Trabalho premiado de pesquisadoras do LNCC cria modelo de análise social de contágio da Covid-19 com base nas relações sociais
Um estudo sobre Contágio Social, conduzido pelas pesquisadoras do Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC (unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI), que fica em Petrópolis, Rio de Janeiro, Mariza Ferro e Gabrieli Dutra Silva – coordenado pelo professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Lavras – UFLA, Eric F. de Mello Araújo, simulou diversos cenários para compreender como o comportamento individual frente à pandemia se espalha a partir do indivíduo em sua rede de contatos.
“O estudo, que tem como base a neurociência social, mostra que nossas opiniões, sentimentos e hábitos comportamentais são influenciados pelas pessoas à nossa volta. Um exemplo simples desse fenômeno é o ato de bocejar. Quem nunca viu uma pessoa bocejar e começou a bocejar também? O que acontece é que nosso cérebro tem estruturas próprias que visam copiar a outra pessoa.”, destaca Eric, que pontua ainda que esse processo depende de três fatores: o quanto uma pessoa está aberta a mudanças quando é influenciada por outro, o quão expressivo é um indivíduo sobre suas opiniões, emoções e comportamento, e qual o grau de relacionamento entre os dois indivíduos que estão interagindo mutuamente.
Estudo mostra que intervenções para fortalecer a prática de distanciamento social em 10% da população podem influenciar a taxa de adesão geral em até cerca de 700%
O trabalho simula uma rede de pessoas interconectadas. Cada pessoa da rede tem uma opinião que reflete em seu comportamento de adesão ou não aos protocolos de distanciamento social. Para conectar os indivíduos, considerou-se a homofilia entre eles, isto é, pessoas que pensam de forma similar tendem a se conectar mais. Também foi considerado o impacto das campanhas das agências públicas de saúde na aceleração ou desaceleração do espalhamento do comportamento proposto pela Organização Mundial da Saúde – OMS e Ministério da Saúde durante a pandemia. Todas essas variáveis foram ajustadas de forma a gerar 108 cenários diferentes, e um total de 10.800 simulações. Um dos resultados mais expressivos foi o ganho obtido em toda a rede quando as agências públicas de saúde aumentam o grau de comprometimento em fazer campanhas e informar a população sobre os hábitos e comportamentos importantes para combater o vírus.
“Não avaliamos se a pessoa tem acesso correto à informação. Avaliamos o contágio social, ou seja, como a opinião de uma pessoa influencia na opinião da outra. Usamos como cenário o caso da pandemia, para entender como o espalhamento de opiniões favoráveis à adesão ao distanciamento social pode influenciar na adesão a essas medidas. A expressividade dos influenciadores nessa rede também conta. O grau de influência depende das pessoas que você gosta mais ou menos, cuja conexão é mais forte – como um pai, uma mãe, um marido, uma esposa. Procuramos entender como as pessoas são influenciadas nos cuidados com a saúde, neste caso da pandemia da Covid-19. Esse estudo pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias e programas que convençam as pessoas a seguirem as medidas de prevenção e distanciamento”, explica Mariza.
Estudo premiado na BrasNAM 2020
O trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras do LNCC, em conjunto com o pesquisador da UFLA – Disconnecting for the good: A network-oriented model for social contagion of opinions and social network interventions to increase adherence to social distancing (Desconectando para o bem: um modelo de rede orientada pelo contágio social de opiniões e intervenções em redes sociais para aumentar a adesão ao distanciamento social) foi presentado na nona edição do Brazilian Workshop on Social Network Analysis and Mining – BrasNAM, que conteceu entre os dias 19 e 20 deste mês. Neste ano, o evento integrou o quadragésimo Congresso da Sociedade Brasileira de Computação – CSBC e foi totalmente online.
A pesquisa foi premiada como melhor trabalho da edição deste ano. “O estudo de contágios sociais é muito relevante, pois entender como as pessoas se influenciam no trato da saúde em tempos de pandemia pode auxiliar na criação de programas que melhor informem e convençam as pessoas a tomar os cuidados necessários durante este período”, ressalta Gabrieli.
“Desenvolver um trabalho que traga benefícios para a sociedade em um momento de pandemia como esse é muito gratificante. Esse é o nosso segundo trabalho juntos com o professor Eric da UFLA no enfrentamento da pandemia. E levar o nome do LNCC é sempre um orgulho. Principalmente quando o trabalho é premiado, trazendo um reconhecimento da qualidade dos pesquisadores e trabalhos que são desenvolvidos em nossas instituições de ensino e pesquisa”, avalia Mariza.