• Um difícil equilíbrio entre a amizade com Bolsonaro e Doria

  • 07/04/2021 13:05
    Por Pedro Venceslau, Fernando Scheller, Bruno Ribeiro e Cristiane Barbieri / Estadão

    Fundador da Gocil, uma das maiores companhias de segurança privada do Brasil, o empresário Washington Cinel se tornou nos últimos tempos uma espécie de anfitrião das altas esferas de poder do País. Depois de reunir em sua mansão na capital paulista, na semana passada, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), agora ele receberá no mesmo local o presidente Jair Bolsonaro para uma reunião com cerca de 20 empresários, em jantar marcado para as 19h desta quarta-feira, 7.

    A mansão que abrigará o encontro tem história. Além de já ter pertencido à família Ermirio de Moraes – Cinel arrematou o imóvel em um leilão em 2015, depois de anos morando de aluguel no local -, foi lá também que João Doria foi lançado candidato nas prévias do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Doria, hoje governador do Estado, é um dos principais adversários políticos de Bolsonaro.

    Desde a eleição de 2018, Cinel se equilibra entre a antiga amizade com Doria e uma relação cada vez mais estreita com o Palácio do Planalto. O dono da Gocil tentou, inclusive, promover a reconciliação entre os dois, no ano passado, mas não obteve sucesso. A informação é que, hoje, ele estaria mais próximo do presidente da República do que do governador de São Paulo.

    Cinel se aproximou do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que foi um dos idealizadores do evento de hoje. Será o primeiro encontro presencial do PIB com Bolsonaro desde o jantar na casa de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, no fim do ano passado.

    O dono da Gocil levanta a bandeira do bolsonarismo no meio empresarial. Essa “aliança” se consolidou após a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça, em abril do ano passado, quando Cinel integrou comitiva de empresários que viajou a Brasília para se reunir com o presidente em um sinal de solidariedade. Também estavam no grupo Flávio Rocha (Riachuelo), Meyer Nigri (Tecnisa) e Luciano Hang (Havan).

    Washington Cinel é ainda hoje membro do comitê de gestão do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), associação fundada por Doria. A Gocil é fornecedora do Estado de São Paulo ao menos desde o ano de 2010, segundo o portal da Transparência do governo paulista.

    A empresa mantém contratos com as Secretarias de Transportes Metropolitanos, Habitação, Gestão e Governo, sendo encarregada de prover vigilância e segurança de órgãos como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e o complexo do Hospital do Servidor Público Estadual. Só neste ano, entre janeiro e 5 de abril, a empresa recebeu R$ 25,1 milhões do governo em pagamentos pela prestação dos serviços. No ano passado, foram R$ 68 milhões. A empresa não mantém contratos ativos com o governo federal.

    Trajetória

    Depois de ser engraxate em Reginópolis, cidade próxima a Bauru, Washington Cinel entrou na Polícia Militar em 1978. Já a Gocil foi fundada há 36 anos a partir de uma ocorrência policial, segundo ele mesmo costumava contar nos eventos do Lide, onde sempre foi um dos principais oradores. Foi escalado para investigar um atentado contra a afiliada da Rede Globo em Bauru, e acabou contratado para fazer a segurança da emissora.

    Começou o negócio com 7 vigilantes e, hoje, emprega 25 mil funcionários. O faturamento da Gocil, segundo a empresa, foi de R$ 1,2 bilhão em 2019 e 2020. A previsão para 2021, segundo a companhia, é de R$ 1,5 bilhão.

    O emprésário também é dono da Cinel Alimentos, que comprou a Broto Legal, em 2018. Em 2019, conforme o último balanço divulgado, a empresa teve receita de R$ 386 milhões. Cinel disse em entrevistas, à época da aquisição, ter a expectativa de fazer com que o faturamento da empresa chegasse a R$ 2 bilhões até 2023.

    Cinel também é considerado o maior produtor de arroz do Paraguai. É ainda criador de gado, com a Brangus Brasil, e arrenda terras para a produção de cana, próximo a Bauru.

    Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele não quis dar entrevista.

    Quem conhece o empresário afirma que ele sempre circulou pelas esferas de poder, buscando aproximação com políticos de São Paulo desde a década de 1990. No entanto, foi com Doria que ele conseguiu estreitar maiores relações. Em 2015, durante entrevista ao programa Show Business, da Band, à época comandado pelo próprio João Doria, ele declarou: “Sempre fui um cara que primei pelas amizades e relacionamentos”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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