Tensão externa e dólar fazem Ibovespa tocar mínimas e perder mais de 2 mil pontos
A piora externa e do dólar levou o Ibovespa a perder mais de 2 mil pontos na manhã desta quinta-feira, 14. A busca por ativos considerados menos arriscados prossegue, como retrata o desempenho dos mercados aqui e no exterior. O dólar à vista segue ascendente, tendo já tocado a máxima a R$ 5,975, enquanto o Ibovespa passou dos 77.808,89 pontos, máxima, para a mínima aos 75.696,95 pontos, diante de novas preocupações de investidores com o rumo da economia mundial neste momento de crise por conta do novo coronavírus.
“Lá fora está caindo, então, não tem como o Ibovespa não ceder. O índice em dólar já tem perdas de mais de 3,5%. Com o dólar nesse valor, não tem como melhorar”, descreve um operador. Às 11h20, o Ibovespa caía 2,09%, aos 76.150,55 pontos, enquanto o dólar subia 0,58%, a R$ 5,929.
Os mercados ainda ecoam as palavras pessimistas e de incertezas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, ontem, sobre as perspectivas para a maior economia do planeta. Resumidamente, disse que a recuperação do país pode demorar bem mais que o esperado.
Leia também: Risco país e dólar disparam e Brasil vira economia mais arriscada para investidor
De forma geral, cita a analista Sandra Peres, da Terra Investimentos, Powell avaliou que as condições econômicas estão ruins e podem piorar mais, não vendo espaço para juro negativo, como muitos estão especulando.
Enquanto o governo norte-americano e outras partes do globo sinalizam para a reabertura gradual de suas economias, há temores sobre uma segunda onda de infecção pelo covid-19. No Brasil, não para de subir o total de pessoas contaminadas e daquelas que estão morrendo por causa da doença, ao mesmo tempo em que o presidente da República segue defendendo a retomada de algumas atividades no País. Em São Paulo, cogita-se até mesmo um isolamento social radical, como um lockdown para tentar conter o avanço da pandemia.
“A taxa de isolamento aqui epicentro da doença no País está muito baixa e o risco maior é de um lockdown, o que seria pior”, descreve a analista, mencionando ainda que o investidor continua muito atento às questões políticas. Porém, minimiza que, como ainda não foi divulgado o teor da conversa entre o presidente Jair Bolsonaro e Sergio Moro, com este último acusando o mandatário de interferência na polícia federal quando era ministro da Justiça, isso pode evitar estresse maior no mercado.
Contudo, a aprovação pelo Congresso, ontem, de projeto que autoriza reajuste salarial de até 25% das polícias do Distrito Federal, que tem custo estimado de R$ 505 milhões por ano, pode gerar algum desconforto, diante das preocupações com as contas públicas do País. O texto vai à sanção presidencial, que tem até o dia 27 de maio para vetar o projeto de auxílio emergencial. Para a analista, apesar do reajuste, esta pode ser uma estratégia do governo de tentar adotar um equilíbrio, tentando agradar a algumas categorias e, ao mesmo tempo, ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
Os papéis da Petrobras, que informa balanço após fechamento a Bolsa, cai forte, na faixa de 4% (PN) e perto de 5% (ON), mesmo com alta do petróleo e expectativa de crescimento em seu lucro a acionistas. “No entanto, tem dívida em dólar, que não para de subir”, pondera a fonte.
Além dos temores relacionados à recuperação econômica global, investidores estão temerosos quanto às relações comerciais EUA-China. O presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que o governo de seu país estuda “fortemente” se deve impor regras mais rígidas a empresas chinesas listadas nas bolsas do país. “Além de preocupação com a economia, com a recuperação, a guerra comercial parece que está de volta”, diz o operador.
Nem mesmo dá alívio fala do presidente de Trump sobre medicamento contra o coronavírus. Em seu Twitter, disse que estudos sobre uma vacina contra pandemia o novo coronavírus podem ser finalizados antes do fim do ano. Ele ainda disse que tem recebido “bons números” de estados americanos que estão reabrindo a economia após o período de quarentena.