Veterinária morre no Recife com a ‘doença da urina preta’
Morreu nesta quarta-feira, 3, a veterinária Cynthia Priscyla Andrade de Souza, de 31 anos, que estava internada havia 14 dias no Real Hospital Português, em Recife, com um quadro de Síndrome de Haff após ter comido um peixe contaminado por uma toxina. Familiares e amigos de Priscyla prestaram homenagens nas redes sociais: “o céu hoje estará te recebendo com muita luz”, escreveu a mãe.
Priscyla teve morte encefálica declarada após passar por exames clínicos de dois médicos diferentes, que avaliaram pressão, batimentos cardíacos e outros sinais vitais. A paciente foi diagnosticada com a Síndrome de Haff, conhecida popularmente como a “doença da urina preta”.
Ela chegou ao hospital no dia 18 de fevereiro, algumas horas depois de almoçar com a mãe, a empresária Betânia Andrade, a irmã, Flávia Andrade, 36, o sobrinho e duas secretárias. Após comer um peixe da espécie arabaiana, conhecido como “olho-de-boi”, Priscyla ficou com o corpo enrijecido e sem conseguir se movimentar, o que a fez cair. Na unidade de saúde, Priscyla, que tinha asma, logo teve os sintomas agravados e foi transferida para a UTI, onde faleceu.
A irmã, Flávia, passou por exames e também foi diagnosticada com a síndrome. Ela foi internada no mesmo hospital, mas recebeu alta em 24 de fevereiro e se recupera em casa. O filho de Flávia e as duas secretárias também apresentaram sintomas leves da intoxicação. A mãe foi a única a não ingerir o peixe.
Casos em Pernambuco
De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), 15 casos da “doença da urina preta” foram registrados no Estado e confirmados por critério clínico epidemiológico (4 em 2017, 6 em 2020 e 5 em 2021). Os casos mais recentes estão sendo investigados pela secretaria de saúde de Recife.
A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) informou que, até o momento, não há nenhuma restrição voltada para o consumo de peixes e crustáceos no território pernambucano. Em caso de sintomas sugestivos para doença, a SES-PE recomenda que o paciente procure por atendimento no serviço de saúde mais próximo, relatando os sintomas e o histórico de consumo de pescados.
A Síndrome de Haff é uma infecção rara que causa falta de ar, dormência, perda de força muscular e urina da cor de café, de onde vem o nome popular da síndrome. Ela é causada por uma toxina que se forma na carne do peixe malconservado. “A toxina aparece quando não se acondiciona bem o peixe, que é vendido em feiras e peixarias. Quando a carne perde a qualidade e se deteriora, é comum que se formem bactérias e toxinas. A bactéria é perceptível pelo cheiro e pelo gosto ruim, mas a toxina é imperceptível”, explica o médico infectologista Filipe Prohaska, da Universidade de Pernambuco (UPE).
A substância ataca a musculatura e causa intensa dor muscular. “O músculo morre e o rim absorve a parte deteriorada, deixando a urina preta nos casos mais graves. Essa absorção contínua pode lesionar o rim e exigir tratamento com hemodiálise”, explica Prohaska.