• Um mês da tragédia: 233 perdas irreparáveis

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  • 15/03/2022 05:00
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    Filhas, pais, mães, avós, primos, amigos, conhecidos, colegas de trabalho, vizinhos. Todo petropolitano conhece alguém que perdeu a vida ou foi afetado diretamente pela chuva do dia 15 de fevereiro. E no dia em que a tragédia completa um mês, cada pessoa atingida vê as consequências de uma forma. Enquanto para uns, parece que nenhum dia se passou, para outros, a sensação é de ter vivido uma eternidade nos últimos 30 dias.

    Imagens de deslizamentos levando casas, de pessoas em cima de ônibus lutando pela vida, de carros indo embora na correnteza e de corpos deixados pela água em ruas que, antes, colecionavam memórias boas, ainda assombram a Cidade Imperial, e parece que isso não vai mudar.

    Pelas ruas, os olhares permanecem tristes, assustados, com um pesar que, mesmo depois de décadas de desastres naturais na região, nunca tinha sido visto. Os traumas de um fim de tarde e início de noite que nunca vai ser esquecido.

    Em elevadores, corredores, bancos de praças e dentro do transporte coletivo, as vidas perdidas ainda são o principal assunto. Nas redes sociais, parentes e amigos continuam revivendo os momentos registrados antes da tragédia, ainda inconformados.

    O luto de quem perdeu alguém querido

    Um dos jovens que perdeu a vida foi o estudante Gabriel Vila Real da Rocha, que tinha 17 anos e ficou conhecido nacionalmente após ter sido divulgado um vídeo, em que ele aparece tentando salvar a própria vida e as de outros passageiros de dois ônibus que foram arrastados pela enxurrada.

    Para Luana Vila Real, mãe do estudante, parece que o tempo ainda não passou. No perfil dela em um aplicativo de troca de mensagens, uma montagem unindo uma foto dela com uma do filho mostra que a vontade de ter Gabriel por perto não diminuiu.

    “Tem horas em que a gente não acredita, e acaba desabando. Ainda é muito recente. Pra quem não teve nenhuma perda, pode parecer que um mês é muito, mas não é. Ainda não voltei a trabalhar, não consegui voltar à rotina”, contou a mãe.

    Ela diz ainda que a filha Gabriela, irmã de Gabriel, está enfrentando problemas no retorno às aulas após a tragédia. “Minha filha tem tido problemas na escola, na adaptação depois de tudo. Como meu filho teve o nome, o rosto muito divulgado, os colegas da escola dela sabe, comentam. Tá muito difícil mesmo”, concluiu Luana.

    A dificuldade de quem ainda não tem para onde ir

    Na contramão, quem perdeu a casa, os pertences e está em abrigo sente que o último mês durou uma eternidade. A recepcionista Luciane Azevedo morava no Morro da Oficina e viu a casa ser levada pelo deslizamento do último dia 15. Ela e a família, com cinco pessoas, estão em um abrigo desde o dia da tragédia.

    “Graças a Deus, não tinha ninguém em casa, então não podemos reclamar muito. Mas infelizmente perdemos tudo, tudo que construímos com muito trabalho. Como não temos outro lugar para ir, estamos no abrigo. Todos estão dando o melhor para acolher todo mundo, mas cada dia aqui parece um ano. Só queria minha casa de volta”, disse Luciane.

    Ela, os pais e dois irmãos ainda não conseguiram o benefício do aluguel social, mas a família já está preocupada com a pouca quantidade de imóveis disponíveis.

    “A gente tá esperando resposta, mas já estamos apreensivos, porque poucos imóveis aceitam o aluguel social e quanto mais demorar, menor vai ser a oferta. Tenho vizinhos que conseguiram o benefício logo após a tragédia e até hoje não conseguiram um lugar para morar”, explicou Luciane.

    Quatro pessoas ainda estão desaparecidas

    Neste primeiro mês, 233 mortes foram confirmadas após o temporal, o maior número de mortos em um desastre natural em Petrópolis. Entre as vítimas, estão 138 mulheres e 95 homens, entre esses 44 menores de idade.

    Quatro pessoas continuam desaparecidas e as buscas estão centralizadas no Morro da Oficina e no leito do Rio Quitandinha, com apoio do Corpo de Bombeiros e voluntários. De acordo com familiares dos desaparecidos, três das pessoas que estão sendo procuradas estavam nos ônibus levados pela enchente.

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