• Tudo é linguagem!

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  • 16/01/2020 12:00

    Já comentei, em outro artigo, sobre o vício de falarmos errado. Na ocasião, abordei o tema pelo viés do contexto social do humor, da gozação, da brincadeira que virou moda. Hoje, devido às polêmicas, tentarei evitar tanto as posições puristas (aquelas que não admitem erro algum) quanto algumas simplistas demais, cujo objetivo é comunicar, isto é, falar e ser entendido.

    É fato indiscutível que a linguagem foi criada para nos comunicarmos com o mundo exterior; para dar sentido a este universo externo; e, ao mesmo tempo, para (re)construirmos todas as realidades existentes e perceptíveis à nossa volta, dentro de nós. É por meio da linguagem que nos reconhecemos como pessoas e partícipes do grupo social e, simultaneamente, somos reconhecidos e aceitos pela sociedade.

    A linguagem faz parte da nossa identidade pessoal e social. Dentro da linguagem existem dois níveis: a linguagem formal, e a informal. A primeira é culta, segue o padrão gramatical estabelecido, toda certinha e bem cuidada, e deve ser usada em situações sociais que exigem maior zelo, mais cerimônia, tais como, discursos e textos oficiais, livros didáticos, técnicos, ambientes de trabalho, entre outros.

    Por outro lado, o nível informal, descontraído e descuidado é ideal para ambientes sociais que exigem maior intimidade entre os participantes, como família e amigos. Nesse nível, existem variedades mais aceitas, por exemplo, o regionalismo, a fala determinada pela idade, pela profissão (jargão) e pelo ambiente social (gírias, e características socioculturais).

    No entanto, se não dominamos os recursos ofertados por nossa língua, estamos fadados à exclusão. Sim, exclusão! Recebemos rótulos, sofremos preconceitos. A linguagem é um cartão de visitas. É nossa identidade. O modo como nos expressamos revela tanto a nossa origem e formação cultural, como também agrega credibilidade. Você confiaria sua vida a um médico que fala e escreve errado? O que pensaria de um professor que fala “isso é para mim ensinar”?

    Ouso afirmar que ensinar todas as possibilidades linguísticas e permitir a liberdade de escolha deveriam ser os principais objetivos do ensino da linguagem no ambiente escolar. Ouvi o professor Evanildo Bechara afirmar, em palestra na Academia Brasileira de Letras, que devemos ser poliglotas em nosso próprio idioma. Isso significa dizer que para cada situação há uma linguagem mais adequada, tal como acontece com as vestimentas e com o comportamento.

    Negar a alguém o direito de conhecer e de utilizar todos os recursos linguísticos possíveis do seu idioma materno não é uma atitude democrática. Assim sendo, aceitar o modo errôneo de falar de populações desfavorecidas sem mostrar-lhes novas maneiras de comunicação é mantê-las excluídas de outros ambientes sociais e longe de oportunidades para alcançarem melhores condições de vida. É condená-las ao cativeiro linguístico e social.

    Os princípios revolucionários de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” passam pelo desenvolvimento e aprimoramento da linguagem. Haja vista a preocupação de D. Pedro II ao criar uma escola de excelência, cujo currículo priorizava o ensino da linguagem, seja pelos idiomas, seja pelas artes, seja pelas ciências. Tudo é linguagem!

    rosinabezerrademello@gmail.com

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