
Tempos modernos
Manhã do dia 13 do mês corrente, eu e minha mulher descemos a Serra de Petrópolis com a finalidade de consulta médica no Rio de Janeiro, bairro de Botafogo.
Já nos aproximando do local onde se tem acesso ao município de Duque de Caxias, deparamos com o trânsito infernal, super congestionado.
Em suma, duas horas e quarenta minutos para que pudéssemos chegar ao final do nosso trajeto, é bem verdade extenuados pelo calor insuportável.
Já no Rio de Janeiro, em busca do endereço que procurávamos, chegamos à entrada do imponente prédio e de imediato tivemos acesso ao 13º andar recebidos por uma atendente extremamente educada que nos informou: o senhor e sua senhora hão que se dirigir ao andar superior onde estão situados os consultórios médicos.
Tão logo fizemos adentrar ao 14º andar, conforme orientação recebida, de pronto percebemos a presença de muitas pessoas vez que o espaço, bastante amplo, abrigava pacientes de vários médicos de diferentes especialidades.
Minha esposa, junto a mim, com gesto de educação, ainda que não conhecêssemos as pessoas que ali se encontravam, mesmo assim dirigindo-se a todos, proferindo “bom dia”.
Percebemos, claramente, que nenhum dos presentes sequer moveu os olhos retribuindo o gesto de minha senhora, pelo menos, “um bom dia” ou “uma boa tarde”, vez que o relógio já marcava quase doze horas.
Diante do ocorrido, coube-nos aguardar que fôssemos chamados e tão logo isso se deu, pudemos perceber que ao nosso redor encontravam-se mais de vinte pessoas, de diferentes idades, aguardando para atendimento.
Foi exatamente nesse interregno que minha mulher, em voz baixa e pausada confidenciou-me: “José Afonso, não é possível que o meu bom dia não haja sido respondido por nenhum dos presentes…!
A seguir, afirmei que deveriam certamente fazer parte do “Clube do Celular”, até porque todos estavam segurando-os, distraindo-se sabe-se lá com quê?
Chamou mesmo a nossa atenção relativamente a uma dessas figuras que com um aparelho às mãos sorria sem que seu olhar fosse dirigido a quaisquer dos presentes.
Em certos momentos, os sorrisos passaram a baixas gargalhadas!
Ainda bem que nada mais assistimos a tal propósito já que nos retiramos daquele salão “esquisito” para a sala do profissional médico.
Terminada a consulta pudemos verificar que o ambiente continuava como antes, incrível que pareça.
Após, decidimos permanecer no Rio de Janeiro por mais algum tempo com objetivo de almoçarmos num restaurante situado no bairro.
De retorno à Petrópolis decidi que iria escrever uma crônica sobre o quadro que vivenciamos por termos nos espantado com a falta de cordialidade das pessoas.
À noite, assistindo televisão, ante as noticias que ouvia, quase que diárias, pude concluir que na realidade o mundo está mesmo é “virando de pernas para o ar”.
Junto à minha esposa, acabamos por entender que vivemos tempos modernos… para o bem e para o mal; o telefone celular veio para ficar, trazendo com ele muita tecnologia que adianta nossas vidas mas, também, muita degradação nas relações humanas.