• Taleban amplia restrições e força apresentadoras a cobrir o rosto

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  • 23/05/2022 07:20
    Por Estadão

    As apresentadoras das principais redes de televisão afegãs foram ao ar ontem com seus rostos cobertos, cumprindo ordem do Taleban que haviam desafiado na véspera. Desde que voltou ao poder no ano passado, o grupo radical impôs uma série de restrições à sociedade civil, muitas das quais buscam limitar os direitos das mulheres.

    No início do mês, o chefe supremo do Taleban emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público, incluindo o rosto e, de preferência, com a tradicional burca. Antes, bastava um lenço, cobrindo o cabelo. A burca se tornou um símbolo global do regime linha-dura na primeira vez em que controlou o Afeganistão, de 1996 a 2001

    O temido Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício ordenou na quinta-feira que as apresentadoras de televisão também fizessem isso. No sábado, as jornalistas desafiaram a medida e foram ao ar, ao vivo, sem esconder o rosto. Após pressão do Taleban às emissoras, as mulheres usaram ontem véus completos, revelando apenas os olhos e a testa ao apresentar as notícias nos canais TOLOnews, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV.

    “Resistimos e somos contra o uso” do véu integral, disse Sonia Niazi, apresentadora da TOLOnews. “Mas a TOLOnews está sob pressão, eles (os taleban) disseram que qualquer apresentadora na tela sem cobrir o rosto deveria receber outro emprego”, afirmou. “Seguiremos nossa luta usando nossa voz. Serei a voz de outras mulheres afegãs”, prometeu Niazi após apresentar o jornal. “Vamos trabalhar até que o emirado islâmico nos retire do espaço público ou nos obrigue a ficar em casa.” O diretor da TOLOnews, Khpolwak Sapai, disse que o canal foi “obrigado” a aplicar a ordem.

    “Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro”, afirmou, por sua vez, Lima Spesaly, apresentadora da 1TV, alguns minutos antes de entrar no ar com o rosto coberto.

    PROTESTO

    Ao longo do dia, os homens que trabalham nos escritórios da TOLOnews em Cabul vestiram máscaras pretas, como as usadas na prevenção da covid, em solidariedade às apresentadoras. À noite, apresentadores do TOLOnews e da 1TV também foram ao ar usando máscaras pretas.

    O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, afirmou que as autoridades não pretendiam forçar as apresentadoras a deixar o emprego. “Estamos felizes que os canais tenham exercido corretamente sua responsabilidade.”

    Após ter tomado o poder novamente, em agosto, o Taleban indicou inicialmente que pretendia moderar suas posições, ao não anunciar nenhum código de vestimenta para as mulheres. Nas últimas semanas, o grupo fez uma mudança radical que confirmou os piores temores dos ativistas de direitos humanos.

    PUNIÇÕES

    Segundo o decreto do início do mês, as mulheres têm de usar roupas da cabeça aos pés que deixem apenas os olhos visíveis e só devem sair de casa quando necessário. Os parentes do sexo masculino enfrentarão punições por violações do código de vestimenta das mulheres, começando com uma intimação e escalando para audiências judiciais e prisão. Os taleban ordenaram que as mulheres que trabalham no governo sejam demitidas se não cumprirem o novo código de vestimenta. Os funcionários também correm o risco de serem suspensos se suas mulheres ou filhas não acatarem a ordem. Os canais de TV já deixaram de transmitir séries e novelas protagonizadas por mulheres, por ordem do Taleban.

    Em março, uma reviravolta surpreendeu quando o grupo fechou escolas de ensino médio para jovens, revertendo promessas anteriores de que meninas de todas as idades teriam acesso à educação. A medida descontentou a comunidade internacional e levou os EUA a cancelar reuniões planejadas para aliviar a crise financeira do país. Washington e outras nações cortaram a ajuda ao desenvolvimento e aplicaram sanções estritas ao sistema bancário desde que o Taleban tomou Cabul e assumiu o poder, empurrando o Afeganistão para a ruína econômica. (Com agências internacionais).

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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