• ‘Um fenômeno só se sustenta se for sincero’, diz Sônia Jardim

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  • 24/12/2022 08:00
    Por Maria Fernanda Rodrigues / Estadão

    Sônia Machado Jardim nasceu em uma casa cheia de livros e escritores, e escolheu a Engenharia. Com 10 anos de experiência na construção civil e achando que já tinha aprendido tudo o que podia naquele emprego, com a primeira filha a caminho e a crise dos 30 batendo, pediu demissão. Era 1988 e ela fez, aqui e ali, consultorias. Nesse momento o pai adoece, depois morre, e ela ouve do irmão mais velho, Sérgio, que não fazia sentido ela não trabalhar na empresa da família. Assim, em 1991, ela começa a chegar à Editora Record (só em 1995 ela ficaria em tempo integral).

    “Isso nunca tinha me passado pela cabeça”, ela comenta hoje, no aniversário de 80 anos da empresa fundada por seu pai, Alfredo Machado. Ela aceitou, mas disse que antes precisava se preparar, e fez mestrado em Administração. Ao longo desses anos, foi diretora financeira e vice-presidente. Com a morte de Sérgio Machado em 2016, ela assumiu a presidência do Grupo Editorial Record – o maior de capital nacional, dono de 14 selos e do livro mais vendido de 2022: É Assim Que Acaba, de Colleen Hoover.

    Ela divide a história da empresa em três fases. “A primeira vai até 1991, com a morte do papai, e é a fase da fundação, quando ele cria os valores que seguimos até hoje. A segunda, de 1991 a 2016, é a da criação do grupo editorial com a aquisição de editoras. Foi uma fase de muito crescimento e precisamos dar uma parada para organizar as coisas”, ela explica.

    A terceira fase, então, é a da arrumação – e ela incluiu a contratação recente de Cassiano Elek Machado, ex-Cosac Naify e ex-Planeta, como diretor editorial – cargo que não existia. Rodrigo Lacerda, ex-Zahar, também chegou recentemente, mas antes, como editor executivo. Uma de suas tarefas é cuidar do catálogo de ficção nacional. Nos últimos anos, a Record perdeu importantes autores para a concorrência. Em 2022, ela recuperou um deles: Carlos Drummond de Andrade.

    Com essa reorganização em andamento desde 2016, e algumas coisas mais claras, a Record passou a investir, a partir de 2019, ainda mais em marketing. Ela entende hoje que seu maior patrimônio são os autores e… os leitores. Somadas todas as redes sociais, o grupo tem 1,2 milhão de seguidores.

    “As regras do jogo mudaram e é importante nos mantermos atualizados. Se hoje essa diferença se faz no TikTok, amanhã pode ser no TokTiK. Precisamos acompanhar tudo. Essa foi a grande revolução dos últimos anos, e nosso investimento em marketing é enorme.”

    FIDELIDADE

    Mas ela sabe que um livro não se faz apenas com a indicação de um influencer ou com uma forte presença da editora nas redes sociais. “Um fenômeno só se sustenta se ele for sincero”, ela diz. Se o livro tiver qualidade – para o seu leitor. E entender esse leitor, dialogar com públicos com interesses tão diversos quanto os livros de seu catálogo – de autores como Graciliano Ramos, Paulo Freire, Ana Maria Gonçalves, Carla Madeira, Anne Frank, Carina Rissi e Colleen Hoover – é o desafio da editora. O outro é acompanhar esse leitor em sua jornada literária, apresentar novos livros e estilos, mantê-lo fiel. Ou melhor, mantê-lo leitor.

    Sônia Jardim acha ótimo que grande parte de seu público seja de jovens leitores. É Rafaela, sua sobrinha, filha de Sérgio, que toca a Galera (a irmã dela, Roberta, cuida do comercial do grupo).

    “É muito bom ver o livro juvenil vendendo muito. Isso significa uma nova geração de leitores vindo aí e vislumbramos a perpetuidade do negócio do livro”, comenta. “Precisamos acompanhar essa pessoa enquanto ela cresce, levá-la para outro selo. Da mesma forma, precisamos apresentar outros autores para os jovens adultos. Por isso essa tentativa de uma segmentação mais correta e organizada.”

    Sônia Jardim comemora que a Record esteja vivendo seu melhor momento. O prejuízo de R$ 18 milhões causado pela Livraria Saraiva, hoje em recuperação judicial, ainda causa revolta, mas ficou no passado. Outro trauma, maior, o sequestro que ela sofreu em 1997 e que durou 27 dias, deixou suas marcas – e a fortaleceu.

    Hoje, aos 66, enquanto volta no tempo e se vê, menina, ajudando o pai a montar as fotonovelas italianas que ele distribuiria ou lendo Luluzinha, Sônia vive plenamente o presente. E, mesmo se dizendo conservadora, dando um passo de cada vez, ela acredita que ainda dá para crescer mais.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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