• Travessia entre São Sebastião e Ilhabela leva 6h; comércio teme desabastecimento

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  • 29/09/2023 20:17
    Por José Maria Tomazela / Estadão

    Moradores e turistas relatam demora de até seis horas para fazer a travessia de balsa entre São Sebastião e Ilhabela, um dos principais destinos turísticos do Estado, no litoral norte de São Paulo. Nesta sexta-feira, 29, cinco balsas estavam paradas para manutenção ou reforma e apenas duas operavam a travessia.

    Conforme a Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela (ACEI), a precariedade de serviço já causa desabastecimento e coloca em risco o turismo na alta temporada que se aproxima. A secretária estadual de Infraestrutura, Meio Ambiente e Logística do Estado (Semil), Natália Resende, vai à região neste sábado, 30, para verificar o problema e anunciar medidas.

    Dono de um restaurante no extremo norte da ilha, o morador Diogo Jabaquara conta que é comum esperar duas horas para uma travessia que antes era feita em 30 minutos. Na noite de quarta para quinta-feira, 28, porém, ele conta que viveu uma situação surreal.

    “Embarquei às 22 horas e a balsa só saiu às 8 da manhã. Realmente, chovia e havia muitas ondas, mas por volta das 3 da manhã o mar já havia serenado. Os pedestres todos dormiram no catamarã e, no dia seguinte, tiveram que passar para a balsa porque o catamarã teve problema”, relatou. Dormir na embarcação para esperar a travessia virou até motivo de memes em redes sociais.

    Um abaixo assinado lançado esta semana pela ACEI e pelo Movimento Somos Ilhabela conseguiu 5 mil assinaturas em 36 horas. O texto lembrou que o único acesso a Ilhabela é o mar e que as filas de espera de até seis horas para embarque na balsa penalizam moradores e turistas, além de causar transtornos em todos os setores da economia, com o desabastecimento e o cancelamento de hospedagens.

    O documento, endossado pela Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, foi enviado à Câmara Municipal e a órgãos do governo estadual.

    A presidente da ACEI, Heloiza Lacerda Franco, disse que, além de várias balsas fora de operação, os atracadouros são precários e obrigam a frequentes paralisações no serviço por motivo de segurança. “Ontem (quinta, 28), eu tinha uma reunião às 15 horas em Caraguatatuba e peguei a fila de prioridade ao meio-dia, pois tenho 65 anos. Como vi que a fila não andava, deixei o carro, fiz a travessia de catamarã como pedestre, e peguei um uber em São Sebastião. Quando retornei, às 17 horas, as pessoas que estavam na fila comigo ainda não tinham conseguido embarcar. Deu cinco horas de espera na fila da prioridade, que é mais rápida”, contou.

    A atendente de farmácia Tais Nogueira, que mora em São Sebastião e pega a balsa todo dia para trabalhar em Ilhabela, disse que até o serviço para pedestres está mais lento. Taís evita ir de carro para o trabalho e muitas vezes precisa pegar ônibus em Ilhabela. Ela disse que uma colega teve de dormir no carro porque não conseguiu atravessar. “Depois disso, já tiveram três dias que ela deixou o carro estacionado em Ilhabela e foi como pedestre, devido às filas imensas para pegar a balsa”, contou.

    Donos de restaurantes e hotéis reclamam da falta de produtos, pois os distribuidores estão se negando a entregar devido à demora na balsa. “A muçarela, por exemplo, as pizzarias têm de retirar em São Sebastião. O próprio DH (Departamento Hidroviário) chegou a pedir para caminhões com hortifrútis não entrarem na fila pelo risco de perder os produtos. Decidimos expor essa situação para que as providências sejam tomadas antes da temporada de verão”, disse.

    O vereador Gabriel Rocha (SD) protocolou denúncia no Ministério Público sobre descumprimento de contrato pela operadora na operação das balsas. “Não é aceitável que opere com apenas duas balsas, quando deveria ter sete em operação”, disse. Segundo ele, motoristas que fazem entregas na cidade com caminhões chegam a esperar 8 horas para a travessia. “É inadmissível o crime que estão cometendo com a população e com a cidade. Se agora está assim, imagine como estará na alta temporada”, afirmou.

    Na tarde desta sexta, a espera era de 3 horas e meia no sentido de Ilhabela e de 3 horas para São Sebastião, segundo o site da operadora. Moradores relataram que a espera era ainda maior. “Chegamos às duas da tarde e, como a fila não andava, desistimos. Vamos tentar a travessia de madrugada”, disse o estudante paulistano Gustavo Reinero, que tinha alugado casa em Ilhabela para passar o fim de semana com amigos.

    A Marinha do Brasil, através da Capitania dos Portos em São Sebastião, informou que as embarcações FB 28 e FB 30 encontram-se paradas para a realização de processo licitatório para serviços de manutenção de grande monta. “A Marinha do Brasil realiza inspeções regularmente, ocasião em que foi constatado que a FB 10, a FB 20 e a FB Valda II estão paradas para manutenção corretiva a fim de retornarem à sua operação normal com a maior brevidade possível”, disse, em nota.

    O MPSP informou que a 1.ª Promotoria de Justiça de Ilhabela instaurou inquérito civil para apurar a “má prestação de serviço público de transporte pelo Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo, o que vem prejudicando os cidadãos de Ilhabela” na travessia entre o município e o continente.

    O MP expediu ofício na última quarta-feira ao DH/Semil requisitando informações sobre as falhas, especialmente sobre as notícias de “notória defasagem entre o tempo estimado para travessia anunciada no sítio eletrônico e aquele efetivamente necessário para o transporte”. Cobrou ainda medidas emergenciais para a normalização do serviço até o feriado prolongado de 12 de outubro.

    A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), informou que a secretária Natália Resende estará em São Sebastião e Ilhabela neste sábado, 30, às 15 horas, para verificar in loco as condições da travessia. Segundo a pasta, que é responsável pelo Departamento Hidroviário, serão anunciadas medidas para agilizar o sistema de travessias do Estado, a fim de mitigar as filas de espera. A secretária estará acompanhada pela diretora-geral do DH, Jamille Consulin.

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