• Todos falam de Petrópolis*

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  • 11/03/2020 14:57

    – Fale-me de Petrópolis!” – assim o Imperador D. Pedro II, em seu exílio europeu, abria qualquer conversa com interlocutores que chegavam do Brasil.

    Na gelada Europa, o Imperador D. Pedro II estava envelhecido, sabia que não retornaria mais para sua casa em São Cristóvão ou ao seu recanto mágico de Petrópolis. 

    O monarca, que criara Petrópolis por um decreto imperial, cedendo terras suas para a colonização e criação de um povoado, reservando o foro perpétuo, como era do costume daqueles idos, remanescia o quanto fora feliz naquele vale de modestos altiplanos na serra da Estrela. Recordava – os olhos sempre umedecidos – dos passeios pelas ruas do povoado; em seguida, na cidade que se agigantava de ano para ano, das visitas às escolas e os aromáticos banhos na Casa das Duchas. Alegrava-se quando seus olhos azuis absorviam a visão amena de uma esplendente natureza beijando as janelas do palácio imperial de verão; ainda ouvia a azáfama burburinhante das ruas sob os toldos de um comércio crescente, a edificação de palacetes, a construção de moradias de todos os estilos, o pregão de vendedores de serviços, o cadenciado trotar lento ou apressado das charretes por sobre o úmido leito das ruas. E estendia as mãos para sentir os grossos pingos das águas do verão, sempre diárias, e por alguns minutos copiosas em cascatas. 

    Quase adormecido, vislumbrava o encantador final da tarde em colorido céu e, até, os arcos-íris abundantes; sentia o refresco do calor e o prenúncio de noite de muita paz. Recordava os saraus de leitura ou líteros-musicais, até que o sono descansasse seu espírito de simples e sensível criatura humana. Porém, ainda no leve ressonar parecia ouvir o barulhar do assentamento dos macadames, no dia que passara para os trabalhadores convocados aos serviços de melhorias nas pistas de circulação de veículos; ouvia o resfolegar e chiados das “marias-fumaças” e seus vagões chegando à estação, fumegando os ares, trazendo alegrias e risos abertos na volta ao lar dos viajantes que dividiam a Corte do trabalho com a Serra da quietude. 

    A saudade do imperador remetia as suas lembranças aos rapapés da Corte quando era obrigado a receber notáveis da política nacional e internacional. Abria a casa de Petrópolis ao beija-mão do respeito e da consideração mundial pelo sábio imperador do Novo Mundo. 

    Durante os quase 50 anos de governo, passados em revista no seu pensamento, distante pelo espaço, mas próximos ao amor à terra natal, o velho imperador sorria ao lembrar o encantamento da filha Isabel ao receber do esposo o Palácio de Cristal para que ela pudesse conceber e realizar exposições de flores e frutos pela Associação Hortícola da cidade. 

    “ – Fale-me de Petrópolis!” 

    Ora, senhor D. Pedro II nem precisaria ter pedido que falassem sobre Petrópolis porque sua cidade sempre residiu inteira anelada ao seu coração encorajado pelas belas lembranças e obsequiado pelas mais ternas recordações. 

    E o dia de seu retorno chega e você – permita a intimidade – está em Petrópolis na eternidade da consideração e do respeito de cada visitante de nossa Capela Imperial e cada qual, a jeito próprio, fala e elogia a sua menina dos olhos. 

    Todos falam de Petrópolis! 

    (*) O presente artigo é uma condensação do texto que publiquei no “Anuário Associação Brasileira de Recursos Humanos – RJ, Guia de Informações e Negócios nº 9, para o ano de 2005” e, aqui, homenageia a passagem dos 177 anos da fundação de Petrópolis pelo imperador D. Pedro II.

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