• Tiros e explosões são ouvidos em protestos pela morte de Mahsa Amini no Irã

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  • 10/10/2022 14:39
    Por Associated Press / Estadão

    Os protestos no Irã entraram em sua quarta semana com relatos de tiros e explosões no oeste do país, na região do Curdistão iraniano, onde ativistas também relataram a morte de um homem pelas forças de segurança. Vídeos compartilhados nesta segunda-feira, 10, também sugerem que trabalhadores da indústria petrolífera se juntaram às manifestações, marcando a primeira vez que a agitação ameaça os cofres do governo teocrático.

    Os protestos continuam nas cidades e vilarejos em todo o Irã pela morte de Mahsa Amini, 22 anos, em 16 de setembro após sua prisão pela polícia moral em Teerã. O governo do Irã insiste que Amini não foi maltratada, mas sua família diz que seu corpo apresentava hematomas e outros sinais de espancamento. Vídeos nesta segunda mostraram forças de segurança espancando e empurrando manifestantes, incluindo mulheres que arrancaram o hijab.

    Apesar das autoridades terem bloqueado a internet, imagens continuam surgindo de Teerã e outras cidades do país. Vídeos mostraram algumas mulheres marchando pelas ruas sem lenços na cabeça, enquanto outras confrontaram as autoridades e acenderam fogueiras na rua. As manifestações representam um dos maiores desafios para a teocracia do Irã desde os protestos do Movimento Verde em 2009.

    A violência desta segunda-feira, 10, foi registrada em Sanandaj, capital da província iraniana do Curdistão, bem como na vila de Salas Babajani, perto da fronteira com o Iraque, de acordo com um grupo curdo chamado Organização Hengaw para os Direitos Humanos. Amini era curda e sua morte foi sentida particularmente na região curda do Irã, onde as manifestações começaram em 17 de setembro em seu funeral.

    Hengaw postou imagens que descrevem como fumaça subindo em um bairro em Sanandaj, com o que parecia ser um tiro rápido de rifle ecoando ao fundo. Era possível ouvir gritos das pessoas.

    Não houve pronunciamento imediato se pessoas ficaram feridas na violência. Mais tarde, a organização postou um vídeo do que parecia ser cápsulas coletadas de rifles e espingardas, bem como latas de gás lacrimogêneo usadas.

    Mais mortes relatadas

    As autoridades não ofereceram uma explicação imediata sobre a violência desta segunda em Sanandaj, cerca de 400 km a oeste de Teerã. Esmail Zarei Kousha, governador da província iraniana do Curdistão, alegou, sem fornecer provas, que grupos desconhecidos “conspiraram para matar jovens nas ruas” no sábado, 8, informou a agência de notícias semioficial Fars.

    Kousha também acusou esses grupos não identificados de atirar na cabeça de um jovem e matá-lo – um ataque que ativistas atribuíram às forças de segurança iranianas. Eles dizem que as forças iranianas abriram fogo depois que o homem buzinou para eles. A buzina tornou-se uma das maneiras pelas quais os ativistas têm expressado a desobediência civil – uma ação que levou a cenas em que a polícia de choque quebra os para-brisas de veículos que passam.

    Na vila de Salas Babajani, a cerca de 100 km a sudoeste de Sanandaj, as forças de segurança iranianas atiraram repetidamente em um homem de 22 anos que protestava, que mais tarde morreu devido aos ferimentos, disse Hengaw. Segundo a organização, outras pessoas ficaram feridas no tiroteio.

    Ainda não está claro quantas pessoas foram mortas nas manifestações ou pela repressão das forças de segurança. A televisão estatal afirmou pela última vez que pelo menos 41 pessoas foram mortas nas manifestações em 24 de setembro. Nas mais de duas semanas desde então, não houve atualização do governo do Irã.

    Um grupo com sede em Oslo, o Iran Human Rights, estima que pelo menos 185 pessoas foram mortas. Isso inclui cerca de 90 pessoas mortas em episódios de violência na cidade de Zahedan, no leste do Irã, em meio a manifestações contra um policial acusado de estupro em um caso separado.

    A Anistia Internacional disse que as forças de segurança mataram 66 pessoas em Zahedan em 30 de setembro, e que mais pessoas foram mortas na área em incidentes subsequentes. As autoridades iranianas descreveram a violência de Zahedan como envolvendo separatistas não identificados, sem fornecer detalhes ou evidências.

    Trabalhadores da indústria petrolífera protestam

    Depois que estudantes universitários e secundaristas se destacaram pelo seu papel nos protestos, em que dezenas de universidades entraram em greve e meninas retiraram seus hijabs em escolas, trabalhadores das refinarias de petróleo e gás natural se juntaram aos atos. Há quatro décadas, uma soma de protestos em massa e greve de trabalhadores da indústria petrolífera ajudaram a instalar o governo atual do Irã na revolução contra o xá Reza Pahlavi.

    Vídeos online analisados pela agência Associated Press mostraram dezenas de trabalhadores reunidos nas refinarias em Asaluyeh, cerca de 925 km ao sul da capital, no Golfo Pérsico. O vasto complexo recebe gás natural do enorme campo de gás offshore que o Irã compartilha com o Catar.

    Em um vídeo, os trabalhadores reunidos – alguns com o rosto coberto – cantam “sem vergonha” e “morte ao ditador”. Os cantos têm sido destaques em protestos pela morte de Amini. Outros materiais mostram os trabalhadores reunidos em torno da enorme rede de tanques e recursos industriais, bem como em uma estrada próxima.

    O Irã não reconheceu interrupções nas instalações, embora a agência de notícias semioficial Tasnim tenha descrito o incidente como uma disputa salarial. O Irã é um dos maiores fornecedores de gás natural do mundo, depois dos EUA e da Rússia.

    Enquanto isso, um motim na prisão atingiu a cidade de Rasht matou vários detentos, disse um promotor. Não ficou imediatamente claro se o motim na prisão de Lakan estava ligado aos protestos em andamento, embora Rasht tenha visto manifestações pesadas nas últimas semanas desde a morte de Amini.

    A agência de notícias semioficial Mehr citou o promotor da província de Gilan, Mehdi Fallah Miri, dizendo que “alguns prisioneiros morreram por causa de seus ferimentos quando a eletricidade foi cortada (na prisão) por causa dos danos”. Ele também alegou que os prisioneiros se recusaram a permitir o acesso das autoridades aos feridos. Miri descreveu o motim como uma ala de uma prisão que abriga presos com pena de morte.

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