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  • 16/06/2020 00:01

    Nunca se falou tanto inglês no Brasil quanto nesta pandemia. E isto apesar dos ingleses fazerem questão de manter nos seus brasões duas frases em francês… A primeira, atribuída a Ricardo Coração de Leão, que teria dito na véspera de uma batalha em solo francês: “Dieu et mon droit”, que se traduz por “Deus e o meu direito”. A segunda teria sido proclamada por Eduardo III: “Honi soit qui mal y pense”, que se pode traduzir livremente por “A vergonha recaia sobre quem vê malícia”. A ser verdade, teria sido dita ao ensejo de um baile, quando a amante do rei deixou cair a sua liga azul; os nobre riram e o rei lhes perguntou: “Riem? Pois a partir de amanhã se ajoelharão diante da liga que provocou o seu riso”. E, no dia seguinte, criou a Ordem da “Jarretière”, que é como se chamam em francês as ligas que seguram as meias femininas, até hoje a mais prestigiosa do Reino Unido, que só conta com vinte e cinco agraciados. Sim, houve um período da Idade Média em que a Corte Inglesa, por influência dos normandos do norte da França, falava em francês.

    A presença hegemônica do idioma inglês (somem Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Índia, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, etc…) potencializada pelo progresso do Extremo Oriente que precisava de um idioma para seu comércio internacional, nos trouxe mil produtos e serviços novos com nomes exóticos. Semanas atrás, importamos o “lockdown” imposto aos maranhenses de São Luís. Poderiam ter deliberado um isolamento ou um fecha-tudo; preferiram o loquidaun para maranhense descobrir o que seria. Todo o Brasil entrou em regime de “home office”, que é o trabalho feito no lar, e que bem poderia ter sido apelidado de traba-lar, que deixo aqui proposto. Os telespectadores também passaram a conviver com “streaming”, “podcast”, “spotify”, uma chuva de palavras que bem poderiam ser traduzidas para a compreensão dos milhões que não tiveram oportunidade de aprender o inglês. Fui tentar entender o que era “podcast” para não parecer jurássico. Eis: “Conteúdo de mídia transmitido via RSS. Você pode usar agregadores como iTunes ou Ziepod para PCs, Beyond Pod ou PodStore para Android, Wecart ou o nativo PodCasts para iOS. O nome vem de “Personal on demand + Broadcasting”. Entendi patavinas e o problema cresceu adoidado. Persistente, fui ver o que era “spotify”; deveria ter adivinhado que se tratava de uma espécie de streaming, porém de áudio. Faltava ver o que podia ser streaming em modernês, mas temi nova cascata de palavras e nomes desconhecidos. O simples bom-senso me leva a traduzir streaming por um fluxo de títulos, algo assim. Ah! que  saudades do tempo em que se ia ao cinema após escolha do filme pelo boneco do Globo ou pelo caderno B do JB. Envelhecer implica em ir sendo (gentilmente) empurrado para fora do campo onde se disputa o jogo, como costumam fazer os árbitros com os jogadores substituídos.

    Já que lembrei do futebol, anoto que neste ocorre o inverso: o que se dizia em inglês virou português. Ou alguém recorda dos center-forwards e keepers? Fico feliz por concluir a minha meditação por uma nota consoladora: importamos cá, abrasileiramos acolá. O jeito é ser penta no mundo digital, né?     

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