• Violência contra mulher: número de ações aumentou 91% em um ano

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 25/02/2018 08:20

    Um levantamento feito pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) revelou que em um ano houve um aumento de 91% nas denúncias e queixas de violência contra a mulher que chegam ao Juizado Especial Criminal de Violência Doméstica da Comarca de Petrópolis. Em 2016, o órgão registrou 359 casos do tipo. No ano passado, este número passou para 686. No mesmo período, a quantidade de medidas protetivas concedidas as vítimas pela justiça aumentou 33%.

    Os números divulgados pelo Tribunal de Justiça assustam, mas para a coordenadora do Centro de Referência em Atendimento à Mulher (Cram), Cléo de Marco, revelam também que as mulheres estão deixando o medo de lado e cada vez mais denunciando os agressores. "O que percebemos é que estão procurando mais ajuda. Sabemos de todas as dificuldades que elas tem em denunciar seus agressores, pois em alguns casos existe a dependência financeira, tem a questão dos filhos, mas mesmo assim elas estão conseguindo entender seus direitos", ressaltou. 

    No ano passado, 454 mulheres procuram atendimento no Centro de Referência em Atendimento à Mulher – órgão subordinado ao Gabinete da Cidadania. De acordo com os dados divulgados pela entidade, em um ano houve um aumento de 144% nos atendimentos. Em janeiro de 2017, foram 25 no total. No mesmo mês deste ano, o Cram atendeu 61 mulheres.

    "Elas estão mais confiantes no trabalho desenvolvido pelo Cram. Aqui elas encontram acolhimento, atendimento e orientação. Também pode fazer acompanhamento psicológico, social e fornecemos orientação jurídica. O nosso objetivo é fazer com que ela se sinta segura e confortável", ressaltou coordenadora do Cram.

    Para a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Ana Maria Rattes, o conhecimento dos direitos e o acesso a Lei Maria da Penha tem feito com que as mulheres denunciem os casos de agressão. "Hoje em dia as mulheres não se submetem mais ao julgo masculino. Elas tem voz, denunciam e vão atrás dos seus direitos", frisou.

    Outro dado divulgado pelo TJ e que chama a atenção é a redução na quantidade de ações que foram extintas por prescrição, decadência ou perempção. Em 2016, foram 542 registros deste tipo no o Juizado Especial Criminal de Violência Doméstica da Comarca de Petrópolis. No ano passado, este número passou para 438.

    "O medo do marido ainda está presente e pesa na hora de tomar a decisão de denunciar. A primeira coisa que elas pensam é: o que ele pode fazer comigo se souber que eu fui a delegacia. É algo que elas tem que enfrentar e sabemos o quanto isso é difícil", disse a coordenadora do Cram.

    As ameaças de morte foi o que levou a Luciana Vieira Rodrigues, de 32 anos, a desistir das denúncias de agressão contra o marido Jorge Luiz Evangelista, de 51 anos. Luciana tomou a decisão tarde demais, três dias antes de ser assassinada a tiros pelo marido ao lado dos três filhos – Wesley, de oito anos, Evelyn de 13, e Emili de 10 anos. O crime aconteceu em março de 2017 na casa da família, no bairro Floresta.

    Para a mãe de Luciana, Evanete Vieira, de 53 anos, o medo do marido levou a filha a sempre perdoar e a deixar as denúncias de lado. "Ele dizia que iria matar se fosse a delegacia. Ela tinha muito medo. Mas um dia ela resolveu enfrentar, e fomos na delegacia no domingo, três dias antes daquele monstro fazer o que fez", contou Evanete.

    Na 105ª Delegacia de Polícia (DP), no Retiro, Luciana denunciou a agressão. E no dia seguinte, na segunda-feira, ela foi ao fórum para conseguir uma medida protetiva. "A justiça demorou para ajudar minha filha. Por isso, as mulheres devem denunciar rápido e não ter medo do que eles falam. Elas precisam denunciar o quanto antes para evitar uma tragédia como a que aconteceu com a minha família. Perdi minha filha e meus três netos é uma dor que vou levar para sempre", disse Evanete.

    A casa onde a família morreu está fechada. A mãe de Luciana contou que nunca mais retornou ao local onde viu a filha e os netos morrerem. "Vejo as fotos pelo celular é a forma de ficar mais perto e matar as saudades. Tem muitas mulheres passando pelo o que a minha filha passou é preciso denunciar e impedir que esses homens continuem achando que podem fazer o que querem", ressaltou Evanete.

    Segundo a polícia, Jorge teria matado primeiro as crianças com um tiro na cabeça a queima roupa. Os corpos foram encontrados do lado de fora da casa, na varanda. Depois ele teria ido na casa da avó de Luciana, localizado ao lado do imóvel da família. No local, estava a ex-companheira e a mãe. Evanete contou a polícia que tentou defender a filha, se colocando na frente dela. Quando ele atirou ela caiu ferida, foi quando Jorge pegou a ex-mulher pelo braço a arrastou até o local onde as crianças estavam e atirou na sua cabeça.

    Depois do crime, ele colocou fogo na casa e depois fugiu. Jorge foi encontrado horas depois em uma mata, com cerca de 70% do corpo queimado. Ele ficou internado na UTI do Hospital Santa Teresa (HST), morrendo uma semana depois dos assassinatos. 

    O Centro de Referência em Atendimento à Mulher funciona em um prédio anexo ao lado do Centro de Saúde da Rua Santos Dumont, no Centro. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, de 9h as 17h. Os telefones são: 2243-6212 / 2247-6585 e o número para atendimento de emergência é (24) 98839-7387.

    Últimas