• Tenha um doce 2020

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  • 28/12/2019 12:23

    Para se alinhar à realidade das estações, o velho calendário romano de dez meses passou a doze, com ocasional mês extra. Mesmo assim, festas de verão acabavam em pleno inverno. Júlio César reformou o calendário. Dentre outras providências, janeiro – “mês de Janus” -, substituiu março como abertura do ano. Mas permaneceram discrepâncias com as estações. O calendário juliano foi alterado pelo Papa Gregório XIII. Janeiro foi mantido como portal de entrada. Havia uma lógica nisso. Conforme Santo Agostinho, Janus era divindade da mitologia romana “com poder sobre todos os começos, todos os inícios”. Virgílio o cita como o “deus dos portões”. A tradição o considera responsável por transições, representado com uma face voltada para trás, e outra, olhando para a frente, em alegoria de passado/futuro. Embora países, épocas e segmentos de atividade econômica tenham insistido em março, setembro ou dezembro como princípio de seu ano civil, janeiro ao final venceu. Mês batalhador, se isolou como o mês dos começos na maioria dos países. 

    Outras tradições culturais ou religiosas adotam calendários diversos. Neste próximo ano, o ano novo chinês, que será o “ano do rato”, começará em 25 de janeiro. O ano novo judaico – o “Rosh Hashaná” – ocorrerá entre o pôr do sol de 18 de setembro até o anoitecer de 20 de setembro. O ano novo do calendário persa – o “Noruz” -, adotado por, dentre outros, Irã e Afeganistão, ocorrerá em 20 de março. O ano novo islâmico – “primeiro de muharram” será em 20 de agosto. O ano novo dos católicos ortodoxos virá em 14 de janeiro. O dos hindus, conforme a região geográfica e a posição dos astros, poderá ser em primeiro de março, de outubro ou 14 de abril. Há controvérsia no Islã quanto ao ano novo. Alguns entendem se tratar de uma “bidah” (inovação não prevista na religião de Maomé), que por isso não deve ser comemorado. Outras correntes o celebram. Mas, com esta exceção, as demais tradições tratam a passagem do ano como tempo de festa. 

    Na festa, há rituais e celebrações. A maioria com origem pagã ou supersticiosa. Os chineses antigos soltavam fogos para afugentar do novo ano os demônios. Para renovar as energias da casa, móveis e eletrodomésticos são atirados pelas janelas da África do Sul. Em países frios, há a prática do “mergulho do urso polar”, quando entre desejos e pedidos de ano novo, as pessoas mergulham em lagos e rios congelantes. Numa cidade do Chile, as pessoas passam a virada do ano no cemitério. Na Irlanda, contra a má sorte, bate-se um pão na parede. Na Tailândia, com baldes, há uma batalha de água pelas ruas. Na Colômbia, um boneco representando o ano findo é queimado. No Brasil, muitos pulam sete ondas na praia. Na minha família, durante muito tempo, fizemos, após o culto de Ano Novo na igreja, à moda da São Silvestre, a corrida entre os irmãos, pelas ruas que descem do Caxambu até o centro. Há décadas, na minha vida, a virada do ano é momento de oração, com gratidão pelo ano findo e pedido de bençãos pelo ano que chega. 

    Desejo que você, sem crendices ou superstições, à meia-noite entregue a Deus a sua melhor oração. Mas que também jogue fora os “móveis velhos” do seu coração e mergulhe num rio gelado ou entre numa batalha de água, para lavar sua alma. E, acima de tudo, depois deste ano cheio de azedumes e amargores, reproduzindo a linda fala de ano novo dos judeus (“Shaná Tová Umetuká”), desejo que você tenha o mais doce ano novo!

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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