• Um petropolitano chamado Zweig

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  • 22/01/2017 09:00

    Conversando em roda de amigos um assunto veio à tona. O que é ser petropolitano. Um critério se destacou dos demais: é amar Petrópolis. Este passou por cima de todos os outros, tais como, nacionalidade e naturalidade. Vários exemplos podemos citar: Dom Pedro II, Major Koeler, Cláudio de Souza, Santos Dumont, Stefan Zweig, entre outros. Todos escolheram Petrópolis por amá-la, mais do que muitos aqui nascidos. Rimos muito quando alguém lembrou que as pessoas que escolheram Petrópolis como opção, eram chamados, pelos aqui nascidos, de forasteiros. Até matérias escritas a esse respeito, foram comentadas e criticadas. De repente veio a minha cabeça a memória de um filme chamado “O Grande Hotel Budapeste”. Wes Anderson, diretor do filme, revelou que a história se baseou em dois livros do escritor austríaco Stefan Zweig: Coração Impaciente e o póstumo Êxtase da Transformação. 

    O filme foi lançado na abertura do 64º Festival de Berlim, em 6 de fevereiro de 2014 e recebeu vários prêmios. “Inspirado na obra de Stefan Zweig (Viena, 1881 – Petrópolis, 1942)”, diz o letreiro na tela, que tem deixado muita gente se perguntando sobre qual a relação entre o longa do cineasta norte-americano com a cidade serrana do Rio de Janeiro. A resposta está na vida e obra do escritor austríaco que Anderson descobriu recentemente e que foi responsável por cunhar a frase “Brasil, o país do futuro”. Nascido em Viena em 1881, Stefan Zweig era frequentemente considerado "o escritor mais traduzido do mundo" entre os anos 1920 e 1930, e suas ágeis novelas e biografias psicológicas eram best-sellers internacionais, consumidas por fãs de Londres à América Latina. Ele viajava com frequência, dando palestras lotadas em diversos pontos do mundo, e conhecia as maiores figuras artísticas e intelectuais de seu tempo, como Albert Einstein e Sigmund Freud, chegando a discursar no funeral deste último. 

    Zweig, infelizmente, teve um passamento trágico. Suicidou-se, juntamente com a sua segunda mulher, Lotte, no seu exílio brasileiro, em Petrópolis, em 1942, no fragor da segunda guerra mundial, deixando a seguinte declaração: “Antes de deixar a vida por vontade própria, com a mente lúcida, imponho-me a última obrigação: dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou, a mim e à minha obra, tão gentil e hospitaleira guarida. Em cada dia aprendi a amar este país, mais e mais. Em parte alguma poderia reconstruir a minha vida agora que o mundo da minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois dos 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo.

     Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a terra. Saúdo a todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.” A casa onde o casal morou e morreu é hoje um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig. “No mar, tanta tormenta e tanto dano, tantas vezes a morte apercebida; Na Terra tanta guerra, tanto engano, tanta necessidade aborrecida!; Onde pode acolher-se um fraco humano? Onde terá segura a curta vida; Que não se arme e se indigne o céu sereno, contra um bicho-da-terra tão pequeno?” – Luís de Camões / Os Lusíadas (os quatro últimos versos – em caligrafia gótica e emoldurados – estavam pendurados na parede do quarto de dormir de Stefan Zweig na sua casa de Petrópolis). Visite a Casa Stefan Zweig, a exposição recém-inaugurada e emocione-se com a sua história.

    achugueney@gmail.com




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