• Um passeio pelos jardins de Petrópolis

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  • 16/mar 10:00
    Por Aghata Paredes

    Petrópolis, a cidade que mescla história e natureza, reserva experiências memoráveis para quem busca refúgio em meio aos seus jardins. Nesse sentido, em um cenário onde a história da aviação, a literatura e a natureza se entrelaçam, a La Grande Vallée, ou a Casa do Pequeno Príncipe, convida seus visitantes a um passeio especial. Sob os cuidados do dedicado proprietário, José Augusto Wanderley, o espaço já foi frequentado por pilotos ilustres, como Jean Mermoz e Henri Guillaumet, além do proprietário da época, Marcel Reine. Dessa maneira, a propriedade preserva os laços com a era dourada da aviação do século XX. Durante a visitação, o público tem acesso a livros raros e modelos em escala de aviões que transportaram os primeiros correios para a América do Sul.

    Mas é nos jardins que a experiência ganha charme e não à toa é o local escolhido para a narrativa que se desenrola em 1h30. A visita guiada é feita a partir de uma apresentação nos jardins, podendo ser ao redor da piscina, na varanda ou sob um toldo para proteção contra chuva. 

    Sob a orientação da paisagista Heloisa da Veiga, ou simplesmente Helô, os jardins da propriedade possuem flores e arbustos diversos, desde solandra, ora-pro-nobis, bromélias, gengibre-magnífico, manacás, rosas, tumbérgias até hortênsias. Além disso, da rosa à ovelha, dos personagens dos asteroides ao próprio Pequeno Príncipe, cada recanto é enriquecido com elementos que transportam visitantes de todas as idades para o universo da obra do escritor francês.

    Segundo José Augusto Wanderley, a entrada da propriedade, localizada em frente ao Km 57 da BR-040, sentido Rio, oferece uma visão privilegiada da imponente Pedra do Elefante do outro lado da rodovia, sentido Juiz de Fora, sugerindo que essa paisagem possa ter inspirado o icônico desenho do elefante engolido pela jiboia nas primeiras páginas da obra “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint- Exupéry.

    Os proprietários da casa estão sempre envolvidos na cena cultural da cidade, do Rio de Janeiro e da França. “Mantemos contato com a família do autor do livro, Antoine de Saint- Exupéry, na França, com os familiares de sua esposa, Consuelo Suncin, em El Salvador, com a Associação e Memória da Aéropostale no Brasil (AMAB), e hospedamos recentemente a visita de suas sobrinhas-netas que vieram ao Brasil para celebração dos 80 anos do livro e inauguração da exposição “Pegadas do Pequeno Príncipe”, que aconteceu no Shopping Rio Sul no Rio de Janeiro”, destaca José Augusto Wanderley.

    Em Petrópolis, a La Grande Vallée desempenha um papel importante no panorama turístico. A avaliação máxima e a classificação como o local mais visitado de Itaipava e o 6º lugar em Petrópolis no TripAdvisor, maior portal mundial de informações turísticas, refletem o reconhecimento e apreço dos visitantes. “Desde a inauguração para visitas agendadas e guiadas, embora situada fora do Centro Histórico, a propriedade obteve apoio significativo da Prefeitura de Petrópolis. Essa colaboração não apenas elevou a importância de Itaipava como destino turístico, mas também introduziu novas opções para enriquecer a experiência dos visitantes em nossa cidade imperial”, ressalta o proprietário. 

    Os interessados em visitar a casa podem agendar previamente, de quinta a domingo, às 11h, sendo recomendável a coordenação direta com o proprietário para confirmar os dias e horários disponíveis.

    Ingressos:

    Adultos: R$35;

    Crianças e adolescentes até 18 anos: R$30;

    Idosos a partir de 65 anos: R$30;

    Isenção de pagamento para crianças até 5 anos.

    Ali perto, inserido em uma área de 3 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica preservada, o Santuário Vale do Amor, na Fazenda Inglesa, convida os visitantes a pensarem na importância do diálogo inter-religioso em um ambiente de paz e harmonia.

    Logo na entrada, os visitantes são convidados a fazerem a transição do mundo cotidiano para o sagrado, marcada pelo simbolismo do Torii, um portal da tradição xintoísta japonês. Esse convite à espiritualidade é reforçado pelos princípios do Xintoísmo, a mais antiga religião do Japão, que vê a divindade em todos os elementos da natureza.

    Ao adentrar o Santuário, os visitantes encontram o Jardim Oriental, onde o símbolo Yin/Yang representa a dualidade equilibrada do universo. Mais adiante, um altar dedicado a Ganesha, na tradição hindu, destaca-se como o “removedor de obstáculos”, proporcionando uma ponte entre diferentes tradições religiosas.

    Foto: Divulgação

    O Vale do Amor abraça aproximadamente 10 jardins, cada um refletindo uma tradição religiosa distinta. O Budismo, o Taoísmo, o Xintoísmo e o Hinduísmo têm seus lugares, assim como o Cristianismo, homenageado pela Igreja de Francisco e Clara, e as religiões de origem africana, homenageadas pela Cachoeira de Aruanda.

    O Altar de Kuan Yin, deusa da misericórdia, revela uma simbologia curiosa. Bancos representam a combinação do Yin/Yang e três linhas distintas simbolizam a interação entre o céu, o homem e a terra. No local, também destaca-se o Templo Hindu, que homenageia Sri Ramakrishna, Swami Vivekananda e Sarada Devi.

    O Santuário Vale do Amor está localizado na Estrada Mata Cavalo, s/n, Fazenda Inglesa, e está aberto diariamente, das 8h às 17h.

    Ingressos:

    De segunda a sexta-feira: R$20;

    Fins de semana e feriados prolongados: R$40 (inteira), com cashback de R$10; R$20 (meia). A meia-entrada é válida para pessoas acima de 60 anos, estudantes de qualquer idade, jovens até 21 anos, indivíduos com deficiência física e professores da rede pública.

    Em direção ao Centro, o passeio pelos jardins da cidade continua no Retiro. Lá, petropolitanos e turistas encontram mais um refúgio especial, fundado em 1870. O Orquidário Binot, o mais antigo do país, cujo projeto foi feito pelo paisagista Jean Baptiste Binot, que decidiu deixar a Europa e escolher Petrópolis como morada, em 1845, com o apoio de Dom Pedro II. 

    Foto: Aghata Paredes

    Em 1854, Dom Pedro II convidou o jardineiro-horticultor para executar os jardins de sua residência de verão, atualmente, o Museu Imperial. Depois de executado esse trabalho, Dom Pedro deu a ele, como prêmio, o terreno onde hoje é o Orquidário Binot.

    O filho de Jean, Pedro Maria Binot, com os conhecimentos de horticultura obtidos na Bélgica, retornou ao Brasil e passou a coletar orquídeas e plantas tropicais. Naquela época, as plantas eram destinadas à exportação. Em 1870, ele levou o primeiro lote de plantas à Bélgica. Dessa forma, foi fundado o Etablissement P.M Binot. Foi ele o responsável pela construção das primeiras estufas e pela introdução de espécies sul-americanas de Cattleya no Brasil. Em 1911, Pedro faleceu. Quem assumiu o orquidário foi seu enteado, Georges J. A. Verboonen. Depois de sua morte foi a vez de Jorge Verboonen. Em 1845, o nome do estabelecimento foi modificado para Orquidário Binot. 

    Desde 1979, quem mantém as tradições do local é Maurício Ferreira Verboonen. Engenheiro agrônomo e dedicado, ele faz parte da 5ª geração da família que trabalha com orquídeas. 

    O espaço está aberto para visitação diariamente, das 08h às 18h. Os visitantes podem aproveitar a área de exposição permanente, de 1.000 m², a área de cultivo e o lago com carpas. A entrada é gratuita. 

    No Centro Histórico de Petrópolis, o circuito pelos jardins da cidade continua nos exuberantes jardins do Museu Imperial, passando pelo jardim da Casa da Princesa Isabel, até o jardim da Casa de Petrópolis Instituto de Cultura.

    Quem anda pelos jardins do Museu Imperial, idealizado por Jean Baptiste Binot, fica encantado com a diversidade de fauna e flora locais. Nos últimos anos, com o intuito de preservar as espécies dos jardins de forma sustentável, além de oferecer alguns cuidados às espécies mais frágeis, nativas ou não, o espaço recebeu uma estufa. Os maiores beneficiados são os visitantes do Museu, que têm o privilégio de passar algum tempo admirando as espécies do local, e as surpresas são muitas. São mais de 100 espécies entre árvores, flores e frutas, sem falar nos animais que são atraídos pela flora local. 

    Foto: Aghata Paredes

    “No contrato [assinado em 1854], havia algumas obrigações, como importação de plantas estrangeiras, grama francesa e plantio de árvores exóticas. Até hoje, conservam-se as linhas paisagísticas primitivas dos canteiros, e buscamos manter a disposição das espécies. A lista de plantas foi bastante variada, incluindo ciprestes hindustânicos, pândanos da África, palmeiras da Austrália, árvores de incenso, bananeiras de Madagascar, jaqueiras, ingás, cedros, magnólias, camélias, jasmins, flor do imperador, ipê amarelo, árvore das patacas, café, chá da Índia, grumixama, três marias bromélia, cactus do Peru, strelitzia da Austrália, pau-ferro, agave, hortênsia, eucalipto, pau-brasil, jacarandá-mimoso, íris, agapanto, roseiras, azaleias de vários tons, além de espécimes frutíferas como morango, macieira, abacateiro, cambucá, pereira, uva, pessegueiro, nogueiras, cerejeiras, etc. Preservamos as esculturas, os pequenos lagos de peixes e os aconchegantes bancos na sombra das árvores”, explica Claudia Maria Souza, coordenadora técnica do Museu Imperial. 

    Segundo a equipe do Museu Imperial, a manutenção dos jardins é feita por uma empresa contratada com jardineiros e auxiliares de jardinagem orientados por técnicos e servidores da casa. “Além disso, estamos sempre estabelecendo parcerias com a Prefeitura de Petrópolis através da Defesa Civil para fiscalização e poda das árvores. Sempre que necessário, consultamos botânicos e paisagistas para uma orientação mais especializada e procuramos manter uma conversa permanente com o IPHAN”, ressalta a coordenadora técnica. 

    Uma das plantas que despertam curiosidade em quem visita os jardins do Museu Imperial é a árvore da pataca, que até hoje é cercada por lendas e histórias. Nativa da Ásia, ela é conhecida como a árvore do dinheiro. Existe um conto de que o imperador colhia os frutos da árvore diante de todos, abria-os e retirava as patacas (moedas) do seu interior. Dessa forma, era comum dizer que o dinheiro nascia em árvores.

    Foto: Divulgação

    O Museu Imperial fica na Rua da Imperatriz, nº 220, Centro. A visitação aos jardins pode ser realizada de terça a domingo, das 7h às 18h (fechamento dos portões às 17h15). O Museu desenvolve, ainda, projetos educativos com visitas guiadas. 

    Ali perto do Museu imperial,  o visitante tem a oportunidade de visitar uma das propriedades históricas mais importantes da cidade. Na varanda da Casa da Princesa Isabel, em frente a um belíssimo jardim, foi registrada, poucos dias antes da Proclamação da República, uma das últimas imagens da Família Imperial no Brasil. 

    Os jardins, ornamentados por camélias brancas, pessoalmente plantadas pela Princesa Isabel, trazem não apenas a simplicidade, própria dessa figura emblemática da Família Imperial, mas representam um compromisso com os ideais abolicionistas, adicionando uma camada repleta de significado à propriedade, sob a administração da Cia. Imobiliária de Petrópolis.

    Foto: Divulgação/PMP

    Atualmente, além de sua função como residência histórica, a casa é utilizada para exposições, eventos e concertos, inclusive nos jardins, contribuindo para a preservação e promoção da herança cultural da cidade. Tanto a casa quanto seus jardins, incluindo as camélias brancas, são tombados pelo IPHAN. 

    Na Avenida Ipiranga, o passeio pelos jardins da cidade continua. Dessa vez, na Casa de Petrópolis Instituto de Cultura, que representa a preservação arquitetônica e paisagística do século XIX no Brasil. Mantendo suas características originais, tanto na estrutura da residência quanto nos jardins, destaca-se como uma das poucas propriedades que conservam o traçado original concebido pelo botânico e paisagista francês Auguste Glaziou.

    Foto: Giovani Garcia

    Durante o Segundo Reinado no Brasil, havia um interesse na construção de uma identidade nacional, e Glaziou desempenhou um papel significativo nesse quesito. Inspirando-se nos jardins românticos ingleses, ele selecionou plantas nativas brasileiras para compor o paisagismo da propriedade, desafiando a percepção prévia que considerava a vegetação tropical como algo rudimentar. Além disso, o paisagista introduziu espécies de outras regiões, como do Oriente e da América Central, em sintonia com a ideia de um jardim tropical. 

    A Casa de Petrópolis foi idealizada com cuidado e dedicação por José Tavares Guerra, que desejava construir uma residência que o fizesse lembrar da sua vida na Europa. Aos 21 anos, depois de estudar na Alemanha e na Inglaterra, ele retornou ao Brasil com essa finalidade.

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