• Tenho esperança – eles passarão…

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  • 26/02/2016 11:00

    Longe de mim querer estabelecer parâmetros, mas, coincidentemente, o poeta Mário Quintana foi recusado, por três vezes, a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em lugar de outros questionáveis. Foi quando escreveu o célebre “Poeminho do contra” – “Todos esses que aí estão / atravancando meu caminho, / eles passarão, / eu passarinho”. Talvez o poema mais conhecido de Quintana, muito comentado desde a ocasião e muitas interpretações feitas, mas na minha visão e avaliação, eu vejo: "eles passarão" – como qualquer mortal passará; "eu passarinho" – voarei mais alto e me destacarei. Apesar de sua modéstia e singeleza – as pessoas simples, nessas circunstâncias, sabem perfeitamente aquilatar seu valor diante das situações e daqueles que o desprezam – mas sem arrogância e cônscio interiormente.

    Como foi sucinto em suas palavras! Quanta extensão e quanta diversificação de aplicações elas poderão alcançar! Vivemos hoje, rodeados de valores de “fachada”, em todos os sentidos e setores, como os avaliadores da ABL, perniciosos. 

    São pessoas camufladas – “cultas, honestas, inocentes, mas vilipendiadas por seus adversários invejosos e golpistas”. Existem até aqueles “patriotas”, que sucumbem nas avaliações por um passeio de ônibus de luxo, uma nota de 100 “paus”, um refresco e um sanduíche de “mortandela”, e que cumprem suas funções com dignidade e eficiência – honra seja feita – a de protestar por meio de baderna e quebra-quebra do patrimônio alheio.  Afinal, o que eles encontram pelo caminho é o “poder econômico” dos empresários, grandes ou pequenos, que espoliam o povo consumidor. Depois da baderna, muitos vão às suas igrejas, agradecer aos céus a oportunidade de lutar pelos “honestos e eficientes defensores” do país.

    E há situações que, se não fossem de total ignorância, seriam por demais cômicas nos argumentos dos ditos elementos. Na visão deles, os empresários que mantêm o poder econômico e que são os sanguessugas do povo, apesar de geradores de empregos à população, são as ervas daninhas do país. Por outro lado, os jogadores de futebol, os cantores, artistas e outros que tais, que cobram fábulas para se apresentarem ao público fanático, sem gerar empregos, esses merecem o que têm, além da profissão, dos bicos caríssimos que ganham em anúncios. Não os abalam – são seus ídolos.

    Por outro lado, é normal na cultura do brasileiro de levar vantagem em tudo, como está sendo noticiado na imprensa o caso do jogador Neymar que, apesar de receber milhões de reais ainda se acha no direito de burlar o fisco. Assim, usando tudo como parâmetros, vê-se que o povo, independentemente de sua classe social, é desconexado em suas avaliações, numa total ausência de bom senso, sempre usando dois pesos e duas medidas de acordo com suas conveniências sem os devidos embasamentos. Isso, obviamente, sem contar que, quando viajam têm sempre que trazer um suvenir do hotel em que se hospedaram e, no regresso, ostentam-no como um troféu, com grande orgulho.

    Isso é o comportamento cultural do brasileiro, que muito se assemelha ao “modus vivendi” de nossos políticos, tão criticados pela população, mas tão invejados.

    Creio que o comportamento de cada um é formado pela concepção que tem da vida e o peso da espiritualidade que carrega em seu subconsciente. Por isso, diante dos fatos “os que aí estão, atravancando nosso caminho, passarão e nós, passarinhos”.. jrobertogullino@gmail.com


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