• Volta às aulas presenciais ainda é incerta também na rede particular

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  • 03/03/2022 05:00
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    Depois de quase dois anos de ensino remoto, a expectativa era alta em torno da volta às aulas no modelo presencial, que aconteceu no dia 14 de fevereiro na rede municipal e em grande parte da rede privada de Petrópolis. Porém, apenas um dia depois do retorno, a cidade foi atingida pelo temporal que deixou mais de 200 mortos e milhares de desabrigados, e ainda afeta o cotidiano de todos. Desde então, as aulas na rede municipal e estadual estão suspensas e a realidade dos alunos é de incerteza. Enquanto isso, há escolas particulares que já retornaram às atividades e outras que, segundo o Sindicato dos Professores, profissionais estariam sendo obrigados a ensinar remotamente mesmo em condições de trabalho precárias em decorrência das chuvas.

    Rede Particular

    Nas escolas particulares, cada unidade tem adotado uma estratégia. Tradicionais escolas do Centro Histórico foram afetadas por alagamentos e deslizamentos e, por isso, ainda não retomaram as atividades. Ao mesmo tempo, outras escolas já retomaram o ensino presencial ou estão funcionando remotamente. Uma das unidades afetadas por alagamentos, em nota para pais e responsáveis, informou que retomará atividades escolares no dia 7 de março, próxima segunda-feira.

    Sobre o retorno, o Sindicato dos Professores de Petrópolis e Região (Sinpro) disse que “agradece às escolas que respeitaram o luto vivenciado por muitos professores, funcionários e alunos, encerrando momentaneamente as aulas presenciais e remotas”.

    O sindicato também diz que “reconhecemos que depois de uma longa paralisação das aulas presenciais, devido à pandemia, o retorno às aulas presenciais é fundamental, mas a tragédia que se abateu sobre a nossa cidade exigiu a suspensão momentânea”.

    Responsáveis estão divididos

    E o assunto também tem dividido pais e responsáveis. Para Isabel Bull, mãe de um menino de 5 anos, a paralisação foi necessária, mas já chegou o momento de retornar.

    Ela conta que a criança, que estuda em uma unidade particular no Centro, ficou presa na escola até cerca de 21h do dia 15 pois houve um alagamento no espaço. O dia da tragédia foi o segundo dia de aula da criança desde o início da pandemia.

    “O Nicolas sempre foi agitado, então estava muito ansioso pelo retorno às aulas após a pandemia. Ele ficou apenas um dia e, no dia da tragédia, ficou até 21h30 na escola, que foi a hora em que o padrasto dele conseguiu buscá-lo. Pra ele, foi muito complicado, porque ele não entende bem a situação, mas a escola tem estrutura e conseguiu acalmar as crianças”, contou Isabel.

    “No primeiro momento, não tinha condição de um retorno, não queria que ele visse a cidade naquele estado de destruição, ele ia ficar impressionado demais. Mas, ao mesmo tempo, ele está com saudade dos amigos e da escola, então precisa voltar”, disse a mãe, que contou que a criança evita falar da enchente.

    “Quando ele ouve algum adulto falando sobre a chuva ou algo relacionado a isso, ele na hora pede pra falar e fica nervoso, realmente não gosta de falar do que aconteceu, mesmo sem compreender tudo. Mas ele sente muita falta da escola e está ansioso pra voltar na próxima semana”, concluiu Isabel.

    Professores denunciam condições precárias de trabalho remoto após tragédia

    Na rede privada, o assunto tem sido motivo de controvérsia. O Sinpro, em nota, disse que recebeu relatos de profissionais que alegam que “algumas escolas estão exigindo de seus professores que continuem com as aulas virtuais, mesmo em condições precárias de trabalho por causa das chuvas que vêm assolando nosso município”.
    Ainda na nota, o Sinpro disse que “é uma questão humanitária, na atual situação de calamidade pública, que os professores tenham autonomia e liberdade de expressão para se dirigir aos seus empregadores e discutirem a melhor forma de as aulas serem ministradas – e que até sejam suspensas, dependendo da situação. Com isso, apelamos aos donos de escolas que sejam solidários não só com a população, mas também com os profissionais que empregam.”

    O coordenador-geral do Sinpro Petrópolis e Região, Frederico Fadini, explica que, muitas vezes, os professores temem denunciar situações como essa, e por isso não há um número consolidado.

    “Quando surge a demanda, atendemos os professores, e são muitos problemas. Mas muito temem fazer a denúncia. São poucos profissionais e temem que ocorra alguma represália por parte da instituição”, disse Frederico, ressaltando que a situação é mais grave em escolas menores, geralmente em bairros. “Nas grandes escolas e universidades, não me parece que tenha ocorrido. Entretanto, temos escolas pequenas, de bairro. Lá a situação é mais grave”, completou o coordenador-geral do Sinpro.

    Profissionais da educação que quiserem buscar orientação ou fazer denúncias ao sindicato podem entrar em contato pelo telefone (24) 99217-5732, que também funciona como WhatsApp.

    Rede Municipal

    De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, ainda não há data definida para o retorno das aulas, mas a volta está sendo planejada. Além de professores, colaboradores e alunos de muitas unidades terem sido afetados direta ou indiretamente, há unidades sendo usadas como abrigos públicos ou pontos de apoio.

    Rede Estadual

    A rede estadual também possui escolas que funcionam como ponto de apoio. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) as data do retorno será divulgada na próxima sexta-feira(04).

    *Matéria atualizada às 9h58 para correção de informação.

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