Transtorno na vida das famílias que esperam imóveis do conjunto habitacional do Vicenzo Rivetti
Na última segunda-feira, a Prefeitura anunciou o adiamento da entrega dos primeiros apartamentos do conjunto habitacional do Vicenzo Rivetti. As moradias, que seriam entregues às famílias neste fim de semana, não tiveram as obras concluídas. A Prefeitura informou que o adiamento foi necessário para que as moradias sejam entregues em totais condições para os moradores, garantindo uma maior segurança.
O adiamento foi muito prejudicial para diversas famílias que, aguardando ansiosas pela entrega, já haviam programado a mudança de seus pertences. A alteração no planejamento causou um verdadeiro tumulto na vida de muitas famílias. Elenir Fernandes de Araújo, desempregada de 57 anos, foi uma das pessoas que se programou com sua família. Elenir vive atualmente na Rua Teresa com mais cinco pessoas e informou que essa indecisão vem acontecendo desde o ano passado.“No ano passado, estipularam para a gente três datas. A primeira foi logo no começo do ano, depois adiaram para junho, adiando novamente para dezembro. Nenhuma das três datas foi cumprida. Estamos nesse vai e vem e na expectativa há bastante tempo”, contou.
Elenir disse que “desmontar a casa por completo” se tornou rotina. Ela definiu os adiamentos como verdadeiros baldes de água fria, visto que o planejamento, baseado na data informada, é inevitável. Além disso, contou como a decisão prejudicou seu cotidiano, principalmente no Natal de 2019.
“Você desmonta a casa inteira e fica tudo de cabeça para baixo. Tenho duas crianças com problemas de saúde, então carrego alguns remédios. Nesse monta e desmonta, já perdi bastante coisa. Em dezembro, pensamos que íamos passar o natal em casa e desmontei tudo. Bota isso para cá, joga aquilo fora, faz todo um projeto, mas aí vem o balde de água fria. Depois desse choque, já começa a montagem toda de novo. É impossível não ficar com um tumulto dentro de casa. O quarto da minha filha, por exemplo, está com um amontoado de caixas lotadas. Meu filho está dormindo com o colchão no chão”, relatou.
Outros prejuízos
No caso de dona Elenir, o principal problema foi em relação ao grande tumulto em sua casa. A moradora lamentou que outras famílias tiveram um prejuízo ainda maior, havendo problemas com o aluguel:“Graças a Deus, no meu caso, não tenho problemas com o proprietário do imóvel em que estou hoje. Ele entende minha situação e me ajuda bastante. Fico triste por outras pessoas que tiveram ainda mais prejuízos. Tenho uma amiga que entregou ao proprietário a casa que ela estava e, quando ficou sabendo da notícia, foi atrás dele novamente e o aluguel aumentou mais de R$ 100,00” disse.
Outro ponto citado, que gerou bastante dor de cabeça para as famílias é em relação as matrículas dos filhos nas escolas. A indecisão toma conta dos pais, sem saber onde as crianças estudarão: “Tem muita gente que já matriculou crianças nas escolas das redondezas do Vicenzo Rivetti, mas ainda vão ter que esperar, não sabendo onde seus filhos estudarão, nem quando vão trocar de colégio. No meu caso, eu ainda consegui segurar a vaga dos meus filhos, mas e quem não conseguiu? Como fica?” questionou.
Construtora promete conclusão em março
Segundo o governo municipal, a empresa AB Construtora, responsável pela construção do conjunto habitacional do Vicenzo Rivetti, se comprometeu a finalizar todas as 776 unidades até março. Apesar de confiante para o cumprimento desse prazo, Elenir ainda teme que o serviço não seja concluído.“Na reunião que eu tive com o Prefeito, foi prometido, com certeza, até março, porém, sendo bem sincera, ainda tenho medo que, mais uma vez, o prazo não seja cumprido. Claro que a gente espera que esteja tudo pronto”, disse.
O medo de receber as moradias incompletas é maior que a pressa. Elenir citou o conjunto habitacional da Posse, para falar que é preferível uma pequena extensão do prazo em vez de receber a residência com diversos problemas.“Tomara que resolvam tudo e realmente entreguem tudo pronto. Que não fique igual ao Conjunto Habitacional da Posse, incompleto. Se vai demorar um pouco mais para vir tudo direito, que demore, mas que esteja tudo completo para não termos problemas”, declarou.
Um dos líderes do Movimento do Aluguel Social e Moradia de Petrópolis, Marcos Borges Sagati, de 50 anos, comentou a respeito do caso. De acordo com ele, o não cumprimento do atual prazo de março causará uma revolta muito grande nas famílias, visto que, assim como dito por Elenir, o adiamento atrapalha por completo o planejamento feito e a espera já é longa.
“Para quem já espera isso por anos, mais um mês não fará diferença. Conheço muita gente que estava com tudo pronto para realizar a mudança no dia 2. Se não entregarem até março, pode ter certeza que faremos uma manifestação para cobrar mais ainda nossos direitos”, contou.
Vale lembrar que município informou que fez um aporte de RS 1,5 milhão para que as obras sejam finalizadas dentro do prazo. A Prefeitura foi questionada sobre como tem sido feita a assistência as famílias neste período, e respondeu que a Secretaria de Educação está fazendo um cadastramento sobre o número de crianças em idade escolar – que já estão matriculados em escolas da rede – e que passarão a morar na região do Carangola. O objetivo é reorganizar os espaços da localidade para que os alunos sejam atendidos próximos das suas residências – caso seja o desejo dos pais. Esse trabalho terá continuidade nos próximos dias. Até a mudança, as crianças continuarão estudando nas escolas onde já estão matriculadas, ou seja, a transferência de unidade escolar será feita após a mudança para o Carangola.
Em relação aos problemas enfrentados com o aluguel, a Prefeitura disse que na reunião que aconteceu na segunda-feira (27.01) com um grupo de futuros moradores do Vicenzo Rivetti e lideranças de movimentos populares, a Secretaria de Assistência Social se comprometeu a auxiliar as famílias na questão dos prazos de contrato de aluguel de onde elas moram atualmente, para explicar a situação e pedir extensão de prazo.