• “Vamos lutar até o final por justiça”, disse Willian Silva, pai da menina Heloisa, em entrevista exclusiva à Tribuna

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  • 22/09/2023 09:59
    Por Maria Julia Souza

    “Já estamos vendo quais medidas podemos tomar, mas a gente quer justiça, não estamos pensando em mais nada neste momento. Estamos pensando na justiça, que ela seja feita e que faça logo quem fez isso pagar, porque a minha filha só tinha três anos”, disse Willian Silva, em entrevista à equipe da Tribuna, nesta quinta-feira (21). 

    Nos últimos dias, o país se comoveu com o caso da pequena Heloisa, de apenas três anos de idade, que teve a vida interrompida, após ser baleada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no dia 7 de setembro, no Arco Metropolitano, em Seropédica, após retornar de uma viagem feita para a região de Itaguaí, junto com a família. 

    Willian, pai de Heloisa, conta que ele e a família saíram por volta da hora do almoço, para visitar os parentes e passaram o dia no local. Por volta das 20h, eles já estavam na estrada, a caminho de Petrópolis e, ao chegarem perto do Arco Metropolitano, avistaram uma viatura da PRF parada. Ao passar por ela, ele conta que na sequência, eles seguiram o carro da família, foi no momento em que Willian deu a seta e jogou o carro para o acostamento, sinalizando que iria parar, justamente na hora em que os disparos foram efetuados.

    “No momento em que o carro estava praticamente parado, quando eu estava no acostamento, eles deram os tiros. Sem ter motivo algum, porque ninguém correu, nem nada, não esboçamos nenhum tipo de reação”, contou. 

    Willian relata que ao sair do veículo, com as mãos na cabeça, em direção à viatura, uma vez que os agentes não saíram em nenhum momento do carro, ele parou ao ouvir a cunhada informando que a menina não havia saído do veículo com a família. Ele relata que nesse momento, correu de volta para o carro, pegou a criança e a colocou dentro da viatura.

    “Para ver o despreparo deles, eu que peguei minha filha, eu que coloquei na viatura, junto com todo mundo e eles batendo cabeça, desesperados”, relatou.

    Segundo o depoimento do agente que efetuou os disparos, a perseguição ocorreu após ter sido constatado que o carro era roubado. No entanto, Willian conta que só existe esse registro no sistema da Polícia Rodoviária Federal, uma vez que no Detran, na aba “Nada Consta”, o veículo aparece de forma legal, sem nenhum registro do tipo. Ele ainda conta que a queixa de roubo foi registrada em agosto do ano passado, no entanto, ele só comprou o carro há dois meses. Por conta disso, ele vem sofrendo ataques na internet.

    “O proprietário da concessionária que me vendeu o carro já prestou depoimento, informando as condições nas quais eu comprei o veículo, como foram os pagamentos e tudo mais. Então ele me isentou dessa questão. E a documentação do carro, mostrando que não tinha nenhuma informação [de roubo] já está na mão da justiça”, afirmou.

    Ele conta que a rotina da família tem sido difícil e que se mantém forte, para não deixar os familiares desabarem.

    “É uma situação que devastou a minha família, porque a minha esposa não consegue conversar com ninguém, a minha cunhada está com um problema seríssimo, ficou em choque e não voltou ao normal até agora. A minha filha de oito anos está muito triste, porque ela é muito novinha, ela não entende ainda. Esses dias ela falou para mim: ‘Pai, ela virou uma estrela, mas qual que é? Porque tem um monte. E aí eu falei assim: ‘Filha, é a que mais brilha, e aí ela olha para o nada assim e fica olhando.”

    Presença de 28 agentes da PRF no dia do ocorrido

    Willian conta que estranhou a presença de tantos agentes no Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias, e que a todo momento, eles demonstravam preocupação. Ele relata ainda que em um momento, se sentiu intimidado, quando os agentes pediram para fazer o teste do bafômetro, pediram o endereço dele e o retiraram do hospital, para prestar depoimento, no momento em que a filha passava por cirurgia.

    “Minha esposa até falou: Espera a nossa filha sair da mesa de cirurgia, para pelo menos saber se ela vai viver ou não. E o policial falou algo do tipo: Você não é Deus ou médico, se acontecer alguma coisa com ela, não vai poder fazer nada.”

    Suposto agente à paisana

    Willian relata que não conhecia o agente da PRF e que durante a cirurgia de Heloisa, ele ficou ao lado da família e falava palavras positivas.

    “O agente que entrou no hospital, eu não o conheço, mas até onde eu sei, ele estava bem intencionado. No dia da cirurgia, ele ficou perto da gente o tempo inteiro, falando que tudo ia dar certo e quando a cirurgia deu certo, ele deu um pulo de felicidade”, relatou.

    Ele conta, ainda, que acredita que o erro do agente foi não ter se identificado e que tentou entrar no CTI em que a menina estava internada, acreditando que eles (família) estavam lá dentro.

    “Depois da cirurgia, ele falou que iria ao hospital como Nilton, para nos dar um abraço e ver como ela estava. Ele foi mesmo, só que ele deve ter ido nos procurar lá dentro. Ele foi muito solidário, tentou ajudar de certa forma, perguntou se eu tinha tomado banho, se eu comi, então até onde eu vi, ele estava bem intencionado”, contou.

    Busca por justiça

    A família agora luta para que a justiça seja feita e que Heloisa não vire mais uma criança na estatística.

    “Esse assunto não vai acabar agora, não. Se não sair conforme o correto, eu vou lutar até o final para investigar tudo, tudo o que precisar. Mesmo sendo um órgão federal, a gente vai lutar até o final”, finalizou o pai de Heloisa.

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