• Um Brinde aos Mestres

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  • 09/09/2018 07:00

    Há poucos meses, as professoras petropolitanas Cintia Chung Marques Corrêa e Soraia Younes Ibrahim lançaram o livro Um Brinde aos Mestres: Crônicas do cotidiano escolar, pela Editora CRV, de Curitiba (PR). É uma obra curtinha, com pouco mais de cem páginas, de leitura leve e bem agradável, mas que nos remete a profundas reflexões sobre o atual estado da educação básica em nosso país. O livro é composto por diversas pequenas histórias e memórias sobre a experiência prática das “autoras, ao longo de vinte cinco anos de trabalho no magistério”, na nossa cidade de Petrópolis.

    A primeira coisa que chama a atenção do leitor é a forma como são apresentadas as histórias e memórias presentes no livro. São crônicas, escritas com muita leveza e esmero, que nos remetem ao estilo de bons cronistas, como Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino. Eu, que já tivera a oportunidade de conhecer o trabalho de memorialista de Cíntia, a partir do seu capítulo “Revivendo as Memórias e Histórias da Escola”, no livro Percursos e Narrativas de Mulheres Professoras (Curitiba: CRV, 2017), tive o imenso prazer, agora, de conhecer o trabalho de cronistas dela e da Soraia. São crônicas que, além do prazer estético e do deleite de uma boa história, trazem-nos importantes reflexões sobre a prática do magistério no Brasil contemporâneo.

    Uma crítica que é comumente feita às faculdades de educação e aos cursos de pedagogia em nosso país, hoje em dia, é o de serem excessivamente teóricos e muito pouco práticos. Em Um Brinde aos Mestres, as autoras parecem querer buscar o caminho oposto: o da reflexão, a partir da prática, em sala de aula e no quotidiano escolar. São histórias que nos apresentam muitos dos problemas vividos por professores, orientadores e diretores de escola em seu trabalho diário. Problemas que vão desde os efeitos de mudanças globais mais amplas, como o da participação feminina cada vez maior no mercado de trabalho, na crônica que abre o livro, “O Tempo em que as Mães Ficavam em Casa”, até situações bem brasileiras (infelizmente) como a violência e a falta de uma estrutura mais ampla de assistência social, que possa ajudar a escola e servir de apoio à falta de uma estrutura familiar saudável.

    A questão familiar está presente na grande maioria das histórias do livro. Como colocam as autoras: “A reeducação familiar é uma necessidade de nossa realidade escolar, uma vez que os parâmetros de comportamento e o modelo de respeito e limites estão demasiadamente deturpados pela própria família, que tenta encobrir, justificando as reações inadequadas dos seus filhos. E a sociedade paga um preço muito caro por isso, especialmente a escola.” A falta de colaboração da família e do Estado são problemas graves e que dificultam sobremaneira que a escola possa cumprir o seu papel.

    O que me anima, porém, é saber que ainda há muitas educadoras e educadores com verdadeira vocação para o magistério, como as professoras Cintia e Soraia, assim como a “tia Ana”, da história “Os Trabalhinhos e a Gaiola do Passarinho” (para mim, uma das mais bonitas e sensíveis histórias do livro) capazes de compreender “a importância da escola como instituição que viabiliza e valoriza o aprimoramento da sensibilidade e do sentimento, e não somente a preocupação com a transmissão de informações e o desenvolvimento da racionalidade.” Em suma, é preciso que a escola se dedique à formação integral do ser humano, e não apenas à sua formação intelectual e/ou técnica. Parabéns à Cintia e à Soraia por cumprirem com louvor esse papel e por serem duas humanistas a se dedicarem à educação em nossa cidade, duas excelentes educadoras!

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