• Voz madura da jovem jazzista Samara Joy se impõe no burburinho do C6 Fest

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  • 22/05/2023 11:00
    Por Danilo Casaletti / Estadão

    Se há um gênero dentro da música popular no qual o público ainda se dedica a prestar exclusiva atenção no que ocorre no palco, ele é o jazz. E, nesse caso, a organização do C6 Fest, que ocorreu em São Paulo neste fim de semana, fez uma escolha acertada ao alocar o show da cantora norte-americana Samara Joy dentro do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, na noite de domingo, 21.

    Ganhadora do Grammy de Artista Revelação e de Melhor Álbum Vocal de Jazz, Samara chegou ao Brasil – no dia 19, ela se apresentou no Rio de Janeiro – cercada pela curiosidade de ter derrotado a brasileira Anitta na premiação.

    Samara é muito mais do que isso. E o público que foi assisti-la na capital paulista tinha essa exata noção, e era muito diferente do que frequentou os outros dois palcos do festival – uma tenda coberta e a área externa do Auditório Ibirapuera. Menos barulhenta, com celulares guardados, sem clima de festival, a plateia se concentrou no canto de Samara.

    Com incrível maturidade vocal, aos 23 anos, a cantora é uma das herdeiras do jazz tradicional. Seguidora de Sarah Vaughan, como ela revelou ao Estadão, Samara passeou por improvisos e roçou a voz no canto lírico.

    A banda tocou baixo – recentemente, a também cantora Dionne Warwick falou sobre essa opção ao Estadão – e a voz de Samara se sobressaiu.

    Antes de cantar Can’t Get Out Of This Mood, um de seus grandes sucessos, ela disse que a canção resume o que ela sentia desde que foi premiada no Grammy, no início deste ano. “Crazy” (Louco), afirmou, não sem antes soltar um “boa noite” em português, assim como fez ao apresentar o trio de piano, baixo e bateria que a acompanhou.

    “Eu amo o Brasil”, afirmou ela mais adiante. Ganhou ainda mais a plateia ao cantar o clássico da bossa nova Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em português praticamente perfeito – os “peixinhos” e “beijinhos” do poeta não são tão fáceis para um estrangeiro.

    De seu segundo álbum, Linger Awhile, vitorioso no Grammy, Samara interpretou canções como Nostalgia, da qual é uma das compositoras. Composição de Stevie Wonder, Lately ganhou versão jazzística de Samara, um dos pontos altos do show – aqui no Brasil, a canção também ficou conhecida com a gravação de Gal Costa para Nada Mais, com versão assinada por Ronaldo Bastos.

    Simpática com a plateia, Samara encerrou o show com Flor de Lis, canção de Djavan que já há algum tempo faz parte de sua turnê.

    Na saída do show, o cantor e compositor Tim Bernardes, que horas antes apresentou um tributo à Gal no C6 Fest, disse à reportagem do Estadão que foi “meio desavisado” à apresentação de Samara, que classificou como “impressionante”. “Ela é um instrumento. Consegue passar muita emoção, sem deixar transparecer a técnica”, disse.

    Tim Bernardes, que se apresentou na plateia externa, acompanhado apenas por violão, disse que em seus trabalhos solo prefere também se apresentar em teatros à casas de shows. “Com a plateia em silêncio, é possível ir mais a fundo”, resumiu.

    A noite de domingo, a última do festival, ainda teve apresentações de Caetano Veloso, da cantora americana Weyes Blood, da banda de rock The War on Drugs, entre outras atrações.

    Sábado

    O cantor americano Jon Batiste foi um dos destaques do C6 Fest no sábado, 20. Estreante no Brasil, Batiste foi premiado com o Grammy 2022 por sua mistura de jazz, soul e blues em apresentações vigorosas.

    Acompanhado por banda, ela cantou Freedom e It’s All Right, ambas de seu repertório, e o clássico St. James Infirmary Blues, além da brasileira Tico-Tico No Fubá, que ele tocou ao piano.

    Batiste, que a todo momento pedia a participação da plateia (ele se apresentou na tenda coberta), teve o que de fato desejava quando ao voltar para o bis convidou a cirandeira Lia de Itamaracá para se apresentar com ele. Tocando piano, Batiste acompanhou a brasileira na canção Janaína.

    O cantor dançou ciranda com Lia ao som de São Jorge e, no final de Eu Vi Mamãe Oxum na Cachoeira, desceu do palco e andou no meio da plateia tocando uma escaleta. Saiu ovacionado, algo que talvez não acontecesse se Batiste tivesse sido alocado no palco externo, com público ainda mais disperso do que dentro da tenda.

    A noite de sábado teve outras boas surpresas, entre elas o guitarrista africano Mdou Moctar. Nesse dia, as atrações que atraíam mais público, evidentemente 30 + e de maior poder aquisitivo, foram as bandas de música eletrônica Kraftwerk e Underworld, que se apresentaram na área externa, usando o paredão do Auditório Ibirapuera para projeções.

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