• Um mundo distópico que não parece se esgotar

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  • 17/11/2023 07:01
    Por Matheus Mans / Estadão

    Oito anos após o último lançamento da série, chega o primeiro “reaproveitamento” da franquia Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. Dirigido por Francis Lawrence, que comandou os outros filmes da saga, o longa tem uma história que se passa cerca de 60 anos antes dos eventos protagonizados por Katniss Everdeen.

    O que surge na tela, na verdade, é a juventude do futuro presidente Snow. Ou seja: é um filme para construir um universo prévio, brincar com as emoções dos fãs mais empolgados e, claro, aproveitar a marca para faturar. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes faz isso e ainda consegue ser bom.

    Lawrence se empenha em manter a essência do ambiente que conhecemos da saga (personagens extravagantes, questionamentos sociais e violência) em cenas de tirar o fôlego. A sequência dos “jogos” que dão título ao filme é a melhor de toda a franquia, com uma violência anárquica que destoa dos outros.

    Há dois pontos centrais, porém, que levam o filme a outro patamar de blockbuster. O primeiro é o roteiro, de Michael Lesslie e Michael Arndt, que conseguem fazer algo raro no cinema comercial: entregar complexidade à personalidade dos personagens. Tirando Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), todos os outros transitam entre o mal e o bem, cinismo e honestidade, as boas e más intenções.

    Naturalmente, nada disso é por acaso: dr. Volumnia Gaul (Viola Davis, irreconhecível) comete atrocidades, mas ao mesmo tempo parece cair em cascas de banana propositalmente para ajudar determinada pessoa; Dean Highbottom (Peter Dinklage) parece execrável, mas mostra seus motivos no final; e Snow, claro, tem tudo para ser o mocinho, mas logo dá o pulo para o lado sombrio.

    O único tropeço surge em Zegler. A futura Branca de Neve não só está muito mal em cena, com de uma artificialidade exagerada, nada envolvente, Suas cenas são as mais deslocadas da narrativa. São várias as sequências musicais com Lucy Gray, que acabam quebrando o ritmo. Pode até ser algo que está no livro de Suzanne Collins, mas não funciona na tela e Grey se torna chatíssima.

    EMOÇÕES

    Apesar disso, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um bom exemplo de como aproveitar as histórias de uma franquia com qualidade. É um filme que, ao longo de 2h40, sabe como passear por emoções e provar que o mundo distópico de Panem tem muito a mostrar. E ainda dá uma sensação de quero mais, algo raríssimo (talvez inédito?) em um filme que insiste em voltar no tempo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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