• Novo diário de dias terríveis

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 13/06/2020 00:01

    Dia 1. Parabéns, Jacinda Ardern. A premiê da Nova Zelândia zerou a Covid, com medidas rápidas e severas de isolamento e falas duras, realistas e amorosas que ganharam a adesão e o respeito do povo. Não se trata de ser país pequeno ou não. Se trata de, numa hora de crise tão grave, agir como verdadeira estadista. Responsabilidade grande e coração pleno. Virei fã. Que bom para o mundo que por lá, o Sr. Ross Ardern, pai da primeira-ministra, deu uma “fraquejada”. Enquanto, aqui…

    Dia 2. Atos de Bolsonaro na pandemia. Primeiro, a “gripezinha”. Depois, o “E daí?”. Então, sabotar Mandeta. Inviabilizar Teich. Deixar o Ministério da Saúde sem titular. Tirar médicos e entupir de militares. Pensar em colocar numa importante Secretaria da Saúde um empresário de curso de idiomas. Tudo revela despreparo, insensibilidade, insulto aos mortos, desrespeito aos enlutados, inverdades e ilícitos contra a saúde pública… Por favor, você que (muitos agora já a contragosto, eu sei…) ainda apoia este governo, sabe que está mantendo esse apoio à custa da sua sinceridade e sanidade. Não defenda mais o indefensável.

    Dia 3. Incomodado com sua notoriedade mundial negativa, Bolsonaro havia decretado aos seus que o número de mortos devia estar abaixo de 1.000. O general tapa-buracos obedeceu. Primeiro omitiu dados totais e o histórico de óbitos. Depois, finalmente, manipulou dados! A pretexto de que estariam superestimados os totais de óbitos!! Quando até as formigas no chão dos cemitérios sabem que existe subnotificação!!! Ainda mudou a hora da divulgação das informações. “Pra não dar manchete ao Jornal Nacional”… Ora, ocultar, dificultar ou retardar dados de utilidade pública e de relevância para o combate à pandemia é o cúmulo do pensamento rasteiro, medíocre e vingativo, que não prioriza o interesse das pessoas e a saúde dos cidadãos … Você que ainda está em dúvida, por favor, pare de defender o indefensável.

    Dia 4. Não há titular no Ministério da Saúde. O Presidente entrega cargos da Saúde ao Centrão. O Presidente que teria 15 ministérios já tem 23, alguns criados especialmente para o Centrão. O Presidente prefere militares a médicos na gestão da Saúde. O Presidente nega a pandemia. O Presidente manda apoiadores invadirem hospitais. O Presidente estimula arrancadores de cruzes do protesto em Copacabana. A você que se corrói em dúvidas: pare de defender o indefensável.

    Dia 5. O pensamento de certo tipo de evangélico infelizmente aponta o capitão como um “escolhido dos céus”. Dá-se ao presidente uma tolerância e quase idolatria desmedida, ao modo do que equivocadamente dão a certos pastores. Esse erro já se cometera na ditadura militar, em que pastores foram beijar a mão de generais, em troca de favores e canais de TV. Também então acharam que os ditadores eram “escolhidos de Deus” para trazer paz aos “valores cristãos”. Como se vida, liberdade e democracia não fossem valores cristãos. Amigo evangélico, Bolsonaro não devia ser o seu pastor, porque muito te faltará.

    Dia 6. Afinal, que cristianismo é este que para fugir dos crimes petistas, permite apoiar outros crimes? Assassinatos, tortura, censura, crueldade, prisões arbitrárias – são crimes da ditadura que Bolsonaro quer reviver. Amigo cristão, acho que alguma coisa você não entendeu direito. O mesmo Decálogo que diz ao PT “Não furtarás”, diz aos armamentistas e ditadores “Não matarás”. Sem esquecer que diz também aos que idolatram políticos de qualquer espécie “Não farás para ti ídolos”, e “Não terás outros deuses diante de mim”. Mude de posição enquanto é tempo. Defenda a democracia!

    Dia 7. Parece que não houve mesmo nada de político no ato. Mas, no atual momento, não há como não refletir. A covarde invasão da Globo, com a tomada da repórter Marina Araújo como refém, sugere a força do discurso violento na motivação de ações violentas. Se você não gosta de um canal, use o controle remoto. Não intimide ou ameace jornalistas, não os mande calar a boca, não os expulse, não os chame de “lixo”. No atual contexto de intolerância, estímulo à violência e ao armamentismo, você pode estar ajudando a pôr a faca na mão de um desequilibrado.

    E paro aqui. Nada mais dizendo desses dias, porque nada mais foi-me perguntado.

    Últimas