
Vivendo e não aprendendo!
Maria, criatura de boa família, pai advogado e mãe funcionária pública, elegeu o magistério inspirada na avó paterna e por isso mesmo acabou por colar grau no então curso normal, instituição educandária situada em Juiz de Fora, Minas Gerais.
O pai, brilhante causídico, atuando profissionalmente não só perante a Comarca de Juiz de Fora, mas, também, em Belo Horizonte.
A mãe, por outro lado, servidora de uma empresa pública do governo federal, eis que após trinta e cinco anos de efetiva prestação de serviços, requereu sua aposentadoria.
Maria, a filha, nesta altura, já tendo completado vinte e seis anos, não se preocupava em ouvir os aconselhamentos dos pais, como, também, nunca demonstrando vontade de se casar e constituir família, como outrossim, exercer o magistério.
A mãe, criatura inteligente e perspicaz, constantemente ponderando que Maria cuidasse de mudar o seu comportamento, afinal formada professora, com certeza, poderia se tornar boa mestra, além de receber proventos pelo exercício do cargo.
Tais aconselhamentos, entretanto, de pouca valia, porquanto a filha sempre a argumentar que os pais sendo ricos, nunca necessitaria trabalhar, nem mesmo como professora.
Ocorre que a mesma não se apercebera que o mundo gira e não relembrando com relação a tantas situações que já lhe haviam batido à porta, ainda assim deixando de aceitar os bons conselhos da mãe, verdadeira batalhadora.
Maria, na verdade, nunca acreditara que a vida é mesmo “uma roda gigante, ora no alto, ora no baixo”.
O pai veio a falecer e os recursos financeiros cessaram de chegar à família, a exceção do valor da pensão paga à esposa, em razão do falecimento do marido.
Em decorrência, difíceis momentos a serem enfrentados pela mãe e filha.
Maria, por sua vez, sempre muito descuidada no tocante às surpresas que a vida proporciona às pessoas e por continuar na firme decisão de não querer enfrentar o “batente”, ainda que convidada pelo diretor de uma escola particular situada nas proximidades da residência da família!
Transcorridos seis meses, a mãe veio a falecer.
A filha, nesta altura, completamente perdida e sem saber o rumo a ser tomado.
Infelizmente, não aprendeu, talvez por vaidade ou por quaisquer outros motivos, que o trabalho tem o condão de enobrecer as pessoas.
“Pobres” daqueles, como a ora figurante, que não conseguem valorizar o trabalho, até porque o mesmo não é só responsável pela sobrevivência das pessoas, mas, também, fonte de renda, do crescimento econômico, sem deixar de exprimir que o trabalho colabora, e muito para a alto estima daqueles que ao mesmo se dedicam.
Maria, lamentavelmente, nunca conseguiu compreender a importância do trabalho, também, como fonte de interação social, terminando sua trajetória tristemente sob eternas preocupações e muito doente.
Certamente, não conheceu o que escreveu o poeta que nos legou a trova abaixo:
“Quem o trabalho deplora
em causa má se agasalha,
já que, infeliz, ignora,
quanto é feliz quem trabalha”.