Túnel da Sena Madureira: audiência pública tem confusão e bate-boca
A primeira audiência pública realizada na noite de quinta-feira, 4, sobre o projeto de construção do Túnel da Rua Sena Madureira, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo), foi marcada por confusão e bate-boca, e precisou da intervenção de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Grupos contrários à obra, incluindo vereadores, acusaram a Prefeitura de barrar pessoas que tentavam participar do encontro e alegaram que o espaço do Instituto de Engenharia, na Vila Mariana, onde ocorreu a audiência, era pequeno para sediar o evento.
A Prefeitura afirmou que a participação da população foi livre e que os inscritos tiveram assegurado o direito de manifestação. “O auditório onde ocorreu a audiência comportava 172 pessoas sentadas, além de dois espaços com televisores para transmissão. A reunião também foi transmitida ao vivo pela internet”. De acordo com a Prefeitura, 239 pessoas compareceram à audiência.
Sobre a atuação da GCM, a administração declarou que os agentes agiram de forma preventiva e “sem uso da força”.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram pessoas protestando e erguendo cartazes contra o túnel, que prevê a remoção de famílias que vivem em comunidades do entorno. O complexo viário foi projetado para ligar a Rua Sena Madureira à Avenida Ricardo Jafet.
As gravações também registram a intervenção da GCM, que chegou a formar um cordão de isolamento em frente à mesa dos debatedores. Em meio ao bate-boca, os guardas contiveram o vereador Toninho Vespoli (PSOL). Nas redes sociais, ele acusou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de não saber organizar uma audiência e disse ter sido tratado de forma desrespeitosa.
O vereador Nabil Bonduki (PT), que também esteve no local, afirmou em postagem que “representantes da comunidade Sousa Ramos e muitos moradores da Vila Mariana estavam sendo impedidos de entrar”. “Com presença ostensiva, a Guarda Civil Metropolitana se posicionou de forma a bloquear qualquer contato entre a população e os representantes do governo”, acrescentou.
O parlamentar alegou ainda que parte dos presentes compareceu apenas para apoiar o projeto da Prefeitura e defendeu a realização de um novo debate em local mais apropriado.
“O projeto do túnel não resolve os problemas de trânsito e ainda causa enorme impacto ambiental, exigindo o desmatamento de centenas de árvores e a remoção da comunidade. É urgente mais debate público e técnico, em local maior e com regras claras, para que todos possam se manifestar de forma organizada e civilizada”, declarou.
Uma nova audiência está prevista para a próxima segunda-feira, 8, no pavilhão de eventos do Instituto de Engenharia. “Após a conclusão dessa etapa, as contribuições técnicas recebidas serão analisadas e, em seguida, será publicado o edital para contratação da obra.”
Os túneis da Sena Madureira são um desejo antigo das gestões paulistanas. O projeto é originário da gestão Gilberto Kassab (2006-2012), mas as obras foram embargadas. O custo do empreendimento estava estimado em R$ 531 milhões.
Opositores criticam que a obra vai gerar impactos sociais, ambientais e não vai corrigir os problemas de mobilidade da região.
Segundo a Prefeitura, a obra beneficiará mais de 800 mil pessoas, e os estudos foram revisados para “ampliar os ganhos socioambientais e de mobilidade urbana”. “As árvores serão preservadas e está garantido o atendimento habitacional aos moradores impactados pelo projeto.”
O Ministério Público abriu três inquéritos para investigar a construção do complexo viário. O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a suspensão da construção dos túneis em três oportunidades, todas em caráter liminar e em resposta a cada um dos inquéritos. Em fevereiro, a Prefeitura precisou reiniciar o processo de licitação.