Vítimas das chuvas fazem protesto cobrando obras na Rua do Túnel
No local, superintendente da Seinfra garantiu que estudos para obra no túnel começam semana que vem
Moradores da Rua do Túnel fizeram um protesto na comunidade reivindicando ações efetivas, após as crateras que abriram com as chuvas deste ano, uma continuação de um problema que já se arrasta há mais de 25 anos na localidade. O protesto aconteceu durante uma visita técnica convocada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), com a presença de especialistas e da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras (Seinfra), onde o Estado garantiu que o trabalho de levantamento para a obra no túnel começará na próxima semana.
A visita desta quinta faz parte de uma série de vistorias convocadas pelo Ministério Público em localidades afetadas pelas chuvas, com o objetivo de entender de perto as principais demandas e cobrar ações efetivas das autoridades. Durante a visita, a procuradora do MP Denise Tarin destacou que as obras no local precisam começar imediatamente.
“Essa visita técnica coloca a comunidade da Rua do Túnel no protagonismo. Os moradores estão afetados emocionalmente, fisicamente, (pois) muitos tiveram suas casas destruídas e a insegurança ainda continua. Sabemos que a decisão do Doutor Jorge não foi cumprida: as obras não começaram e a gente precisa dessa prestação de contas. O papel do MP é reivindicar, entrar com as ações, entrar com os recursos. Tudo isso foi feito e as obras não começaram. Temos que avançar porque a Justiça tem que prevalecer”, disse a procuradora, ressaltando, também, que a presença das autoridades no local é de extrema importância para que os moradores tenham respostas.
“Estamos em cima e essa questão de mostrar aos moradores que as autoridades estão trabalhando, que os técnicos estão trabalhando, é também um conforto, um acolhimento. Precisávamos estar aqui”, concluiu Denise Tarin.
A visita técnica foi realizada nos pontos mais críticos da localidade, do trecho próximo à Rua Francisco Scali até o fim do túnel, na Rua Pedro Elmer, próximo ao Clube Palmeiras. Em todo o trajeto, cartazes cobrando ações e pedindo socorro podiam ser vistos pendurados em portões, muros e grades de isolamento em trechos com crateras.
Logo na entrada do trecho, um cartaz dizia “Bem vindos à rua dos buracos”, enquanto outra garantia que “o túnel deixou de ser extravasor, colocando em risco nossas vidas por omissão de anos do poder público”. No trecho mais afetado, cerca de 50 moradores realizaram uma manifestação, gritando por soluções para o problema da localidade.
“A principal necessidade é que essa obra ocorra o mais rápido possível, porque o direito de ir e vir dos moradores foi prejudicado, além da insegurança de todos aqui, porque não se sabe o que vai acontecer na primeira chuva forte que houver. Ninguém tem noção do que pode acontecer com as chuvas de verão. Queremos providências pra ontem”, disse Antônio Lúcio Monteiro, advogado e presidente da Associação de Moradores da Rua do Túnel.
Hélito Fraguas, morador da localidade que caiu em uma cratera que se abriu na garagem de uma casa, participou da manifestação e lembrou que, enquanto as intervenções não são concluídas, os moradores continuam em risco. Em 1995, a casa de Hélito foi tomada por água e ele quase morreu afogado. Agora, depois do acidente deste ano, ele ficou mais de 40 dias internado, passou por cinco cirurgias e levou 386 pontos no corpo.
“Estou a minha vida toda esperando essa obra. Quase perdi a vida aqui duas vezes, mas não sei se na próxima vou sobreviver. Do jeito como estou agora, como fujo? É muito descaso, negligência. O que mais precisa acontecer para alguém fazer alguma coisa?”, questionou Hélito.
Já Fabiana Dias Pinto, que mora na Rua do Túnel há 13 anos, conta que as crateras abertas no início do ano continuam aumentando de tamanho dia após dia.
“É omissão de todos os lados. As verbas chegam e não vêm pra cá. Precisam olhar por nós, porque a situação só piora. Em três meses, os buracos só aumentaram, alguns duplicaram, triplicaram. Não é seguro pra ninguém”, disse Fabiana.
A pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e membro do Comitê Piabanha, Rafaela Facchetti, foi à vistoria e ressaltou que o projeto de recuperação deve ser apresentado o mais rápido possível.
“O projeto deve ser apresentado pela Seinfra o mais rápido possível, junto do projeto da rede coletora de esgoto e de águas pluviais pela Águas do Imperador, para que possa ser feita uma avaliação. Até agora, só estamos vendo o que aconteceu e que só vai piorar ao longo do tempo se ficar da forma que está”, disse Rafaela, lembrando que o grande problema com o extravasor é a falta de manutenção desde sua criação.
“Não é o túnel que é ruim, é a forma como se interagiu com ele ao longo desses 50 anos. Mais uma vez a leniência do poder público fazendo vista grossa pro problema há muito tempo. Pelo o que vimos, várias crateras foram cheias com terra e pedras pelo poder público, mas a manutenção desse túnel nunca foi feita, e aí nos perguntamos: de quem é a responsabilidade?”, indagou a pesquisadora.
Seinfra promete início dos trabalhos para a próxima semana
Durante a vistoria, o superintendente de obras especiais da Seinfra, José Beraldo, garantiu que o levantamento para a recuperação do túnel e da Rua Francisco Scali começa na próxima segunda. De acordo com Beraldo, o projeto vai ser concluído junto das obras.
“Já recebemos as propostas das empresas, e agora são poucos dias para que o processo seja iniciado. Nossa ideia não é esperar fazer um projeto e depois executar a obra. Vamos definir um trecho, operar ali, e continuar avançando dessa forma, em paralelo. Acredito que desta forma vamos avançar bastante antes das próximas chuvas”, disse José Beraldo.