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*Atualizado às 11h45 para inclusão do posicionamento da Prefeitura
Recomeço. Este tem sido o desafio das famílias atingidas pela maior tragédia socioambiental de Petrópolis, que completa três anos neste sábado (15). A data ainda traz lembranças dolorosas para o estudante Jonathan Henrique, de 24 anos. Sua família morava na região do Vila Felipe à época, uma das mais atingidas pelas enxurradas. O pai, José Rubens, foi uma das vítimas fatais daquela gigantesca chuva, deixando esposa e filhos, aos 53 anos.
Neste ano, no entanto, a vida concedeu a Jonathan uma maneira diferente de encarar o tenebroso 15 de fevereiro. Seu primeiro filho está prestes a nascer e deve receber o nome de José Henrique, em homenagem ao pai.
“A proximidade do nascimento do meu filho, José Henrique, com a data da tragédia, desperta sentimentos mistos. Sinto uma dor e uma saudade pela perda do meu pai, mas também uma esperança renovada com a chegada de uma nova vida. É como se a vida estivesse me presenteando com uma oportunidade de recomeço, trazendo luz em meio à escuridão”, disse.
“É como se a vida estivesse me presenteando com uma oportunidade de recomeço, trazendo luz em meio à escuridão”.
Jonathan Henrique, 24, ao refletir sobre a possibilidade da chegada de seu primeiro filho próximo a data em que perdeu o pai.
“Desde o momento em que soube que seria pai, pensei em uma forma de manter viva a memória do meu pai, José Rubens. Ele foi um homem incrível, que me ensinou sobre força, caráter e empatia. Dar o nome de José ao meu filho é uma maneira de trazer esses valores para a nova geração da minha família. Meu filho vai carregar o nome de um homem que foi um exemplo para mim, e isso me traz paz”, contou.
A tragédia
A chuva de 15 de fevereiro deixou 235 mortos em deslizamentos e enxurradas, com imagens que são difíceis de esquecer. Bairros inteiros, como o Vila Felipe, foram devastados. No Centro Histórico, a inundação atingiu níveis recordes, chegando até a dois metros de altura em algumas localidades. Choveu, em apenas seis horas, 259 milímetros, enquanto o esperado para todo o mês era 238 mm.
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“Aquele dia não foi fácil e ficou guardado na minha memória por muitas coisas que tive que passar e superar. Perder meu pai e ter que seguir em frente é difícil até hoje, mas também lembro do cuidado que Deus teve com muitas famílias, da empatia das pessoas que se ajudaram, levando comida, dando auxílio para transportar as coisas na lama”, relatou Jonathan.
Dificuldades do recomeço
A casa da família continua interditada e perdeu o acesso principal com a enxurrada. Como a Tribuna mostrou no ano passado, a família também enfrentou furtos na residência. Agora, a preocupação é com as obras, que afirmam estar sem ligação de esgoto e já com problemas no asfalto.
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A mudança de casa também influencia no desafio do recomeço. Jonathan aponta que não é fácil deixar para trás a casa onde foram construídas tantas memórias e a adaptação a uma nova realidade.
“Mas, ao longo desses três anos, aprendi que seguir em frente não significa esquecer, mas sim encontrar novos motivos para continuar. Não é fácil, tem dias que as lembranças de como tudo era, lembranças sobre meu pai sempre vem à mente. Não tem como evitar, mas acredito que nós somos a continuação dos sonhos das pessoas que se foram, isso me dá forças para continuar. Deus tem uma nova história, novos planos, e isso me dá forças para continuar seguindo em frente, mesmo com a saudade. Meu filho e minha família também me dão forças para continuar”, afirmou.
“Ao longo desses três anos, aprendi que seguir em frente não significa esquecer, mas sim, encontrar novos motivos para continuar”.
Jonathan Henrique, 24, que perdeu o pai na tragédia de 15 de fevereiro.
A cidade que tenta recomeçar
A atual gestão da Prefeitura informou que obras em andamento ou concluídas vem sendo vistoriadas pela secretaria de Obras desde o dia 1 janeiro. Atualmente, sete obras seguem em andamento e outras 11 já possuem projetos e estão aguardando captação de recursos junto às linhas de crédito do Governo Federal para que seja aberto o processo de licitação. As obras em andamento seguem dentro do cronograma estabelecido com as empresas contratadas. Dois atos de memória às vítimas da tragédia foram realizados na manhã desta sexta-feira (14).
Nesta sexta-feira (14), na Casa dos Conselhos, foi entregue ao prefeito Hingo Hammes a ‘Carta de Petrópolis’. O documento foi redigido a partir dos diálogos do Pensar Petrópolis, organizados pelo Projeto Morte Zero, do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), e pela Sociedade de Engenheiros e Arquitetos (SEAERJ), e consolida prioridades e propostas para mitigar os impactos das mudanças climáticas na cidade.
Petrópolis possui 72.070 mil pessoas morando em áreas de vulnerabilidade e risco, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e é apontada pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) como a cidade com a maior suscetibilidade para inundações e deslizamentos de encostas do país.
“O projeto Pensar Petrópolis surge da necessidade de unir moradores, técnicos e servidores públicos em um debate dialógico, que visa a integração dos diversos entendimentos, permitindo uma reorientação e organização das ações prioritárias para a minimização dos riscos e impactos provenientes das chuvas de verão. É um ato de resistência e ao mesmo tempo de assunção de compromissos por aqueles que vivem, trabalham ou, de alguma forma, colaboram para uma cidade mais segura, saudável e sustentável”, refletiu Denise Tarin, Procuradora de Justiça do MPRJ, idealizadora do Pensar Petrópolis e do Projeto Morte Zero.
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