• Tribuna de Petrópolis: o início e a transformação do jornal mais antigo e importante da cidade

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  • 09/10/2022 08:00
    Por Aghata Paredes

    No dia 9 de outubro de 1902, nascia o que viria a ser o mais antigo e importante jornal de Petrópolis. O mais antigo, porque, naquela época, a imprensa local era representada por três veículos: Gazeta de Petrópolis, Cidade de Petrópolis e O Povo, mais tarde, transformado neste jornal – o único dos citados anteriormente que resistiu ao tempo e hoje celebra 120 anos. Inspirada nos sentimentos do bem, da verdade e da justiça, como informado no texto do editorial de 1902, a Tribuna de Petrópolis assumiu desde aquela época o importante compromisso de retratar as questões da sociedade e informar os seus leitores sobre o universo da cultura e do entretenimento na cidade.

    Foto 1: Arquivo Tribuna de Petrópolis
    Foto 2:  Museu Imperial/Ibram/MTur – Sede da Tribuna de Petrópolis na Avenida XV de Novembro. ). Em 1916 , a redação do jornal foi transferida à Rua Marechal Deodoro, número 36, mas só conquistou uma sede definitiva em 1928. A Rua Alencar Lima, número 26. 

    O texto “Nosso objectivo”, datado de 1902, exemplifica a visão da Tribuna de Petrópolis bem como o seu posicionamento: “(…) O facto é que a imprensa entre os povos livres e altivos é arma poderosíssima, bello e reluzente instrumento cirúrgico, capaz de operar milagres em benefício do organismo social ou de nelle causar os maiores desastres, males irreparáveis – conforme os que manejam se achem inspirados nos sentimentos do bem, da verdade e da justiça, em deixar abafar a consciência pela onda de ódio, da ambição e da disputa.” (“O nosso objectivo”, n. 1, 9/10/1902 – Editorial Tribuna de Petrópolis). Assim, foi fundada a Tribuna de Petrópolis, com sede à Avenida XV de Novembro, nº 139.

    O cenário de Petrópolis naquele início do século

    No início do século XX, Petrópolis vivia uma tensão social e política  devido à perda de um importante título conquistado pela cidade, o título de capital do Estado. 

    Por dentro dessa história…

    No dia 05 de janeiro de 1894, foi apresentado ao plenário um projeto transferindo provisoriamente a capital do Estado para Petrópolis:

    “Art. 1º – É transferida provisoriamente para a cidade de Petrópolis a capital do estado.

    § 1.º – A efetiva remoção da sede do governo das repartições públicas e dos seus respectivos empregados deverá realizar-se no mais breve tempo possível, podendo, entretanto, o presidente do estado determinar que continuem em Niterói as repartições que ali puderem permanecer, sem inconveniente para o serviço público e em cujo regime fará as alterações tal motivo se tornarem necessárias.”

    No entanto, foi só no dia 20 de fevereiro do mesmo ano que a cidade passou a ser a capital. Na ocasião da mudança, o prédio da Câmara de Petrópolis era não só a sede do governo municipal, com todas suas repartições, inclusive a biblioteca, como também o fórum e alguns cartórios.

    O título de capital, infelizmente, não durou muito. Grande parte dos legisladores morava no Rio de Janeiro, de onde era muito mais fácil ir a Niterói do que a Petrópolis. O governo, então, resolveu transferir suas sessões para Niterói. A mudança foi autorizada em agosto de 1902, mas só em 20 de junho de 1903, ano seguinte, que isso aconteceu. No entanto, muitos dos funcionários preferiram deixar os empregos e permanecer em Petrópolis.¹

    Foi justamente nesse cenário de perda vivenciado pela cidade que, em 1902, a Tribuna de Petrópolis surgiu. A princípio, o jornal era publicado às quintas e aos domingos. Mais tarde, em 1908, passou a ser o primeiro jornal local publicado diariamente. 

    ¹ FRÓES, José Kopke. Petrópolis, capital do estado. Instituto Histórico de Petrópolis. 

    A Tribuna viveu para contar…

    Já no primeiro ano de jornal, a Tribuna sofreu um golpe contra a liberdade de expressão. Naquela época, foi feita uma denúncia de que um grupo político planejava um ataque à Tribuna de Petrópolis, o que incluía um ataque também à tipografia que realizava as suas impressões. Supostamente, o motivo por trás da ameaça teria sido uma crônica com críticas a uma figura política da época. 

    Francisco de Orleans e Bragança, diretor do jornal, assumiu a direção da instituição na década de 70 e criou o Grupo Tribuna de Petrópolis, dando vida à Rádio Tribuna FM e à Sumaúma, extinta gráfica do grupo. 

    Questionado sobre como começou a sua história com a Tribuna de Petrópolis, ele relembra que tinha 23 anos e cursava economia quando o seu pai, D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, então diretor do jornal, o chamou para ajudar com a contabilidade do jornal. “Naquela época, ele me chamou para ajudá-lo na parte de contas, entre outras coisas. Acabei vindo e estou aqui até hoje. Vi que o jornal começou a funcionar, a crescer… A princípio, a Tribuna era basicamente um jornal de classificados. Nós, então, começamos a aumentar a receita e a tiragem, que chegou a ter quinze mil impressos aos domingos aqui na cidade, e vendíamos muito bem. Daí em diante houve a expansão. Tivemos aqui a chamada Revista Nacional, por exemplo, que era impressa em outro lugar, mas encartada aqui. O jornal foi crescendo e, com o tempo, identificamos que precisávamos ter uma revista própria. Foi quando criamos a Casa & Campo. Para produzi-la, na época, nós montamos a gráfica Sumaúma.”, conta. 

    Foto: Alexandre Carius – Francisco de Orleans e Bragança na extinta gráfica Sumaúma. 

    Em 1985, Francisco conta que saiu um edital de concorrência para uma concessão de Rádio FM em Petrópolis. Naquele ano, a Tribuna participou e venceu a concorrência. Foi quando o jornal passou a contar com sua própria rádio. Alguns anos se passaram, até que ele recebeu uma ligação sobre a venda da Rádio Imperial. “Nós a compramos e ficamos com ela também uns 5 ou 6 anos. Depois, nosso foco ficou voltado para a FM e passamos a Rádio Imperial adiante.”, conta.

    Antes de assumir o jornal, Francisco relembra que o impresso era composto basicamente de classificados e comenta sobre algumas outras mudanças. “A Tribuna de Petrópolis saía, às vezes, com dezesseis páginas e todas elas eram de anúncios. A primeira página tinha uma manchete, duas ou três matérias apenas. Não havia fotografia no jornal, porque antigamente elas eram feitas com clichê de zinco. Nossa impressão naquela época era tipográfica. Então, para fazer uma foto você precisava fazer um clichê. A revelação era feita em cima de uma chapa de zinco e as máquinas faziam bastante calor. Aliás, nós fazíamos isso no Diário de Petrópolis, que sempre foi nosso parceiro. Depois de um tempo passamos a ter a impressão offset, que simplificou muito o processo.”

    Quem entra na sede da Tribuna de Petrópolis encontra, à sua esquerda, uma máquina chamada linotipo. Criada em 1884, em Baltimore, nos Estados Unidos, pelo alemão Ottmar Mergenthaler, a máquina foi considerada um progresso na história das artes gráficas. 

    Foto: Bianca Vieira 

    Classificada por Thomas Edison como a “oitava maravilha do mundo”, a máquina foi aperfeiçoada em 1885. Quem a utilizava era o linotipista, que tinha acesso às barras de liga metálica com matrizes do alfabeto completo. Era a partir delas que o linotipista dava vida aos textos. A Tribuna de Petrópolis adquiriu a novidade, que foi utilizada por 64 anos, em 1928.

    A máquina era composta pelos depósitos de matrizes e pelo teclado, além dos mecanismos de fundição e de distribuição de matrizes. Seu processo reunia as matrizes em uma linha de texto, dava o espaço com o objetivo de alcançar a medida pré-definida e posicionava a linha composta no mecanismo de fundição. Naquela época, o chumbo era utilizado. Depois, ela transferia a imagem dos caracteres das matrizes para uma barra de metal e, por último, devolvia as matrizes às posições originais nos depósitos. Assim, o linotipista poderia utilizá-la novamente. 

    Foto: Bianca Vieira

    A Tribuna de Petrópolis nos dias de hoje

    De lá para cá, inúmeros fatos ocorreram e a Tribuna de Petrópolis viveu para contar todos eles. Desde a assinatura do Tratado de Petrópolis, passando pelas visitas de personalidades ilustres à cidade, até a primeira transmissão da onda de rádio no Brasil. Sem falar na censura à imprensa e as pressões do regime militar. Foram incontáveis acontecimentos. A Tribuna viveu tudo isso. 

    Foto: Bianca Vieira – A transformação da marca ao longo dos anos.

    “Tenho orgulho de tudo o que foi feito até hoje.” 

    Francisco de Orleans e Bragança.

    O jornal vivenciou inúmeros desafios, mas resistiu ao tempo e, ainda hoje, permanece informando com qualidade e compromisso; falando em nome da sociedade; defendendo os interesses do povo; dando voz às pessoas que fazem parte da cidade – principalmente através do canal de denúncias (Whatsapp) – mostrando o lado lúdico do viver em sociedade, especialmente em Petrópolis, na editoria de cultura e lazer, dando um giro sobre o esporte, trazendo opiniões sobre diferentes temas nos blogs e colunas e muito mais. Para isso, foi necessário acompanhar as mudanças sociais e culturais que surgiam. Nesse contexto, a Tribuna realizou ao longo dos anos diversas mudanças, tanto na equipe quanto na estrutura do jornal, com o fim do jornal impresso, em 2020, até chegar ao jornalismo digital. Uma mudança para muitos arriscada, mas necessária. Atualmente, o site da Tribuna de Petrópolis possui uma audiência de 2,6 milhões (visitantes únicos/mês), sendo constantemente acessado por diversos países. 

    “Cada ano que passa fico mais contente. É como se estivéssemos celebrando não o envelhecimento, mas o amadurecimento, a inovação, a reinvenção.”

    Francisco de Orleans e Bragança.

    A Tribuna em uma palavra…

    CREDIBILIDADE.

    Em uma frase…

    O jornal da cidade. 

    Francisco de Orleans e Bragança.

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