Twitter exclui posts de Bolsonaro por conteúdo contra saúde
Dois vídeos postados na conta oficial do presidente Jair Bolsonaro no Twitter foram excluídos na noite desse domingo (29) por violar as regras da rede social. Nas postagens, o presidente aparece descumprindo orientações do Ministério da Saúde, pedindo que a população volte à vida normal e o comércio seja aberto. A plataforma conta agora com medidas que preveem a exclusão de conteúdos que neguem ou distorçam orientações dos órgãos de saúde em relação ao combate e prevenção ao novo coronavírus.
Em um dos vídeos excluídos, o presidente aparece ao lado de um vendedor de churrasquinho de Taguatinga, que reclamou da paralisação do comércio. No lugar do vídeo, o Twitter disponibiliza um link com as regras da plataforma. O Palácio do Planalto informou que não comentará a decisão da rede social.
Um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pedir, em reunião tensa, que não menosprezasse a gravidade da pandemia do novo coronavírus em suas manifestações públicas, o presidente Jair Bolsonaro foi às ruas na manhã desse domingo (29). Ele visitou vários comércios locais ainda abertos em Brasília e cumprimentou populares. Houve aglomerações para tirar selfies com o presidente. “O povo quer trabalhar. É o que eu tenho falado desde o começo. Vamos tomar cuidado, a partir dos 65 fica em casa”, disse Bolsonaro, que completou 65 anos no dia 21.
Na volta ao Palácio da Alvorada, o presidente afirmou, sem dar detalhes, que estava “com vontade” de baixar um decreto hoje liberando que pessoas de todas as profissões possam trabalhar durante a pandemia, e não só as que fazem serviços essenciais. “O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque. É a vida, todos nós vamos morrer um dia”, disse a jornalistas. “Tem mulher apanhando em casa. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar.”
Mais tarde, em vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente recomendou que “todos os políticos” saiam às ruas para, em sua avaliação, entender a realidade do País. “Estive em Ceilândia e Taguatinga. Fui ver na ponta da linha como está o nosso povo. E em especial os informais, os mais atingidos por essa onda de desemprego. Uma experiência que recomendo a todos os políticos do Brasil”, disse Bolsonaro. Para gravar o vídeo, buscou orientação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Em uma reunião no sábado, como revelou a colunista do Estado Eliane Cantanhêde, Mandetta fez um alerta ao presidente e aos demais ministros: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?” Em outro momento, Mandetta deixou claro que, se o presidente insistisse em ir às ruas, seria obrigado a criticá-lo. E Bolsonaro rebateu que, nesse caso, iria demiti-lo. Depois, em entrevista coletiva, o ministro condenou atos pela abertura do comércio e disse que “os mesmos que fazem carreata vão ficar em casa daqui a duas semanas”.
Procurado ontem para se manifestar sobre o tour do presidente, o Ministério da Saúde respondeu que não comentaria.
A primeira parada de Bolsonaro foi em um posto de combustíveis. Desceu do carro para tirar fotos com frentistas e conversou com populares. Também visitou farmácia, padaria e uma mercearia no Sudoeste. No Hospital das Forças Armadas, conversou com médicos e enfermeiras.
O comboio presidencial ainda passou por Ceilândia e Taguatinga, regiões administrativas do Distrito Federal. Em meio a apoiadores, Bolsonaro afirmou que o desemprego também pode ser uma doença. “O povo tem que trabalhar ou a fome vem aí. O Brasil não pode parar”, disse em um açougue.
Bolsonaro defendeu que sejam tomadas medidas de precaução contra a doença, mas principalmente para idosos e pessoas do grupo de risco. Afirmou que estes casos, em que “a gripe” pode ser mais grave, serão tratados com hidroxicloroquina. O medicamento, porém, ainda não tem sua eficácia comprovada contra o coronavírus.
Apesar de falar em medidas de precaução, Bolsonaro não seguiu todas as recomendações do Ministério da Saúde. O presidente brincou todas as vezes em que populares chegavam para cumprimentar com apertos de mãos, dizendo que “não podia”. Mas ficou em meio a aglomerações para tirar fotos.
Nas redes sociais, o tour de Bolsonaro foi alvo de críticas de deputados. Marcelo Ramos (PL-AM) apontou “clara provocação” a Mandetta. Para Marcelo Freixo (PSOL-RJ), faltou “bom senso”. Paulo Pimenta (PT-RS) chamou Bolsonaro de “Capitão Corona”. Ex-aliado, Alexandre Frota (PSDB-SP) disse que Bolsonaro estaria “espalhando o vírus” por Brasília.
O distanciamento social e o isolamento são medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).