• Virando a página : Serra-Meirelles

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  • 03/05/2016 11:05

    Os governantes sempre nos dão muitas alegrias: se não for quando entram, certamente quando se despedem.

    Estamos no momento de virar a página, pelo menos na gestão da economia. Três objetivos são indispensáveis: (1) Resgatar do desemprego grande parte dos 10 milhões de brasileiros, (2) Reduzir a inflação para os patamares que melhorem o poder aquisitivo das classes menos favorecidas e (3) Recuperar o controle das contas públicas e o grau de investimento externo, símbolo da visão positiva do país no exterior.

    Neste momento há duas grandes apostas para comandar a economia ou ocupar ministérios importantes: José Serra e/ ou Henrique Meirelles, sobre os quais reproduzimos alguns comentários publicados em artigos anteriores. 

    José Serra: começando pela área social, a percepção de Serra é de que a educação, muito mais do que a construção de escolas, merece reformas profundas na qualidade do ensino, na capacitação dos professores e na elevação dos conteúdos transmitidos às novas gerações, do ensino primário às escolas técnicas profissionalizantes.

    Mas, se a educação é crucial, é apenas um capítulo de diversas questões que precisam ser vencidas na organização social. Na Saúde, em semelhança com a Educação, o investimento prioritário deve ser na humanização, no incentivo ao acolhimento e carinho aos necessitados, de modo que o sistema de consultas, tão necessário, seja acelerado. Cita a forma de gestão e de formação de equipes, onde cabem indicações por competência e não partidárias: o exemplo mais grave disto no governo atual, foi a perversão das Agências Reguladoras, especialmente no setor que conhece bem por ter sido Ministro da Saúde, como a Agência dos Planos de Saúde e a ANVISA e na FUNASA, que estão sendo foco de loteamento político e consequente desmoralização das instituições.

    Seu princípio de administração pública passa pelas alianças indispensáveis, mas desde que não haja outros compromissos que não os de competência e ética. Para Serra, a oposição não é inimiga mortal como quer a situação, mas apenas uma adversária no jogo democrático, com respeito às leis e aos poderes constituídos, com maturidade.

    Serra, frequentemente avaliado como tendo ideias estatizantes, diz ser necessário um estado musculoso e não obeso como o que tem prevalecido com o enorme desperdício de recursos públicos mal gastos, junto com a arrecadação tributária mais alta do mundo, maior taxa de juros e absurdamente menor taxa de investimentos.

    Serra vê, assim, grande espaço na melhoria de gestão e redução de custos, para que se gerem recursos para novos investimentos, tendo relatado que em um ano de Prefeitura de São Paulo, um dos maiores orçamentos do país, reverteu, com estes métodos, sua situação financeira então precária.

    A reforma tributária tem de sair do discurso: hoje quem paga, paga o dobro, pois há muitos não pagantes, indiretamente beneficiados, havendo um enorme espaço de redução de custos, sob o lema de se "gastar menos com a máquina e mais com as pessoas".

    Há muitos bônus a considerar: a possibilidade de investimentos na infraestrutura, através das concessões inteligentes. Na área de intervenção estatal, Serra critica a política comercial externa brasileira, que não protege a indústria nacional do dumping, criando um modelo de redução do emprego.

    Serra identifica, como prioridades, três itens de melhoria imediata do conforto da população: segurança, saúde e emprego.

    Henrique Meirelles

    Repetir fórmulas de sucesso tem sua validade, e o momento da economia brasileira poderia seguir este exemplo.

    Em 2002, às vésperas de um novo governo, a incerteza sobre os rumos da economia, com a possibilidade de ruptura das regras vigentes, fez a nossa moeda rapidamente se desvalorizar até chegar praticamente à cotação de R$ 4,00 por dólar. Diante da possível instabilidade e de histórias recentes de confisco dos depósitos, quem tinha liquidez procurou se refugiar em outros ativos, fossem imóveis ou moeda, desde que não fosse a nossa.

    A situação só voltou ao controle quando, de fato, Henrique Meirelles, junto com a equipe econômica do novo governo, foi se instalando e tranquilizando o mercado. O reflexo do movimento da taxa de câmbio expressa claramente o retorno à confiança no Real, somente quebrada recentemente com a crise internacional cujo clímax ocorreu em setembro de 2009, com a quebra do banco Lehman Brothers e o que se sucedeu.

    Meirelles é um símbolo: banqueiro profissional com longo e respeitado currículo em instituições internacionais, foi a âncora na normalização do sistema e uma clara mensagem além fronteiras; sua perseverança e dedicação tem sido um serviço prestado ao país de valor, a despeito de algum excesso de conservadorismo em certos momentos.

    Esperamos que a fórmula anterior de credibilidade se mantenha, pois a estabilidade da moeda é a base da harmonia da economia e do crescimento econômico, já que ninguém investe se a incerteza é alta.

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