• Um verso para ela

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  • 23/11/2017 12:00

    Intencionalmente deixei para escrever a presente após o transcurso da data de Finados e, também, do dia quatro de novembro, eventos que só me trazem recordações e lembranças.

    Assim é que o dia dois de novembro, dedicado aos mortos e como minha mãe partiu há quase três anos, sem que, em nenhum momento pudesse esquecê-la, decidi deixar que fossem passados os dias em questão para, então, relembrar alguns fatos e momentos que marcaram a sua indelével figura, especialmente gestos de carinho e atenção dedicados ao filho.

    Professora, profissão escolhida inspirada pela irmã, a também professora Elvira Barenco Alonso, à época em que aos mestres já não lhes era dada a devida importância que mereciam e se, por outro lado, vislumbrarmos o momento presente iremos constatar que o olhar do poder público para com os mesmos continua pálido, uma vez que não são valorizados em razão dos relevantes serviços que prestam àqueles que se sentam nos bancos escolares, especialmente no tocante ao então ensino primário, atual fundamental.

    Contudo, e há que se lamentar, que o preço a ser pago por tal desídia já vem sendo imputado à população através de procedimentos que se praticados por parte daqueles que, certamente não puderam ter acesso à escola. 

    No caso de minha mãe, por ela fui alfabetizado e a educação recebida de uma pessoa severa e enérgica, esposa carinhosa, tudo isso aliado a muitas outras qualidades, sem falar na devoção à Igreja Católica e se é que me lembro, sempre com o terço às mãos, em especial no fim de sua trajetória neste mundo tão conturbado e confuso onde muitas pessoas, evidentemente, não generalizando, preferem e elegem o confronto em detrimento do diálogo e da paz.

    Quatro de novembro se passou, faria noventa e nove anos; acredito, piamente, que esteja bem e que o Senhor e Maria a tenha acolhido no berço destinado àqueles que por aqui passaram só a fazer o bem e ajudar o seu próximo, como o fez D. Maria Regina.

    Não sou poeta, porém aprecio a poesia e porque não afirmar, deixando a modéstia de lado, o que escreveu o poeta, meu pai, quando se dirigiu à esposa querida, através de “Um verso meu”:

    “Um verso meu…

    Se acaso escrevo um verso, embora tosco, / mal feito até, descolorido e fosco; / sem esse brilho que lhe empresta o esteta / que enfeita e move a pena do poeta; / sem os lavores que lhe dá o artista, que, através do buril, lauréis conquista; / pobre em forma, na sua contextura, / na sua rima, e mesmo na moldura, / sem ornatos… Mas que contrasta o fundo, / pois nele ponho, com pureza d’alma, / todo o meu sentimento, e o mais profundo; / com isso, jamais, confesso, eu tive em mente, / ver meu nome em destaque, reluzente; / colher de outrem sequer uma só palma / – esse aplauso fugaz que, como a chama / da vela, apaga-se ao sabor do vento; / tampouco eu procurei, um só momento, / buscar a glória, ter prestígio e fama. / Antes, pelo contrário, em meu recesso, / a nenhuma ilusão eu dei acesso. / É razão para mim de dissabor, / quando me falam que outra gente o lê, / porque UM VERSO MEU, seja qual for, / foi sempre escrito apenas pra você. 

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