Unidas para fazer o público rir
Ainda falta uma semana, mas, nesse Brasil de luto pela morte de Paulo Gustavo, é bom saber que o humor estará de volta na segunda, 17, com um trio de amigas que prometem invadir o streaming – Now, iTunes, Looke, Sky, Oi, Vivo, GooglePlay. Arlete Salles, Susana Vieira e Rosi Campos interpretam Nina, Nelita e Rita. São as Amigas de Sorte, comédia dirigida por Homero Olivetto, com base no argumento de Fernanda Young e Alexandre Machado. Você sabe quem é esse Olivetto.
Roteirista de Bruna Surfistinha, o filme que o presidente Jair Bolsonaro quis transformar em bandeira de sua cruzada contra o cinema brasileiro, há cinco anos ele fez sua estreia no longa com Reza a Lenda. Como faroeste nordestino, estrelado por Cauã Reymond, era um filme de ação estiloso, muito bem fotografado e ambientado na áspera paisagem do sertão. Olivetto agora muda o tom, e a paisagem. Três amigas, mulheres maduras, que embarcam numa jornada transformadora. Arlete faz a Nina, que dá duro no restaurante da família e só encontra alento na ligação com Rita e Nelita.
As três vivem apostando na Mega Sena. Inesperadamente, ganham uma fortuna. Resolvem fazer uma loucura. Nina diz ao marido que o trio vai pescar no Pantanal, mas elas pegam um avião e rumam para o Uruguai, hospedando-se no chiquérrimo Hotel Casino, na praia de Carrasco, numa suíte cuja diária custa a bagatela de R$ 15 mil. Dinheiro não é problema, mas as amigas acusam Nina de ser mão de vaca. Arlete diz que está feliz da vida com o papel. “Sempre quis fazer cinema, o cinema é que não queria saber de mim. Agora, estão me descobrindo. Além desse, tenho outro filme pronto para estrear, com a Vera Holtz e a Louise Cardoso.” Outras três mulheres e a personagem de Arlete, em Tia Virgínia, se arrepende da vida que não viveu. Não é o que ocorre em Amigas de Sorte. Terceira idade, melhor idade. “Não precisa colocar a idade que tenho, até porque, com todo esse desenvolvimento científico, as pessoas estão vivendo mais. Ainda vamos chegar aos 110 anos”, brinca. Mas fala sério – “Temos de agradecer por estar sobrevivendo nessa tempestade (da pandemia). Sinto-me privilegiada por estar me cuidando, com minha família, e por poder levar um pouco de alegria às pessoas com nosso filme”.
Rosi tem feito mais cinema do que Arlete e Susana. Achou o roteiro de Amigas bacana. Lusa Silvestre formatou o argumento de Fernanda e Machado. “Esse tema da amizade feminina é bem forte, e verdadeiro. Eu sou a prova disso, porque continuo me relacionando com minhas colegas de escola. Quantos anos faz? Uns 40, e a gente segue se encontrando, agora não, por causa da pandemia, mas seguimos com nossos encontros online. O importante é compartilhar.”
É o que fazem as Amigas. Susana, que faz a mais descolada, arranja um namorado jovem, interpretado por Klebber Toledo, com direito a reviravolta. “Para falar desse filme, tenho de falar dessas três atrizes maravilhosas. Foi um privilégio contracenar com elas. Aprendia o tempo todo”, conta Toledo. O clima de descontração entre as amigas se reproduzia no set. “Todo mundo se divertia muito, mas com profissionalismo”, destaca Rosi. “O Homero é um diretor muito cuidadoso. Cuida da imagem, do elenco. A Susana, que é a mais descolada das três, tinha sempre alguma ideia a acrescentar e o Homero é receptivo. Foi uma época bem feliz, de troca, para a gente.”
Para quem está de quarentena, Arlete tem estado em evidência. A Globo reprisou Fina Estampa na faixa das 9. Na novela de Aguinaldo Silva, ela fazia a taxista Vilma, amiga da Griselda de Lília Cabral. E, agora está no Toma Lá Dá Cá, que a emissora reapresenta nas tardes de sábado. “O Miguel (Falabella) foi muito feliz naquele texto. É meio clichê dizer que certas personagens são presentes para atores, mas a Copélia foi. O tema da sexualidade das pessoas maduras é tabu na sociedade, como se velho não pudesse ter desejo. Miguel criou essa figura transgressora e o público embarcou na nossa viagem. Aquele condomínio Jambalaya virou um espelho do Brasil. Copélia poderia ser uma personagem chocante por sua liberalidade, mas as pessoas a adotaram. Mesmo muitos anos depois, ainda dava para sentir o carinho do público por ela, e agora, com a série no ar, o Miguel fica me falando das reações nas redes sociais. Sou meio trôpega com a tecnologia, mas ele diz que ainda estamos bombando.”
Havia espaço para improvisação em Amigas de Sorte. E no Toma Lá? “Miguel acredita muito no som das palavras, então ele quer que a gente siga o script. Mas, às vezes, pode-se trocar uma palavra, acrescentar alguma coisinha. A verdade é que o texto é tão bem escrito que flui. Não precisa acrescentar. A música das palavras embala a gente. E o Miguel adora bordões. Criou aquele para a Copélia – ‘Prefiro não comentar’. Até hoje tem gerente que repete isso para mim.” Em Amigas de Sorte, a Nina é nordestina – como Arlete – às voltas com italianos numa cantina do bairro paulistano Bexiga. Já viram a salada, não é? “Eu fazia meu melhor sotaque italiano, mas, de vez em quando, arranhava em alguma fala nordestina. Acho que essa descontração está na tela. O público vai gostar.”
E Arlete revela: “Sempre fui muito tímida, então essas personagens me ajudaram a liberar facetas minhas que estavam reprimidas. A Nina é bem isso. A viagem termina sendo libertadora para ela. Aliás, para todas, mas eu posso dizer com certeza que a Nina que volta para casa no fim do filme é outra. O empoderamento é uma realidade que se manifesta até nas pequenas coisas do cotidiano. Com leveza, o filme mostra como o mundo e nós, as mulheres, estamos mudando”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.