• Vale das Videiras: moradores andam até duas horas para chegar ao ponto de ônibus

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 30/01/2018 14:30

    Parte da população do Vale das Videiras vive numa região sem transporte público, com ruas inacabadas e sem iluminação pública. Muitos andam até duas horas para chegar ao ponto de ônibus. Quem vai a passeio à região não imagina o drama dos moradores de uma das áreas mais bonitas de Petrópolis.

    Moradora há 35 anos do Vale da Prata, Elisabeth Pomin Teixeira conta como faz para sair de casa em dias de chuva. “Tem que colocar duas sacolas plásticas em cada sapato, para resistir até o fim do caminho, sem entrar lama no calçado. E é sempre bom sair com uma bengala de casa, pro caso de você escorregar na lama durante a caminhada”, contou. 

    A caminhada à qual ela se refere é o percurso de pouco mais de seis quilômetros entre a sua casa, na Estrada da Prata, até o ponto final da linha de ônibus 605 (Vale das Videiras x Terminal Itaipava). Quem não tem carro, assim como ela, faz o trajeto a pé para sair de casa. Mas isso não quer dizer que depois da caminhada se chega ao destino, pois é preciso enfrentar mais uma hora dentro de um ônibus até o distrito de Itaipava. “São três horas para sair daqui e ir ao mercado, ou ao banco, por exemplo. Isso sem contar as três horas para voltar. Sendo que se tivéssemos uma estrada descente e um ônibus faríamos isso em menos de 1 hora e meia”, ressaltou. 

    Assim como Elisabeth, mais de 200 famílias moram na região, e mantém comércio e sítios nos arredores. “São pessoas que moram aqui e trabalham aqui, ou que moram aqui e trabalham fora. E tem até gente de fora que trabalha aqui. Todo mundo sofre. Você não consegue sair de casa se chover. E mesmo sem chuva e com o tempo ótimo é preciso fazer uma grande caminhada. Transporte público não temos. Táxi aqui não temos, e quando alguém se disponibiliza a fazer uma corrida fica caríssimo. É assim que essa gente vive. É um sacrifício. É um problema muito sério que tem que ser resolvido. São condições sub-humanas”, disse Sebastião de Miranda, que também mora na Estrada da Prata. 

    A moradora Zenade Trindade, de 41 anos, só não passa ainda mais aperto porque tem moto. Mas isso não quer dizer que ela sempre consegue sair de casa. “Nunca ligaram pra gente. Se chover aqui não tem como. Escorrega. É um problema sério”, contou. 

    A história de Waltair Dias de Souza, de 76 anos, é ainda mais comovente. Ele tem apenas uma perna, e leva mais de duas horas para chegar ao ponto de ônibus, com a ajuda de muletas. “Eu acostumei mas não é fácil não. Às vezes ameaço cair, mas seguro firme e sigo em frente. Só acho que precisávamos de mais dignidade. Somos gente também. Tem dia que levo muito mais tempo porque estou cansado demais e preciso ficar parando para descansar. É difícil, mas sempre estamos seguindo em frente”, explicou Waltair. 

    O idoso disse ainda que já pagou mais de R$ 150 por uma carona até o ponto final do ônibus. “Eles cobram carro. E isso só pra ir até o ponto final. Então às vezes prefiro ir a pé mesmo”, disse. Na rua em que Waltair mora, todo mundo passa pelo mesmo problema. “Precisamos de alguém que olhe pela nossa região e que resolva o nosso problema. Temos que ter um ônibus aqui, mas para isso tem que arrumar a rua”, disse. 

    A rua que corta o bairro, a Estrada da Prata, não tem qualquer tipo de calçamento, apenas o barro batido, com pedras e cascalhos que acabam prejudicando ainda mais os motoristas e até pedestres. “Essa rua aqui é um problema sério. Ela esconde armadilhas. Tem que ir devagar e mesmo assim é perigoso demais. Alguns carros nem passam, e se chover só sobe carro preparado pra isso”, explicou Sebastião de Miranda. 

    Questionada, a Prefeitura disse que uma equipe regional da Secretaria de Obras em Itaipava irá fazer vistoria no local para providenciar a manutenção viária na Estrada da Prata. Quanto ao transporte público, o órgão não se pronunciou. 

    Últimas