• Você, mulher, viajando sozinha?

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  • 07/03/2019 11:00

    As muitas conquistas das mulheres no mercado de trabalho, na política e com relação a comportamentos sociais ainda enfrentam graus variados de machismo ao redor do mundo. Viajar sozinha ainda é tabu para muitos, motivo de preconceitos e medos. Casos como o do assassinato das duas viajantes argentinas no Equador em 2016 sempre provocam questionamentos que põe a culpa na mulher, como se ela tivesse abusado do seu direito de ser livre e dado sorte ao azar. Na contramão das críticas machistas (que sempre surgem em situações desse tipo), cada vez mais mulheres têm perdido o medo e se aventurado a encarar uma “viagem solo”.

    O termo ficou popularizado logo após os comentários nas redes sociais com relação à morte das duas argentinas. Um movimento virtual com a hashtag #ViajoSola incentivava às mulheres a compartilharem suas experiências para encorajar outras viajantes.

    Em 2013, resolvi fazer um intercâmbio universitário na França. Deixei namorado, família, casa e passei cinco meses morando sozinha em outro país. Era um sonho antigo, mas, ainda assim, na primeira noite no meu minúsculo studio (como os franceses chamam as quitinetes) no sexto andar de um prédio sem elevador, o arrependimento quis bater à porta, enquanto pensava em como seria passar o resto do tempo completamente sozinha naquele lugar. Naquele momento, de alguma forma, consegui encontrar paz na minha própria companhia.  

    Nos meses que se seguiram minha vida foi a junção de desenvolver o francês, arranjar um trabalho, dar conta da faculdade, “turistar” constantemente e aprender a viver em outra sociedade. Tive que descobrir coisas básicas, desde como funcionava o chip de celular e abrir uma conta bancária, até coisas mais abstratas, como olhares e posturas e o que elas significavam (cantadas na rua, por exemplo, lá são tão raras e discretas, que só passei a perceber no fim do intercâmbio; lidar com a rapidez e extrema objetividade dos garçons franceses em restaurantes, bom, acho que saí de lá sem aprender). E sempre que podia tentava organizar curtas viagens para aproveitar tudo o que podia nos arredores. Viajar sozinha foi a melhor experiência que tive. 

    Mas não é perigoso? E se algo acontecer? São perguntas frequentes, para as quais respondo com a pergunta “Isso seria perguntado a um homem?”. É óbvio que mulheres estão em uma situação de maior vulnerabilidade, mas este excesso de zelo é resquício do machismo. A mulher brasileira corre mais risco no seu dia-a-dia do que viajando sozinha pela Europa, por exemplo. E há diversos cuidados que se pode tomar no planejamento da viagem para reduzir riscos.

    No mês em que nos lembramos de todas as lutas das mulheres para que chegássemos até aqui, com a certeza de que a luta continua, que você, mulher, seja cada vez mais dona do seu próprio destino – ou muitos destinos, com um passaporte carimbado para diversos lugares.

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