Teimosia ou perseverança
Conheci diversas pessoas teimosas e dessas crônicas; de longa duração; uma delas era volátil! Convivi, também, com crianças e adultos perseverantes…
Não obstante sutil, há distinção entre uma e outra. Citarei como exemplo a colega de turma aqui denominada Luísa, (nome fictício), ao ilustrar o tema em respeito à individualidade.
Eu concordava com ela. Partindo da premissa de que não devemos cruzar os braços e nem nos assentarmos ao meio fio, o que, à época corresponderia à beira do caminho porque residíamos na zona rural e, a ausência de planos e perspectivas fazia com que muitos se reservassem a acomodação à espera da morte. Era essa a trajetória desenhada a essa amiga de infância. No entanto, a meu ver, ela era perseverante, jamais teimosa. Não era uma pessoa turrona, mas, obstinada.
Neste mesmo fio condutor chego à conclusão de que, também eu, fui um desses tenazes. A colega do curso primário à época alunos das professoras Geny, Alice Maria Gac e Sebastiana do Carmo, a maioria do tempo se portava cabisbaixa como se não fosse bem-vinda ao nosso universo infantil. Notava-se que ela se considerava em segundo plano nas conversas, brincadeiras e até junto à roda de amiguinhos. Não fazia parte da equipe de vôlei, basquete, futebol de salão ou ginástica. Em compensação nos desfiles de Sete de Setembro era ela quem conduzia o Pavilhão Nacional, porque a essa tarefa só os primeiros alunos eram convidados pela direção do colégio. Rose Helene e eu alternávamos a essa honraria junto a Luísa, ora conduzindo o pavilhão ou como guardiães de honra. Vez por outra ela esboçava um sorriso, o jeito meigo e angelical.
Era aplicada, compensava essa distância ao se destacar por boas notas e quando arguida nas avaliações escolares sobressaia para a alegria de uns e perplexidade de outros.
A menina bem que poderia se chamar “verdade”. Muitos faltam a ela. Outros primam por essa virtude. Era sincera e real, ainda o é decorridas sete décadas.
Ao final das aulas, atravessava o asfalto e a linha férrea e embrenhavam-se pela estrada de chão crivada de cascalhos, cruéis, que impiedosos, feriam seus dedos a mostra por uma surrada e desbotada sandália havaiana, sem levar em conta os dejetos até chegar à fazenda rumo a casa edificada na cercania. Residia no imóvel reservado a seus pais que eram colonos.
Ela era tolerante, nem os tropeços, sangue e feridas a impediam de atingir sua meta. Assim cresceu e sedimentou seu objetivo e essa provação serviu a lustrar sua alma e a robustecer seu futuro em rocha firme, colunas bem fundamentadas e seguras.
Segundo Albert Einstein, pensador, cientista, filósofo e célebre físico alemão, uma das mentes mais brilhantes da ciência numa de suas obras pergunta: “Mas, afinal de contas o que é perseverança? A palavra no grego, que se escreve proskartereo, significa “dar continuidade a uma ação após intenso esforço”. Etimologicamente, perseverar é continuar firme e constante no propósito. Conhecemos bons exemplos de pessoas que venceram graças à perseverança. Aliás, os que não faltam, também, são bons filmes nessa direção. Os meus dois favoritos são: “Homens de honra” e “Em busca da felicidade”.”
Ainda que tênue, há diferença entre a perseverança e a teimosia. Enquanto a teimosia é o indício de um caráter prepotente e arrogante, a perseverança demonstra a firmeza de propósitos.
A teimosia pode resultar em sérias consequências, em sua maioria desagradáveis e nocivas. Por que insiste a maioria em algo nocivo cujo resultado negativo é evidente? O discernimento e bom senso devem prevalecer. Você não pode transigir em prejuízo próprio, quanto mais de terceiros.
Ser perseverante é ser persistente, é não desistir nunca. Manter-se firme aos seus intentos. Parafraseio, pois, Santa Teresinha, “Cantarei, cantarei sempre por mais pungentes sejam os espinhos”. Ser perseverante é manter a inarredável fé. As Sagradas Escrituras em vários trechos sua forte ligação evangélica, “seguir Jesus por maiores sejam as tentações e dificuldades” e, jamais, se desviar do bem, puro e justo.
São incontáveis os patriotas não brasonados. Compensavam os calos das mãos e dos pés através do conhecimento, ao invés de se constituir em uma pessoa teimosa, corria, como ainda corre em busca da conquista de seu espaço e alargamento de seus horizontes, tendo como diapasão o provérbio latino ” Gutta cavat lapidem”, ou seja, “A gota de água cava a pedra.” Traduz a ideia do aforismo: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”
Admiro as pessoas dotadas de autoestima, que se valorizam e não desistem de seus ideais. A avaliação subjetiva o coloca no pódio da dignidade, segurança, respeito e confiança, presenças inerentes à personalidade da criatura humana.