• Você tudo pode

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  • 10/06/2017 11:35

    Em Os Miseráveis, de Victor Hugo, Jean Valjean, lavado na caridade do bispo, derrama auxílios onde passa. Relendo a obra, me veio. E se ele não chegasse a Cosette ou se ela tivesse o poder de recusar sua piedade? É duro não poder fazer nada por quem sofre, mais ainda quando o amamos. Às vezes, por força da geografia, da idade, da indisposição do outro, da possibilidade de ferir sensibilidades extremas de quem às vezes sequer reconhece seus abismos, não dá pra fazer nada. Corrosivo sentimento, de querer ajudar sem poder.

    O terapeuta apressado diria: você não é culpado dos dramas do universo, não seja um Atlas de araque, com o mundo nas costas, cada um que dê conta de si, viva sem fardos alheios. O cristão desatento exortaria: vá como Cristo, fundo na tentativa da ajuda, raspe o tacho da possibilidade, caminhe nova milha, dê outra face. O cético hedonista riria: ora, tenha mais que fazer, prazeres a viver, goze a vida, as luzes, luxos e brilhos. O egoísta desdenharia: esqueça os outros, estar você bem é já contribuição suficiente ao mundo.

    O terapeuta esquece que dramas de quem a gente ama nos pertencem também. O cristão desatento não nota que nem Cristo pode dar a quem não quer receber, este que necessita outra milha mas não nos deixa andar a primeira. O hedonista não entende que o real luxo da vida é sim estar bem, mas coroado no brilho de ver bem quem se ama. E o egoísta não sabe que homens-ilha naufragam, cobertos de falsa calma, ouro de tolo a mascarar seus problemas, esmagados de indiferença no mar da solidão.

    Então, que fazer? Se nenhum dos conselheiros aí me deu luz, e Cosette segue sofrendo mas não se deixa ajudar, por não querer incomodar ou não reconhecer o problema… Que fazer? Em situações assim, amigos ou parentes que sofrem, conhecidos que se despedaçam, pessoas em cacos cuja dor nos faz doer sem que possamos ajudar, só há uma saída. A prece. Que é: dizer, derramar, mas muito mais ouvir e esperar. Aguardar respostas e bençãos de Deus. Como em meu poema “Oração” da obra “Alegria de Boa Lavra”: “Há um estado bem próprio da prece, em que a oração não se arregimenta em falares. Em que a oração não se coaduna a prosódias. Uma forma afiada de ouvido é província que, na boca cerrada, a oração propicia. A quietude sagrada, onde dorme um verbo enterrado num vaso respiro. Uma gaveta branca onde, com gosto, Deus guarda, um a um, seu algodão de confortos. Um cântaro sacro onde, à larga, dispõe Deus, aos sedentos, o frescor da sua água”.

    Oração resolve. Acalma. Acende luzes. Faz saúde. Estudos provam o poder da intercessão em processos de cura. Sempre há cientistas apontando o contrário, mas não é à toa que a Duke University, das mais importantes do mundo, tem um Centro para o Estudo da Espiritualidade e Saúde, nem que cirurgiões de Harvard iniciam procedimentos com uma prece. E há mil histórias de bons resultados com essa coisa um degrau abaixo, que é o pensamento positivo. Pois oração é pensamento positivo direcionado. Pela fé. Que é certeza, dada pela esperança. Logo, quando não há nada a fazer, há muito a fazer. Orar. Problema entregue a Deus, de Deus é! Se aquiete, Valjean. Você nada pode. Mas Deus tudo pode. Como Ele ouve orações de fé, então, você tudo pode! Naquele que te fortalece. Diz a Bíblia. 

    Hoje, 10/06, às 16 hs, lanço meu livro “Para ler em voz alta na soleira do dia ruim – Crônicas de fé e esperança” na Casa Claudio de Souza. Aguardo você.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com


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