíguo que tinham para cometer “cacos”, ou seja, aquelas inserções na fala que não cabiam naquele momento. A língua portuguesa (coitada!) sofreu muito em matéria de concordância. Os pronomes e os verbos estavam em desacordo gritante: uns não concordavam com os outros. Pior: por vezes, a justificativa do voto deixava a desejar em matéria de lógica. Aquela situação em que o telespectador imaginava que o voto ia ser não e acabava num sim. Ou, vice-versa. Não era pequeno o susto de quem acompanhava a desconexão mental…

    Os votos dos deputados petistas, disciplinados no Não, foram um caso à parte. Por pouco, Dilma não foi canonizada ali mesmo no plenário à revelia do Papa tão imaculada era sua figura para seus defensores. As únicas pedaladas que não podiam negar eram aquelas que, toda manhã, Dilma dá nos arredores do Palácio do Planalto. Só mesmo muita falta de imaginação da presidente  a levou a praticar um esporte (pedalante) tão impróprio para as atuais circuns-tâncias. Eles ainda insistiam em ser golpe um procedimento constitucional. Pouco importa que todos os ministros do STF já tivessem declarado, mais de uma vez, que impeachment não é golpe. Sem dúvida que a melhor resposta ao slogan do “Não vai ter golpe” foi acrescentar-lhe “Vai ter impeachment”. 

    Nos dois dias anteriores à votação, era visível  o número de parlamentares no celular, ou cochichando entre si, enquanto colegas estavam falando no púlpito. Eu me lembrei de uma regrinha saudável adotada na Câmara e Senado dos EUA: os celulares são deixados do lado de fora. Bem que podiam copiar isto dos gringos. Um sinal de boa educação e respeito aos colegas. Melhor ainda: obrigar-se a prestar atenção à pauta em discussão. Essa simples providência ajudaria muito ao líder do governo na Câmara, José Guimarães, a prestar atenção às denúncias da oposição sobre 10 milhões de desempregados e inflação de dois dígitos. Por certo não diria asneiras na defesa de Dilma do tipo “Afinal, um pouco (!) de desemprego, alguma (!) inflação não é razão para pedir o afastamento da presidente”. Em que mundo vive esse senhor?

    De resto, foram 367 votos a favor do impeachment, 25 a mais que o necessário. Era exatamente o resultado que a população foi às ruas exigir. A nota vexaminosa em tudo isso foi ver os petistas, que impetraram 52 pedidos de impeachment no passado, afirmarem de peito cheio que era golpe aplicar um recurso legalíssimo que consta da constituição aos desmandos e à incompetência de Dilma. “Nunca antes nesse País se viu tal coisa”, diria Lula.

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