Trem turístico entre Nogueira e Itaipava deve custar R$ 25 milhões
Há ainda outros dois projetos: um ligando o Rio a Petrópolis e outro com bondes no Centro e em Cascatinha
O turismo de Petrópolis vive um momento de extrema necessidade de novas alternativas para movimentar o setor, em especial em meio a anúncios de atrativos em todo o Estado, mostrando que a cidade tem ficado para trás na elaboração de novidades que atraiam turistas. Porém, isso pode mudar com pelo menos três novos projetos ferroviários desenvolvidos Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF). Nesta semana, o projeto mais avançado, que pode ligar Nogueira a Itaipava, foi apresentado à Prefeitura e ao Comitê Gestor do Parque de Exposições, e parece ter sido aprovado pelo poder público. A expectativa é que, sem parcerias, o “Noguita”, como foi chamado, custe R$ 25 milhões.
A reunião do Comitê Gestor do Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes com a AFPF e a Secretaria de Turismo aconteceu na Estação de Nogueira, de onde o trem turístico deve partir.
“Apresentamos (o projeto) para o Comitê e gostaram muito, pois entendem que o parque precisa de inovação para atrair o público muito além dos eventos. A Secretaria também se mostrou interessada em fazer acontecer, e agora queremos mobilizar a comunidade de Petrópolis, porque tem que ter o desejo do petropolitano para acontecer”, explicou o presidente da AFPF, Ricardo Lafayette.
Após a reunião e apresentação do Noguita, a secretária de Turismo destacou, em material enviado pelo governo municipal, o apoio do Comitê do Parque ao projeto.
“Como Turispetro, estamos abertos para debater todo projeto que traga mais inovação e competitividade a Petrópolis. Além disso, o Comitê Gestor do Parque recebeu muito bem esta ideia”, disse a secretária de Turismo, Silvia Guedon.
O presidente da Associação também destaca que as trocas de administração municipal nos últimos anos atrapalharam o andamento do projeto, mas que houve avanços após a formação do novo governo.
“Ficamos prejudicados porque tivemos três prefeitos em três anos de projeto. O governo Rossi foi o que menos apoiou, já no ano passado, com o Hingo, fomos recebidos, o corpo técnico foi colocado para ajudar, mas aí teve a nova troca e, quando tínhamos marcado um encontro com o atual prefeito, aconteceu a tragédia. Agora devemos remarcar esse encontro com o Bomtempo. Nessa administração, conseguimos avançar, pois a secretaria de turismo já era parceira e conhecia o projeto. Retomamos o diálogo e, ela como uma entusiasta, tem nos ajudado bastante”, disse.
A AFPF também tem se reunido com entidades da sociedade civil para apresentar o projeto e o seu impacto na região.
“Estive com associações de moradores de Nogueira e Itaipava, com o Mercossera, Comtur, entre outras entidades, e percebemos que as pessoas estão vendo o quanto o projeto traz melhoria no turismo e na mobilidade urbana. Como entidade, percebemos que a cidade quer se reerguer e está vendo o Noguita como uma boa saída para esse momento. Agora é fazer acontecer”.
Entre as próximas reuniões, estão previstos encontros com a Secretaria de Meio Ambiente e com o prefeito Rubens Bomtempo.
Trem turístico de Miguel Pereira pode ajudar a nortear implementação do Noguita
O presidente da AFPF conta, ainda, que o modelo do “Noguita” é similar ao apresentado à Prefeitura de Miguel Pereira, cidade que está no processo de implantação de um trem turístico de 4,5 km, com capacidade para 80 passageiros.
“Ter esse modelo concluído ajuda a implantar o projeto aqui. Em Miguel Pereira, o projeto foi entregue em 2020, e a partir disso foram montados edital de licitação, escolha de máquinas, tudo isso. Uma cidade com o tamanho de Petrópolis, a mais visitada do interior, tem total condição de ter este tipo de atrativo, mas não recebe esses avanços. O trecho mais viável é entre Nogueira e Itaipava, considerando construções, adaptações necessárias e custos. Um fator importante é que o trem seria um equipamento turístico fora do Centro, traria um atrativo para os distritos, fazendo com que as pessoas visitem os bairros”, destacou Lafayette.
Seriam necessários cerca de R$ 25 milhões para a execução do projeto, mas há propostas para baratear os custos utilizando equipamentos que não estejam mais em operação pelo Estado.
“O trem de Miguel Pereira está sendo viabilizado graças a estudos que barateiam os custos, como utilizar equipamentos soltos pelo Estado. As locomotivas sendo usadas, por exemplo, estavam paradas no Sesc Grussaí, no Norte do Estado. Temos vagões, trilhos e locomotivas sem uso espalhados, então conseguindo esses equipamentos como doações, já diminuímos o custo”, disse o presidente da Associação.
Conheça o projeto
A ideia é reconstruir 3,9 quilômetros da ferrovia, a partir da Praça de Nogueira, na antiga estação, terminando no Parque de Itaipava, em uma nova estação que seria construída. Na praça, seria construído um girador, para o trem fazer a volta, no lugar onde fica o chafariz da praça atualmente. O Obelisco da praça precisaria ser reposicionado e uma cerca de um metro de altura seria implantada.
Na Estação, seria necessário o prolongamento da plataforma; a instalação de uma linha paralela para manobra da locomotiva; construção de área de embarque e desembarque; implantação de bilheteria; banheiros e área técnica; e acessibilidade a portadores de necessidades especiais.
O trajeto continua pela Rua Braz Rossi, no início pelo centro da pista e posteriormente na pista lateral, dividindo o trecho com veículos. O local, no primeiro momento, seria sinalizado por batedores que acompanharão o percurso.
Demolições e reinstalação da ponte férrea
A antiga ponte ferroviária de Bonsucesso, que foi desmontada após a erradicação da linha em 1064, seria reinstalada, para acessar a Estrada União e Indústria, seguindo pelo lado direito da via até chegar ao Parque de Itaipava.
De acordo com o projeto, os pilares originais da ponte ainda estão em perfeito estado, mas uma construção irregular precisaria ser demolida. O posto da Polícia Militar e o ponto de ônibus ao lado precisariam ser realocados para que a ponte seja reinstalada.
O projeto prevê a demolição do DPO do 26º BPM e residências que ficam às margens. (Fotos: Reprodução)
Após a ponte, os trilhos seriam colocados à direita da Estrada União e Indústria (que, por ser uma rodovia intermunicipal, não pode ter trilhos na pista de rolamento), em um espaço médio de três metros, desde a saída da ponte até o Fórum de Itaipava.
Para isso, será necessária a readequação do mobiliário urbano existente, como abrigos de ônibus, postes e partes de imóveis como postos de gasolina e concessionárias.
O acesso ao Parque será garantido pela implantação de um novo sistema viário em Itaipava, com a mudança do sentido dos carros da pista de ida no trecho que, atualmente, opera em mão dupla. A construção de uma ponte Rodoferroviária também será necessária, assim como a adequação do Parque para receber a estrutura.
Bondes elétricos do Centro ao Cascatinha
Um outro projeto confeccionado pela AFPF é a instalação de bondes elétricos na cidade, com pelo menos duas linhas operando, uma que circularia apenas no Centro Histórico e outra que iria do Centro até Cascatinha. Este projeto, segundo o presidente da Associação, não custaria menos de R$ 60 milhões, mas também poderia ser barateado com o reaproveitamento de equipamentos.
“É mais uma vez o caso de reaproveitar o que já tem. No caso dos bondes, há seis bondes novos que foram comprados pelo Estado para substituir os equipamentos de Santa Teresa, no Rio, em um projeto que acabou não avançando. A proposta para os bondes de Petrópolis seria usar esses veículos, que estão parados e em perfeito estado de conservação”, disse Lafayette.
Outra forma de reduzir a conta seria aproveitar o traçado original da linha ferroviária da cidade.
“É difícil reconstruir o trem como era no passado, pois agora há casas, fluxo de veículos, entrada de residências. Por isso, o bonde é mais viável. Quanto ao trilho, se você hoje cavar a Rua Teresa, Rua do Imperador, você encontra os trilhos embaixo do asfalto, pois só foram cobertos. Os postes já existem, já temos as máquinas. É um projeto que pode chegar a R$ 60 milhões, mas o preço cai à medida em que já temos as estruturas”, comentou o presidente da AFPF.
Além disso, os trilhos podem ser usados, também, para modelos de transporte em maior escala, como o VLT que opera na capital fluminense.
“Já discutimos isso com a CPTrans, tudo já foi conversado, inclusive sobre como otimizar o uso dos equipamentos. Por exemplo, um VLT poderia circular no trilho do bonde e vice versa, cada um atendendo à uma demanda”, concluiu Lafayette.
A Linha 1 sairia do Terminal Dona Isabel, na Rua Doutor Sá Earp, e partiria em direção à Catedral São Pedro de Alcântara, cortando o Centro Histórico no trajeto. Já a linha 2 sairia do Centro com direção ao Terminal Cascatinha (passando pela Rua do Túnel e pela Ponte de Ferro), que funcionaria na antiga estação ferroviária, que seria recuperada.
Reativação de trem Rio x Petrópolis custaria R$ 230 milhões
O projeto que parece mais distante de ser concretizado, mas que seria o mais útil à população da cidade, é a reativação da linha ferroviária que liga a baixada fluminense ao Alto da Serra. O “Expresso Imperial” prevê a reinstalação de 7 km de trilhos a partir da Vila Inhomirim, em Magé e custaria em torno de R$ 230 milhões. Dos três projetos da AFPF para Petrópolis, este é considerado o principal em termos de melhoria na mobilidade urbana.
“É o projeto mais complexo e o mais caro, mas prevê um benefício grande. É algo que está parado, porque depende do Estado por ser algo de grandes proporções e incluir outros municípios. Refazer essa ligação beneficia toda a região”, disse o presidente da AFPF.
Para reduzir os custos, a proposta da Associação é que sejam utilizados trens que, até 2020, operavam na Estrada de Ferro Corcovado.
“Para operar em um trecho como esse, o trem precisa ter um tipo específico de trilhos, para descer com cuidado, que é a mesma tecnologia usada no trem do Corcovado. Em 2020, os seis trens da linha (que são duplos, totalizando 12 carros) foram trocados, e os antigos, que ainda funcionam, estão guardados em um galpão. Nossa sugestão é reaproveitar esse material e colocar em operação”, concluiu Lafayette.